Reportagem: Unidade de Valorização de Resíduos representa “mudança de paradigma da operação” da Resulima

“Um projeto ambicioso que coloca a Resulima num patamar de excelência ao nível da valorização de resíduos, alterando o paradigma da gestão dos mesmos e que permitirá o crescimento da empresa nas diferentes valências que permitem responder aos desafios comunitários da presente década”. Esta é a descrição que Rui Silva, administrador da Resulima, faz sobre a nova Unidade de Valorização de Resíduos instalada em Paradela, Barcelos. A unidade implicou um investimento de 30 milhões de euros e encontra-se, atualmente, em fase de exploração e em contínua otimização do processo produtivo.

Rui Silva

Após duas décadas de operação da unidade de Vila Fria, em Viana do Castelo, com a exploração do aterro sanitário e da unidade de triagem de recicláveis, foram vários fatores que contribuíram para a construção da Unidade de Valorização de Resíduos de Paradela, a começar pelo “final da vida útil das células de aterro” e a “necessidade de se encontrar a alternativa para o confinamento de resíduos”, começa por explicar o responsável, acrescentando que, associada a esta necessidade e decorrente das “exigentes metas estabelecidas” para a Preparação para Reutilização e Reciclagem e para a minimização da deposição em aterro, “tornou-se absolutamente essencial a construção de um Tratamento Mecânico e Biológico”, de onde se destaca o “Tratamento Biológico, com capacidade de 60 mil toneladas por ano e que permitirá tratar separadamente a fração orgânica ainda presente nos resíduos indiferenciados e também dos resíduos orgânicos recolhidos seletivamente”. Tendo em consideração todos os investimentos realizados na recolha seletiva e o crescimento muito significativo nos últimos anos – “41% de 2017 a 2021”, tornou-se ainda necessário a “construção de uma central de triagem automatizada”, que permita “triar convenientemente todos os materiais provenientes da recolha seletiva”, destaca.

Para Rui Silva, esta transição significa, assim, uma “completa mudança de paradigma da operação” da Resulima, dotando a concessão de “processos tecnológicos” que permitam “melhorar o serviço público que prestamos” e, ao mesmo tempo, “contribuir de forma determinante para o cumprimento das exigentes metas ambientais atuais e futuras”. Desta forma, o objetivo da Resulima é o de ser uma “empresa de referência a nível ambiental, social e económico”, impulsionada por “processos inovadores”, que garantam o “cumprimento dos objetivos de serviço público”, acrescenta.

[blockquote style=”1″]As respostas da nova Unidade de Valorização de Resíduos[/blockquote]

A Unidade de Valorização de Resíduos nasce para dar resposta às “crescentes exigências ambientais” legais e estratégicas, como a “redução da deposição de resíduos em aterro sanitário”, o “aumento da valorização de resíduos recicláveis” e o “aumento da valorização de resíduos orgânicos”, assegurando um “serviço público ao nível do tratamento e valorização dos resíduos urbanos”, afirma Rui Silva, que não tem dúvidas do potencial da unidade, enquanto “aliada” do setor: “É, sem dúvida, essencial para a valorização dos resíduos provenientes da recolha indiferenciada, bem como para a valorização dos  resíduos orgânicos recolhidos seletivamente, desviando estes resíduos de aterro e originando a produção de composto”, contribuindo para uma economia circular. A isto, somam-se as funcionalidades da central de triagem automatizada: “É essencial para dar resposta à crescente evolução de quantidades que valorizamos provenientes da recolha trifluxo, nomeadamente papel/cartão, plástico/metal e vidro”, sustenta.

A Unidade ocupa uma área total de cerca de 42ha, estando preparada para “garantir a valorização de resíduos”, de acordo com a estratégica para a próxima década (PERSU 2030) e seguintes. Para ser mais preciso, Rui Silva explica que esta Unidade dispõe de diferentes infraestruturas com diferentes capacidades: uma “central de triagem automatizada com capacidade de tratamento de 3 ton/h de papel/cartão e 4 ton/h de embalagens plásticas e metálicas”; “tratamento mecânico com capacidade de tratamento de 35 ton/h”; “tratamento biológico com capacidade de tratamento de 60 000 ton/ano”; e um “aterro sanitário com capacidade instalada de 815 mil toneladas” e ainda um ecocentro com 8 baias para receção de resíduos valorizáveis.

