Portugal precisa de um “cluster” de melhoria do sistema de recolha de resíduos para não ficar em desvantagem

“Sem o plástico não havia uma verdadeira economia circular”. Este foi o ponto de partida para Amaro Reis, diretor-geral da Sacos 88 sublinhar que toda a questão da circularidade, do combate ao desperdício e do reaproveitamento dos resíduos está no ADN das empresas do setor do plástico.

O responsável falou na conferência virtual “Por uma Europa Verde – O Contributo das Empresas Portuguesas”, promovida, na passada quinta-feira, dia 18 de fevereiro, pela CIP (Confederação Empresarial de Portugal), em parceria com a EY-Parthenon.

“Há meia dúzia de anos, se quiséssemos incorporar material reciclado em alguns produtos, era visto pelos clientes com maus olhos”, lembra o responsável para dizer que, hoje em dia, em virtude da “pressão mediática”, a consciencialização da economia circular e o reaproveitamento dos produtos faz com que, “qualquer embalagem ou produto antes de aparecer no mercado” seja alvo de um estudo. Estudo esse que passa, essencialmente, pelo ecodesign e pensado no fim de vida do produto: “Tudo isso fez com que a métrica e os indicadores da circularidade sejam hoje uma realidade”.

Enquanto transformadoras, as empresas do setor do plástico, fazem parte do elo da cadeia, diz o responsável, destacando que o trabalho é feito sempre com o apoio dos clientes, ou seja as grandes entidades ou indústrias, que colocam as embalagens ou produtos no mercado: “Fazemos o trabalho desde a origem da seleção das matérias-primas à demonstração aos clientes, informando sobre o que é que existe no mercado”. E todo o sistema que se está a “incutir”, assim como “as preocupações em todo o processo no desenvolvimento dos produtos na área do plástico” tem que ser feito, segundo Amaro Reis, com “racionalidade, sem demagogia e sem fundamentalismos”, até porque “há a total noção de que é preciso demonstrar que todos os produtos são desenvolvidos e fabricados nesta premissa de economia circular e na incorporação de materiais reciclados”.

Para além do “tempo”, da “investigação e do “desenvolvimento”, Amaro Reis considera que para se duplicar a circularidade é “muito importante” dotar, também, as empresas de “conhecimento” e de “organização”, chamando a atenção para o facto de Portugal viver muito de Pequena e Médias Empresas (PME): “Quando se fala na aposta dos materiais reciclados e na economia circular temos que olhar também para os nosso congéneres europeus e não ficar em desvantagem relativamente a outros operadores”. Isto é, se não se criar um “cluster de melhoria do sistema de recolha de resíduos” de forma a “termos melhores materiais reciclados e matérias-primas mais diversas para aplicação em diversos produtos” há o perigo de Portugal ficar em “desigualdade” com países que possam ter sistemas mais avançados: “Precisamos 40 mil de toneladas de PET reciclado para colocar nas embalagens e se não as tivermos e outros países tiverem vão competitivamente estar à nossa frente e criar problemas às empresas nacionais”, reforça.

Como nota final, o diretor-geral da Sacos 88 considera que todo o sistema e ecossistema tem de ser muito bem pensado com a ajuda de todos: “Não podemos ser peças soltas”. Além disso, atenta, Portugal não é um país rico, pelo que “temos de pensar no equilíbrio da parte ambiental, económica” e, ao mesmo tempo, “sermos responsáveis pelas atitudes que temos”.