Região da Madeira dá passos significativos no rumo à sustentabilidade

A sustentabilidade e a preocupação com o meio-ambiente começam a ser, cada vez mais, uma realidade nas empresas e, inclusive, nas regiões. São diversas as ações em prol desta temática que se têm desenvolvido pelo país, envolvendo stakeholders públicos e privados rumo à neutralidade carbónica. A Ambiente Magazine rumou até à Região Autónoma da Madeira para saber o que é que o arquipélago e as empresas têm feito para combater as alterações climáticas e, em simultâneo, reduzir a sua pegada ambiental. Destacamos também quais os desafios a que a região se propôs para combater as emissões de gases de efeito estufa.

Enquanto agência regional, a AREAM (Agência Regional da Energia e Ambiente da Região Autónoma da Madeira) tem a missão de promover a energia sustentável e a proteção do ambiente e, assim, aumentar o conhecimento e divulgar novas soluções e tecnologias mais eficientes e sustentáveis. Filipe Oliveira, presidente do Conselho de Administração, constata que existe uma “crescente consciencialização ambiental” por parte das empresas, em resultado de “requisitos legais e de ações de informação”, mas também pelas “oportunidades de negócio catalisadas”. Algumas empresas encontram, mesmo, “nichos de mercado” nessa área ou “vantagens para as suas estratégias de marketing”. Contudo, há investimentos para reduzir os impactes ambientais que ainda são vistos por algumas como um “custo sem retorno” ou como um “fator pouco relevante para a sua atividade a curto-prazo”. Para o responsável, a economia e a sustentabilidade são dois conceitos indissociáveis, sobretudo em regiões como a Madeira e Porto Santo, onde a qualidade ambiental é um “fator de competitividade importante” face a outros destinos similares: “O mercado tende a valorizar cada vez mais o respeito pelo ambiente e as empresas que não acompanharem ficarão de fora do mercado a médio ou longo prazo”. Filipe Oliveira dá enfase à importância de se criar “mecanismos de justiça económica” para evitar que “os produtos e serviços com baixo desempenho ambiental tenham vantagem competitiva nos preços”, internalizando, de forma significativa, os custos ambientais a curto, médio e longo prazo. E os sistemas de incentivos financeiros aos investimentos nas empresas devem ter critérios de avaliação mais eficazes, para promover a inovação e o desempenho ambiental dos processos.

[blockquote style=”2″]Cuidado redobrado com a gestão de resíduos[/blockquote]

Em 2003, a Empresa de Cervejas da Madeira (ECM) abraçou as Normas Europeias, tendo sido pioneira nacional na Certificação em Qualidade e Ambiente, trabalhando totalmente com vidro retornável no mercado regional: “Em 2020, foram recolhidas 6 mil milhões de garrafas no canal alimentar e evitadas 480 toneladas de CO2”, diz Nuno André Freitas, diretor-geral da ECM. A fabricante e comercializadora de bebidas tem centrado os investimentos na sustentabilidade como é o caso das máquinas de “reverse vending” ou, como Membro do Pacto Português para os Plásticos, na substituição em eventos de copos de plástico de uso único por de plástico reutilizável. Além disto, a ECM instalou um parque solar de 5.000m2 para consumo próprio. São “pequenos passos”, diz o diretor-geral da empresa, que defende uma “forte regulação” que diminua a utilização de embalagens de tara perdida e “incentivos” às empresas que apostem no sustentável. Como “região insular ultraperiférica”, Nuno André Freitas diz que a Madeira tem de ter “cuidado redobrado com a gestão de resíduos”, devido ao possível impacto: “Muitos dos turistas que visitam (a região) procuram o contacto com a Natureza em estado puro”.

[blockquote style=”2″]O sol é ainda pouco massificado no setor[/blockquote]

Desde a sua fundação, em 2007, que a FactorENERGIA sempre se dedicou à eficiência energética e energias renováveis. Enquanto empresa sustentável, investe, desde 2012, em produção de energia renovável e produz muito mais do que poderia alguma vez consumir, destaca Roberto Varela, diretor-geral da empresa.

