Numa entrevista à Ambiente Magazine, Carlota Calonje, Social Impact Manager, responsável IMG Group, fala um pouco sobre o propósito do projeto Plastic2Prosperity e do papel dos plásticos na sustentabilidade.
Qual é a atividade do IMG Group?
O IMG Group é uma multinacional de gestão familiar, com presença na indústria de polímeros desde 1959, sendo pioneira na extrusão de PET. O Grupo é composto por quatro empresas complementares: a Evertis, produtora de filmes de barreira premium para embalagens alimentares e outras aplicações; a Selenis, especializada em copolímeros especiais para uma ampla gama de utilizações; a Renascis, responsável pelas operações de reciclagem de PET; e a Renewis, dedicada ao fornecimento de energia limpa e à prestação de serviços de redução de carbono. Juntas, estas empresas desempenham um papel fundamental na concretização da nossa estratégia regenerativa.
Qual o papel da sustentabilidade para o grupo?

A sustentabilidade desempenha um papel central e estratégico no Grupo IMG. Num contexto global cada vez mais dinâmico e regulamentado, o Grupo adota uma abordagem proativa, monitorizando e adaptando-se continuamente aos riscos e oportunidades emergentes nesta área. A nossa estratégia de Impact-Driven Regeneration orienta todas as nossas ações, com foco na geração de valor partilhado para as pessoas e para o planeta, através de uma atuação ética, inovadora e regenerativa.
Esta estratégia assenta em quatro prioridades estratégicas — Economia Circular, Ação Climática, Ética & Pessoas, e Impacto Social — que refletem as áreas onde podemos gerar o maior impacto positivo. Estas prioridades estão alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e foram definidas com base em análises de materialidade, escuta ativa das partes interessadas e no alinhamento com os requisitos regulamentares em constante evolução.
No IMG, a análise de materialidade tem sido uma ferramenta essencial para garantir que o nosso foco permanece nos temas mais relevantes do ponto de vista ambiental, social e económico. Em 2025, realizámos uma análise de dupla materialidade – materialidade de impacto e materialidade financeira, reforçando ainda mais a nossa estratégia de longo prazo.
A sustentabilidade, para o Grupo IMG, é também um motor de transformação e inovação. Serve como bússola para as nossas decisões e como catalisador na forma como nos relacionamos com clientes, colaboradores, parceiros e comunidades. É este compromisso com a melhoria contínua, a transparência e a regeneração que define o nosso papel enquanto agentes de mudança.
No que consiste o projeto Plastic2Prosperity?
O programa Plastic2Prosperity é uma iniciativa da rede adaPETation® do grupo IMG que visa transformar os resíduos plásticos numa oportunidade concreta de impacto social positivo e regeneração ambiental. Com um enfoque centrado nos direitos humanos e na igualdade de género, procura gerar impacto sobretudo nos territórios e entre as populações que mais necessitam.
Plastic2Prosperity promove a reciclagem e a circularidade como resposta a necessidades socioeconómicas urgentes, considerando-as ferramentas poderosas para o avanço na promoção dos direitos humanos e da justiça social.
Por outro lado, o programa é uma iniciativa essencialmente colaborativa que procura articular atores-chave — públicos e privados, locais e internacionais — incluido fundações dedicadas à cooperação internacional e empresas especializadas em reciclagem. O seu objetivo é somar forças e conhecimentos, fomentar a aprendizagem mútua e fortalecer o trabalho em equipa, de modo a alcançar o maior impacto possível.
No âmbito deste programa, o primeiro projeto que lançamos é o Bamagreen, uma iniciativa desenvolvida pela organização não governamental Ayuda en Acción, pela Indorama Ventures e pelo IMG Group. Este primeiro projeto tem como objetivo promover a economia circular na zona periurbana de Bamako, no Mali, para melhorar as condições de vida das populações mais vulneráveis, em especial das mulheres deslocadas internas, e demonstrar que a reciclagem pode ser um motor de desenvolvimento.
Onde está a ser implementado?
