Riscos de ESG não são prioridade para empresas mundiais cotadas em bolsa, revela estudo

Um número significativo de empresas mundiais ainda não prioriza o tema dos riscos ambientais, sociais e de governance (ESG), o que está a criar lacunas preocupantes na avaliação e mitigação destes riscos crescentes. Esta é uma das conclusões do estudo “Evaluating ESG and pandemic risk reporting trends: FTSE 100 and global exchanges risk analysis 2021”, publicado pela Marsh, consultora de riscos e corretagem de seguros.

De acordo com a análise da Marsh, partilhada num comunicado, as empresas listadas na Euronext são as mais preocupadas com a exposição a riscos de ESG, sendo que 90% da amostra refere que esta é uma prioridade fundamental nos seus relatórios anuais. No entanto, das empresas da Bolsa de Valores de Nova Iorque inquiridas, apenas 35% identificaram o ESG como um risco prioritário, e 30% das empresas cotadas na Bolsa de Valores de Hong Kong concordaram. Além disso, apenas um quinto (21%) das empresas cotadas no FTSE100 consideraram o ESG como o principal risco nos seus relatórios anuais, indica o relatório.

Embora quase todas as organizações inquiridas tenham incluído os “riscos ambientais” nas principais secções de risco dos seus relatórios anuais, no geral, a “responsabilidade social foi pouco referida”, o que aponta para um foco no “aspeto ambiental da avaliação de ESG, transversal a todos os setores”, lê-se no comunicado.

Uma das conclusões do estudo indica que menos de um terço (30%) da amostra do FTSE100 possui relatórios autónomos sobre o risco das alterações climáticas, de acordo com o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures), que defende a realização de 11 divulgações recomendadas em torno dos quatro elementos centrais dos riscos relacionados com o clima. A partir de abril de 2022, a divulgação do TCFD será obrigatória para as 1.300 maiores empresas registadas no Reino Unido – incluindo empresas cotadas e privadas – com mais de 500 colaboradores e 500 milhões de libras de faturação.

Fernando Chaves, Risk Specialist da Marsh Portugal comentou: “A crescente consciencialização do público e dos investidores em relação às questões ESG significa que os conselhos de administração são cada vez mais obrigados a dedicar mais tempo e recursos à gestão dos aspetos sociais e de governação dos riscos de ESG. Ao adotar uma abordagem mais proativa ao nível da direção, as organizações podem aproveitar a oportunidade para melhorar a sua capacidade de gestão deste tipo de riscos, obter um maior acesso a capital e ir ao encontro das expectativas dos investidores. Caso contrário, correm o risco de ter terceiros a estimar a sua exposição aos riscos de ESG e às alterações climáticas, o que pode ter implicações financeiras e de reputação a longo prazo.”

O estudo analisa os relatórios anuais das empresas que compõem o Índice FTSE100, bem como de 60 empresas listadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque, na Euronext e na Bolsa de Valores de Hong Kong, abrangendo os relatórios divulgados entre julho de 2020 e julho de 2021. A análise identifica tendências nos relatórios de ESG e avalia o nível de preparação das empresas para dar resposta a futuros riscos relacionados com o ESG e com a pandemia.

O “Global Risks Report 2022”, desenvolvido pelo World Economic Forum, no qual o grupo Marsh McLennan é um dos parceiros, publicado em janeiro deste ano, assinalou os riscos ambientais e sociais como os mais preocupantes. Num horizonte temporal a 10 anos, a saúde do planeta domina as preocupações: os riscos ambientais são vistos como as cinco ameaças mais críticas a longo prazo, com “fracasso da ação climática”, “eventos climáticos extremos” e “perda de biodiversidade” como os três riscos mais graves. A análise realizada pela Marsh revela um quadro mais diversificado de risco pandémico e de ESG, verificando-se por exemplo, que as perspetivas sobre ambos os riscos variavam de acordo com a localização, sendo dada maior importância ao risco de ESG em regiões onde tem havido mais ação e mais discussão em torno do tema. Contudo, verificam-se lacunas relevantes quando se trata de quantificar o impacto financeiro dos riscos relacionados com o clima e ao estabelecer métricas relevantes para a avaliação e mitigação dos riscos.