Projeto de I&D da Sonae Arauco quer apoiar os proprietários florestais na identificação de espécies e proveniências mais rentáveis

A missão da Sonae Arauco assenta em oferecer soluções derivadas de madeira que melhoram a vida das pessoas. Focada neste desígnio, a empresa está  a desenvolver um Projeto de I&D que visa desenvolver e  alavancar o potencial da floresta nacional e ajudar os produtores florestais a aumentarem significativamente a sua produção, contribuindo assim para inverter a tendência de decréscimo da floresta no país.

Em entrevista à Ambiente Magazine, Nuno Calado, wood & sustainability manager da Sonae Arauco, diz que na base deste projeto está um “ensaio com mais de 100 mil sementes de pinheiro-bravo e de pinheiro-radiata”, provenientes de “programas de melhoramento genético, de 136 famílias e diversas proveniências” (Portugal, Espanha, França e Chile), que pretende “testar e comparar o comportamento das plantas em diferentes condições de solo e clima em Portugal”.

A Sonae Arauco, enquanto “player principal” no  desenvolvimento do projeto, recorre também ao seu acionista chileno Arauco que conta com um vasto trabalho de I&D florestal iniciado há dezenas de anos. Enquanto empresa produtora de soluções de madeira, Nuno Calado acredita que a empresa deve ter um “papel ativo” no setor florestal, que é fundamental para a atividade. E esta motivação de investir no “I&D florestal” e de “apoiar os proprietários florestais” na identificação de espécies e proveniências mais rentáveis está também relacionada com o “declínio que temos vindo a assistir na área florestal do nosso país”, que tem “afetado particularmente a fileira do pinho e com consequências no acesso à matéria-prima madeira, que é a base do nosso negócio”, refere. Desta forma, uma das prioridades da empresa é o “desenvolvimento e transferência de conhecimento” para a produção florestal: “Com este projeto pretendemos tornar a gestão florestal mais produtiva e rentável – a espécie certa no local certo -, dinamizar investimento para a floresta e inverter a tendência de défice de matéria-prima em Portugal”. Com esta projeto, inicia-se na Sonae Arauco uma “valorização direta deste ativo natural que está a montante do negócio” mas, completamente, interligado com o mesmo: “É o início de uma cadeia de valor que, no nosso caso, inclui também a integração de resíduos de madeira no nosso ciclo de produção, um exemplo de economia circular”, sustenta.

[blockquote style=”2″]Teremos um total de 27100 plantas plantadas[/blockquote]

Neste momento, os produtores florestais enfrentam um grande desafio que está relacionado com a “baixa produtividade da floresta” e com os “impactos negativos em termos de rentabilidade”, o que acaba por impactar toda a cadeia de valor. Assim, adianta o responsável, este projeto contribui para “dar uma resposta a este problema”, permitindo “aos produtores um acesso fundamentado com resultados científicos a plantas de elevada produtividade”. Ou seja, “passarão ser fornecidas recomendações sobre as espécies e proveniências mais adaptadas e mais rentáveis para diferentes regiões de Portugal”, para que seja possível, num “ambiente de cooperação”, inverter o “declínio do pinheiro na floresta nacional” e, assim, “contribuir para que esta seja mais sustentável e, consequentemente, mais produtiva”, declara.

A primeira fase do projeto decorreu entre julho do ano passado e meados de fevereiro deste ano: “As plantas cresceram no viveiro do Furadouro da Altri Florestal, onde contámos com o apoio e colaboração de uma equipa muito experiente, e que foi essencial para obtermos plantas de ótima qualidade”, explica. Já a segunda fase está a iniciar-se agora e, segundo Nuno Calado, “contemplou um processo de planeamento e organização logística bastante complexo”, como por exemplo, “de forma a conseguirmos assegurar a rastreabilidade das plantas (que planta está em cada local)”, foi necessário “colocar uma etiqueta com um código específico em cada planta – 21600 nesta fase – e controlar toda a plantação”.

Face ao que eram as nossas expectativas iniciais, o balanço é claramente positivo: “Nesta fase já iniciada, os pequenos pinheiros estão a ser plantados em seis locais diferentes, numa área total de 24 hectares, no Centro e no Norte de Portugal, alguns dos quais no âmbito de uma colaboração estabelecida com o ICNF”. De acordo com o responsável, os locais já selecionados, Figueira da Foz, Pombal, Mangualde, Arouca e Ribeira de Pena, representam “diferentes tipologias de solo e clima”, sendo que nessas zonas, “temos solos de areias, de xistos e granitos”, quer em “zonas litorais”, quer em “zonas interiores”, e com “precipitação média que varia entre os 900 mm por ano e os 1800 mm por ano”. Em cada local serão plantadas 3600 plantas do ensaio, adianta, acreditando que o ensaio é também rodeado por um conjunto de plantas, para eliminar o efeito de bordadura: “Teremos, assim, 21600 plantas do ensaio, mais cerca de 5500 plantas de bordadura, totalizando cerca de 27100 plantas”.

[blockquote style=”2″]Desejamos contribuir para apoiar o desenvolvimento da floresta nacional[/blockquote]

Ao longo dos próximos meses, vai ser possível “perceber o desempenho das plantas em cada contexto”, que “variações existem” e “quais irão apresentar melhores desempenhos iniciais”, afirma. Em simultâneo, a empresa já está a preparar a segunda campanha de plantação, onde vão repetir o processo já efetuado: “Teremos de semear mais uma vez cerca de 100 mil sementes, para plantar outra vez cerca de 27 mil plantas, por forma a eliminar o efeito do clima nos resultados”, adianta. Posteriormente, as zonas de ensaios vão também como “áreas de demonstração e de monitorização contínua da produtividade”, esclarece. Depois de se “testar e comparar o comportamento das plantas” em diferentes condições de solo e clima em Portugal, Nuno Calado assegura que haverá condições  para “viabilizar aos produtores florestais em Portugal o acesso a plantas de elevada qualidade genética e produtividade”, contribuindo para um “aumento da rentabilidade da cadeia de valor do pinheiro”.

Com um investimento associado de cerca de 150 mil euros para o primeiro ano de implementação, o futuro deste projeto é visto grande otimismo: “Desejamos contribuir para apoiar o desenvolvimento da floresta nacional, numa abordagem colaborativa com os proprietários florestais que visa o aumento da produtividade e da melhoria da gestão florestal praticada, com impactos positivos diretos na remuneração dos produtores e na criação de cadeias de valor saudáveis”. Sendo a madeira uma “matéria-prima natural, renovável e reciclável”, com uma “capacidade notável de retenção de C02”,  Nuno Calado acredita que para o médio e longo prazo, serão as “soluções naturais”, provenientes da natureza e com características como as da madeira que “permitirão que continuemos a ambicionar um futuro sustentável” para as próximas gerações: “É nossa convicção que a intervenção na preservação e valorização das florestas nacionais é uma obrigação de todas as empresas de base florestal”, remata.