#Reportagem: É na comunicação de proximidade que o Porto se distingue enquanto cidade verde

Com a premissa de que a pedagogia é sempre a melhor forma para a obtenção de uma cidade mais sustentável e verde, a Porto Ambiente recorre, desde 2019, à sensibilização e à comunicação de proximidade para conseguir as verdadeiras mudanças de comportamento. Diariamente, várias equipas de técnicos de sensibilização percorrem a cidade à procura de infrações às regras de deposição e acondicionamento de resíduos ou de situações de abandono de resíduos na via pública. O objetivo não é punir, mas sim dar novas ferramentas a quem, por desconhecimento ou desleixo, entra em infração.

A Ambiente Magazine foi convidada pela Porto Ambiente para conhecer esta iniciativa inovadora e pioneira: durante uma manhã, acompanhamos estas equipas, conhecemos o seu trabalho e testemunhamos a forma como eles desafiam o tecido empresarial portuense a deixar a cidade mais verde e amiga do ambiente.

Formação com a equipa da loja Amour Glamour by Noivos de Gondomar

“Temos um cuidado especial com o meio ambiente”, garante Jonathan Silva, da loja Amour Glamour by Noivos de Gondomar. Ele e toda a equipa vieram à formação logo de manhã nas instalações da Porto Ambiente, no Porto. Sempre fizeram a separação dos resíduos, mas houve algo que um dia não correu bem: “Uma das nossas colaboradoras não estava tão instruída e colocou alguns indiferenciados no sítio errado. E recebemos a convocatória para fazermos esta formação”, lembra o gerente. No entanto, receber a formação é visto como algo positivo, até porque “tomamos consciência e começamos a separar já em loja”. Toda a equipa veio à formação para que estejam “em sintonia”: “É sempre uma mais-valia ter alguém que nos oriente da melhor forma”, diz.

Aliás, esse é o objetivo destas formações: dar uma orientação, ao mesmo tempo que se dá ferramentas às empresas: “O objetivo é garantir que os estabelecimentos conseguem fazer uma correta gestão de resíduos que produzem dentro de portas”, diz Pedro Vieira, formador da Porto Ambiente, acrescentando que as boas práticas se vão estender para lá das portas das empresas: “Sabendo nós que, falando com os estabelecimentos que são compostos por pessoas, sabemos que pessoalmente vão também adotar essas boas práticas nas suas casas”, sublinha.

As formações também permitem corrigir situações de “insalubridade” junto dos contentores, com equipas no terreno que têm uma abordagem “preventiva”, divulgando e sensibilizando para o cumprimento do Regulamento de Serviço de Gestão de Resíduos Urbanos e Limpeza do Espaço Público no Município do Porto. “Quando detetam alguma falha, eles [as equipas] fazem uma abordagem de maior fiscalização, em que surge esta opção de frequentarem este plano de formação ambiental, com várias sessões, e em que fazemos um acompanhamento mais profundo ao estabelecimento e que trabalhamos em equipa com as empresas para que adotem as tais boas práticas que pretendemos”, explica.

“O setor da restauração é o que apresenta maiores dificuldades de implementação de boas práticas”

A formação surge assim como uma alternativa à coima, fazendo uma “sensibilização mais intensiva e ajudá-los a criar condições” para que façam uma deposição e acondicionamento corretos dos resíduos, descreve Rita Morense, formadora na Porto Ambiente.

Recolha Seletiva de Resíduos

Apesar das equipas de sensibilização terem surgido em 2019, somente durante a pandemia surgiu o plano de formação. Com as empresas mais fragilizadas devido aos encerramentos provocados pelos confinamentos e consequente redução da facturação, “o pagamento de uma coima poderia provocar alguns constrangimentos. Assim, abriu-se aqui a possibilidade de as trazer até nós e conseguir mudar as práticas e mentalidades”, recorda a técnica, que acrescenta que o setor da restauração é o que apresenta maiores dificuldades de implementação de boas práticas, devido ao facto de existirem “estabelecimentos com  cozinhas muito reduzidas”, além da “rotatividade de trabalhadores”. Apesar das falhas acontecerem “um pouco por toda a cidade”, vêem-se melhorias e bons resultados. Os hotéis são um desses exemplos: “Estamos a conseguir com que se criem condições dentro dos quartos, dando a possibilidade ao hóspede de fazer a separação” , exemplifica.

O plano de formação inclui quatro sessões e, no final, se a empresa estiver a cumprir os parâmetros de separação dos resíduos, a Porto Ambiente atribui um certificado à empresa e a cada um dos formandos, ambos com a validade de um ano: “Na última sessão, conseguimos entregar a grande maioria dos certificados e é esse o objetivo”, frisa Pedro Vieira.

