A procura global por combustíveis renováveis deverá mais do que duplicar até 2050, em grande parte impulsionada pelos setores marítimo e da aviação. No mesmo período, e num cenário moderado, com pressupostos de procura conservadores, o lucro dos combustíveis renováveis poderá atingir entre 100 mil milhões e 150 mil milhões de dólares, o equivalente a cerca de 4% a 6% do rendimento médio líquido do mercado global de oil&gas nos últimos cinco anos. Estas são algumas das conclusões do novo estudo sobre energias renováveis, publicado pela Bain & Company.
O combustível de aviação será o combustível renovável de crescimento mais rápido, dado que dificilmente existirão soluções alternativas viáveis para a redução de carbono durante, pelo menos, a próxima década, e os Combustíveis Sustentáveis para a Aviação (SAF) desempenharão um papel crítico na descarbonização da indústria. Da mesma forma, os combustíveis renováveis produzidos a partir de resíduos estão bem posicionados para ajudar a descarbonizar o transporte de pesados, de longa distância e público, devido à sua compatibilidade direta com a infraestrutura de diesel existente.
A longo-prazo, a restrição da oferta será o cenário mais provável, com um défice de 15Mtoe/ano entre a matéria-prima disponível e a procura de combustíveis renováveis em 2030.
Eduardo Ferreira de Lemos, líder da prática de Energia da Bain & Company em Portugal, salienta que “o sinal a longo-prazo é claro: o mundo está a mover-se em direção a um futuro mais descarbonizado. O que ainda não é certo é com que ritmo. A oportunidade é evidente e o mercado de combustíveis renováveis está a mover-se rapidamente, com as empresas a apressarem-se para serem as primeiras a mover-se, especialmente com as matérias-primas. Os vencedores serão aqueles que agirem decisivamente para garantir a sua posição antes que a janela de oportunidade se estreite. Ao investir cedo, construir parcerias robustas e alinhar estratégias, os líderes podem construir vantagens competitivas numa indústria pronta para transformar a energia global”.
As incertezas regulatórias, os mercados sobrecarregados de diesel renovável e biodiesel, as dificuldades em garantir matérias-primas e acordos de compra, e as pressões económicas que aumentam os custos de capital e pressionam os retornos dos projetos, provocam uma volatilidade significa a curto-prazo para a maioria das empresas a operar no setor.
Estes fatores adversos produziram resultados mistos em 2024. Algumas grandes empresas de oil & gas suspenderam ou reduziram os investimentos em combustíveis renováveis, e algumas empresas de menor dimensão de combustíveis renováveis enfrentaram falências e cancelamentos de projetos. Entretanto, outras empresas de oil & gas continuaram a avançar com os seus programas de energia de baixo carbono.
Verificou-se também a entrada no mercado de grandes fundos de capital privado, com investimentos consideráveis, como a Mubadala Capital a investir num projeto de biorrefinação no Brasil e a KKR a adquirir uma participação de 25% na empresa de combustíveis renováveis da Eni, Enilive, com uma avaliação superior a 12 mil milhões de dólares.