Esta Unidade tem assim a possibilidade de “valorizar o máximo de resíduos possível”, através da “valorização orgânica na central de compostagem e da valorização multimaterial na central de triagem”, permitindo “ver em cada resíduo um recurso”, contribuindo de forma decisiva para o “desenvolvimento sustentável”.

[blockquote style=”1″]As metas / Os desafios / As preocupações[/blockquote]

A Resulima está empenhada em garantir o cumprimento das exigentes metas ambientais, e este projeto vai permitir “aumentar a quantidade de resíduos valorizados”, minimizando, dessa forma os “resíduos depositados em aterro”. Esta unidade serve os seis municípios da área de atuação da Resulima (Arcos de Valdevez, Barcelos, Esposende, Ponte da Barca, Ponte de Lima e Viana do Castelo), procurando reforçar o trabalho constante com estes parceiros, indo ao encontro das suas expectativas e realidades: “Temos uma relação muito forte e estreita com cada um destes municípios, procurando, em conjunto, criar sinergias que nos permitam otimizar o trabalho realizado por cada uma das partes”. Neste âmbito, têm sido desenvolvidos “programas de sensibilização ambiental” direcionados aos diferentes públicos-alvo, como o “Ecovalor”, que se centra na “promoção da sensibilização ambiental junto da comunidade escolar”; o “Toneladas de Ajuda”, que procura “promover sensibilização ambiental junto das organizações”; o “Recycle Bingo” que consiste numa aplicação móvel que, através do jogo, visa “premiar os cidadãos que reciclam”; os “Ecoeventos”, com destaque a para “sensibilização ambiental em eventos de grandes dimensões”; o “Dar vida ao vidro”, que passa por incentivar a “recolha de embalagens de vidro” junto dos estabelecimentos comerciais; ou o “Menos lixo, mais reciclagem” que estuda as “motivações não financeiras que conduzem o cidadão a uma maior e melhor consciencialização ambiental”.

A Resulima tem tido a preocupação de implementar todo projeto, desde a conceção à operacionalização, no “estreito cumprimento de todas as obrigações legais e normativas, dos prazos e orçamento estabelecido”, garantindo a “implementação das tecnologias necessárias ao correto tratamento dos resíduos produzidos na nossa área geográfica”, assegurando a “continuidade do serviço público prestado”. Apesar disso, são muitos os “entraves” que passam “pela articulação das diferentes entidades na construção da unidade, realização do investimento em tempos de pandemia, com todos os constrangimentos daí inerentes, até à sua entrada em funcionamento, com um modelo técnico bastante diferente do anterior, fortemente industrializado, o que tem implicado ”. Ainda assim, os desafios têm sido ultrapassados, com “muito trabalho de uma equipa motivada e focada nos seus objetivos”, bem como num “trabalho contínuo em articulação com todas as partes interessadas”, afirma.

Contabilizando já o impacto deste projeto, o administrador da Resulima destaca que, a nível económico, já foram criados “muitos postos de trabalho” e, a nível social, esta unidade procura “envolver a comunidade local”, nunca deixando ninguém de fora: “Gostaríamos de transmitir às comunidades locais que nos regemos por uma postura séria, proativa e de transparência em tudo o que fazemos, encetando todos os esforços para prestar o nosso serviço com a máxima qualidade e minimizando os impactos negativos”. E a grande missão da Resulima é, precisamente, fazer com que “toda a comunidade seja parte integrante do projeto e nos ajude, continuando a reciclar sempre tudo e em todo o lado”, declara.

[blockquote style=”1″]O país[/blockquote]

Quando se fala em resíduos, Portugal está ainda aquém de conseguir alcançar as metas estabelecidas: “Temos a consciência que as metas são ambiciosas, que temos melhorado em algumas temáticas, mas que temos também um caminho longo a percorrer, com a necessária envolvência de todos”, desde a “essencial consciencialização de todos os cidadãos do que temos de atingir”, passando por uma “forte articulação entre os Municípios e os Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos”, não esquecendo uma “fácil e incentivada partilha de todas as infraestruturas existentes”, refere Rui Silva.

Em jeito de conclusão, o administrador da Resulima reiterou aquele que será o “papel ativo” da empresa no tratamento dos resíduos orgânicos que os municípios recolherão e para o qual já está capacitada através da UVR: “Os investimentos serão necessários para o aumento dos resíduos recicláveis. Não obstante, aguardamos a publicação da estratégia nacional a seguir na presente década. Sabemos, porém, da necessidade de uma forte aposta na sensibilização, na recolha dos resíduos valorizáveis e no tratamento dos resíduos orgânicos”.