Para o responsável, não é difícil tornar uma empresa sustentável, até porque a tecnologia existe e continua em constante evolução nesse sentido. Contudo, a “redução da taxa de IRS e segurança social” para quem faz investimentos em prol da redução dos consumos energéticos ou “financiamentos sem juros” para investimento da produção local de energia renovável, seriam incentivos interessantes. No rumo à sustentabilidade, a região tem sido um exemplo e o projeto da estação elevatória da Calheta, que permite “armazenar energia sob a forma de água”, é o que terá maior impacto a curto prazo. Contudo, há um longo caminho a percorrer, nomeadamente no setor residencial que estagnou desde 2014: “O sol é ainda pouco massificado no setor pelo facto do excedente de energia ser ainda valorizado à tarifa do mercado ibérico de energia”, sustenta.

[blockquote style=”2″]O cimento que comercializamos é produzido com uma menor pegada ambiental[/blockquote]

O Grupo Cimentos Madeira é a expressão da Secil na Região, no negócio do cimento, betão e inertes. Para o grupo, é possível compatibilizar a atividade industrial com a proteção ambiental, desde que se integrem princípios de sustentabilidade na gestão quotidiana: “Ou é sustentável ou não é gestão”, decreta João Santos, administrador do grupo Cimentos Madeira. Esta é a máxima que move toda a dinâmica de atuação do grupo: “O cimento que comercializamos é produzido com uma menor pegada ambiental devido à elevada taxa de combustíveis alternativos que são usados nos fornos da Fábrica Secil-Outão, em Setúbal”, afirma, acrescentando que estes serão “ainda mais sustentáveis” depois dum “significativo investimento” que será feito “em breve”.  Para o gestor, as empresas deparam-se com “inúmeras dificuldades” legais, técnicas e comerciais: “É necessário tempo para fazer esta transição de forma justa”, afirma, sendo necessário “apoios ao investimento” para reconversões tecnológicas e formação. Se a Madeira continuar com uma “gestão adaptativa dos seus recursos”, será sustentável: “Têm sabido usar os recursos de forma adequada, mantendo uma boa qualidade ambiental dos seus ecossistemas”. Ainda assim, o responsável afirma que a Região tem pela frente um “desafio exigente”.

[blockquote style=”2″]Falta uma maior integração intersectorial[/blockquote]

A redução da pegada ambiental tem de estar forçosamente associada a um bom desempenho ao nível sociocultural e económico, sendo que este exercício tem de se realizar de uma forma integrada: “Analisar uma performance pela pegada ambiental é uma cisão errada”, afirma Cristina Abreu, CEO da TECAmbiente. Para a responsável da empresa de consultoria na área do ambiente e desenvolvimento, uma entidade deve integrar no seu sistema de gestão interna e processo produtivo, além da dimensão económica, as dimensões ambiental e sociocultural: “As empresas são sustentáveis como resultado dos modelos de negócio e das estratégias adotadas”, sustenta. A responsável afirma que a Madeira tem trabalhado no rumo à sustentabilidade, mas falta “uma maior integração intersectorial que consiga reduzir a compartimentação organizacional e funcional”. Quando comparada com outras regiões, a Madeira difere-se por ser constituída por ilhas de pequenas dimensões com características geográficas e climáticas diferentes. A dimensão reduzida limita a massa crítica e competitividade no mercado global, pelo que as ilhas devem definir modelos de desenvolvimento assentes nos princípios do desenvolvimento sustentável.

[blockquote style=”2″]A consciência ambiental e as boas práticas ambientais são pilares fundamentais[/blockquote]

Quanto aos transportes, a Madeira diferencia-se das restantes regiões devido à “orografia acentuada” com ruas estreitas, traduzindo-se em custos superiores de combustível e manutenção: “É completamente diferente um autocarro percorrer uma autoestrada do que calcorrear as ingremes encostas do Funchal”, afirma Susana Correia, vogal do Conselho de Administração do Grupo Horários do Funchal. Esse tem sido um “grande desafio” para a empresa que tem recorrido à tecnologia, como painéis fotovoltaicos, ao abrigo do projeto europeu “Civita Destinations”, para alimentar as baterias e equipamentos elétricos embarcados, aliviando a carga no alternador e diminuindo os consumos. Para assegurar a atividade da empresa e que os recursos financeiros são aplicados eficientemente, respeitando a sustentabilidade ambiental, é necessário gerir os procedimentos e as matérias que tramitam em decisão de Administração, avaliando individualmente o impacto financeiro e ambiental: “O segredo é balancear corretamente estes dois fatores”. Enquanto empresa sustentável, a Horários do Funchal destaca que a consciência ambiental e as boas práticas ambientais são pilares fundamentais para o futuro da humanidade.

Este artigo foi publicado na edição 87 da Ambiente Magazine.