YOTEL já faz parte das instituições certificadas

Após dois meses de formação com os 23 elementos da equipa, a unidade hoteleira YOTEL já faz parte do leque de empresas que possuem os “CERTIFICADOS Formação Ambiental” da Porto Ambiente. A criação de um espaço exclusivo para resíduos, a “Casa do Lixo”, onde, através de contentores, se pratica a separação do plástico e embalagens, papel e cartão, vidro, indiferenciados e orgânicos, é um bom exemplo do compromisso do hotel para com a sustentabilidade. Após a verificação do espaço, a equipa da Porto Ambiente fez uma visita à cozinha onde se testemunhou também que a separação dos orgânicos é já uma prática adotada pelos elementos da cozinha do YOTEL.

Entrega de Certificados pela equipa Porto Ambiente ao YOTEL

“Somos uma empresa que tem em comum a missão de fortes índices de sustentabilidade e, nesse sentido, achamos que era importante grande parte da equipa e chefias terem uma formação mais específica, para que estivessem mais sensibilizadas com o impacto da adoção de boas práticas no dia-a-dia a nível laboral”, começa por dizer Manuel Cacrneiro, diretor-geral do YOTEL, destacando que, desde a formação, “conseguimos perceber que, às vezes, pequenas coisas fazem toda a diferença”. A colocação dos contentores de lixo em momentos em que há recolha é uma dessas pequenas coisas: “Tínhamos um problema no exterior com as gaivotas a picaram os sacos do lixo, que acabavam por ficar dispersos na rua. A adoção da mecânica e da comunicação com a equipa relativamente a uma estipulação de horários em que o lixo é colocado lá fora fez com esse problema deixasse de existir”. A isto, soma-se a sensibilização de todos os ativos do hotel, como a importância da separação correta do lixo, que fez também com que se conseguisse reduzir os consumos: “As pessoas perceberam que não era preciso usar duas folhas de papel para limpeza e conseguem utilizar uma, fazendo com que o espaço utilizado para a colocação de sacos de lixo fosse reduzido”, exemplifica.

Assim, após estes dois meses da formação, o balanço não podia ser mais positivo: “Notamos uma equipa mais sensibilizada e, mesmo com os clientes, temos mais informações para lhe transmitir e fazer com que a performance seja muito melhor”, afirma.

“O Porto será sempre melhor, se for um Porto mais verde”

Com a abertura prevista de uma nova unidade em 2024 em Lisboa, Manuel Carneiro assegura que vão aproveitar a formação e transmitir o conhecimento para futuras equipas: “Com a adoção de boas práticas na separação do lixo e ao nível ambiental, percebemos que esta equipa é muito formada e queremos aproveitar esse facto para poder passar esse conhecimentos para futuras equipas”.

“Casa do Lixo” do YOTEL

Apesar de reconhecer que, inicialmente, pode haver sempre “algum receio” na presença da formação, o empresário afirma que, rapidamente, as pessoas perceberam o quão importante é este tipo de ações, até mesmo na adoção de algumas práticas na sua própria casa: “No fundo, o conhecimento que adquirem nesta formação faz com que no dia-a-dia, as pessoas tenham mais cuidado naquilo que é a separação do lixo e o cuidado com o meio-ambiente”.

Como mensagem a todos os empresários portuenses, o diretor-geral do YOTEL deixa um apelo de responsabilidade: “Todos nós, empresários e empresas, temos a responsabilidade daquilo que é a adoção de boas práticas que façam com que a nossa cidade seja mais sustentável e mais verde. Enquanto empresários, temos essa missão de passar às nossas equipas essa mesma importância”. Para Manuel Carneiro, “o Porto será sempre melhor, se for um Porto mais verde e, penso que esta é uma mensagem que deve ser transmitida a todos os agentes da cidade porque é isso que faz com que cidade possa crescer, não só a nível turístico mas, também, económica e ambientalmente”.

Sensibilização Ambiental em números

Desde 2019, registou-se uma queda de cerca de 65% do número de processos de contraordenação, algo que demonstra bem a maior sensibilização das pessoas para a temática.

  • Número de ações de sensibilização realizadas:

2019 (1537); 2020 (1387); 2021 (1541); 2022 (1750)

  • Número de Processos de Contraordenação instaurados:

2019 (166); 2020 (111); 2021 (44); 2022 (63)

  • Taxa de Sucesso da Formação Ambiental (Anual) (%):

2021 (71%); 2022 (86%)

  • Dados de horas de formação:

Em 2022, foram mais de 100 estabelecimentos (103), num total de 387 formandos e 289 horas de formação ministradas. Em  2023, até à data, foram registadas 158 horas de formação, contando com a participação de cerca de 170 formandos.

Foto: Filipa Brito da CM do Porto