Nesta primeira fase, o projeto do Plastic2Prosperity está a ser implementado em Bamako, capital do Mali. É nesta cidade que se realiza o primeiro projeto da iniciativa, denominado Bamagreen, que inclui reforço da reciclagem de plásticos, reflorestação e ações de sensibilização ambiental. Este projeto pretende funcionar como piloto, servindo de modelo replicável que poderá ser adaptado e implementado noutras regiões e países com contextos semelhantes onde possamos transformar o problema dos plásticos em oportunidades de desenvolvimento económico e social para as comunidades.
A escolha de Bamako foi orientada, em primeiro lugar, pelas necessidades críticas identificadas no território e nas suas populações, que enfrentam desafios significativos tanto do ponto de vista socioeconómico como ambiental. A decisão foi também sustentada pela ampla experiência da Ayuda en Acción na região e pelos resultados positivos do estudo de viabilidade realizado durante a fase de conceção do projeto, que confirmaram o potencial e a relevância da intervenção neste contexto específico.
Trata-se de uma zona marcada por elevadas carências e por uma insuficiente capacidade de investimento em medidas eficazes de combate às alterações climáticas e de construção de resiliência.
Acreditamos que iniciativas como o Bamagreen podem desempenhar um papel transformador, promovendo soluções locais sustentáveis e gerando impactos positivos a longo prazo para o ambiente e para a população.
Que resultados esperam alcançar com este projeto?
Os resultados esperados incluem beneficiar diretamente 1950 pessoas — 40% das quais mulheres — com empregos dignos e oportunidades económicas, e alcançar mais de 100 000 pessoas com ações de sensibilização ambiental. Também se prevê o reforço da unidade de reciclagem da empresa social ECOBUILD, a implementação de programas de reflorestação e a criação de um modelo de economia circular mais inclusivo e regenerativo.
Como se pode conjugar sustentabilidade, tecnologia e inclusão social?
Conjugar sustentabilidade, tecnologia e inclusão social é possível quando os projetos integram soluções técnicas (como tecnologias de reciclagem) com modelos que valorizam as pessoas, especialmente as mais vulneráveis. Isso significa usar a tecnologia não apenas para tratar resíduos, mas também para criar empregos, formar comunidades, aumentar a consciência ambiental e dar voz a grupos tradicionalmente excluídos nestes países. Isso inclui mulheres, jovens e pessoas deslocadas, integrando-os ativamente na cadeia de valor da reciclagem.
Tudo isso é possível quando os projetos são desenhados colocando as pessoas no centro e conjugando conhecimentos, experiências e expertises com um propósito comum: o bem-estar das pessoas e o desenvolvimento socioeconómico das comunidades mais necessitadas.
Os plásticos são verdadeiramente um “monstro” ambiental, ou é possível tornar este resíduo mais amigo do ambiente?
Os plásticos, em particular as embalagens de PET, desempenham um papel crítico na preservação dos alimentos, garantindo segurança, durabilidade e redução do desperdício alimentar. Além disso, o PET é frequentemente a opção com menor pegada de carbono entre os materiais disponíveis para embalagens, tornando-o uma escolha estratégica tanto do ponto de vista ambiental como funcional. Se os plásticos representam ou não um ‘monstro’ ambiental depende principalmente de como os gerimos. É inegável que, quando geridos de forma inadequada, os plásticos representam um problema ambiental. Por outro lado, é essencial agir na fonte: no Grupo IMG, por exemplo, trabalhamos para incorporar materiais reciclados e de origem bio desde a fase de produção e desenvolvemos produtos totalmente recicláveis.
Mas o mais importante é que todo o sistema funcione de forma coerente: são necessários investimentos contínuos em infraestruturas de reciclagem eficientes, promoção do ecodesign, políticas públicas que fomentem a economia circular e uma cidadania bem informada e empenhada.
Além disso, iniciativas como a Plastic2Prosperity demonstram que os plásticos não só podem ser transformados em novos recursos, como também podem tornar-se uma oportunidade para gerar impacto social positivo. Quando a reciclagem é aliada à inclusão, inovação e desenvolvimento local, o valor criado vai muito além do material.