Ruas sem Lixo: Como se promove a segurança ambiental e a qualidade de vida dos cidadãos?
A limpeza e higiene urbana é um pilar fundamental na qualidade de vida das pessoas e das cidades, refletindo-se diretamente na saúde pública, no bem-estar dos cidadãos e na imagem dos espaços verdes e urbanos. Os municípios de Lisboa, Seixal e Porto contam aqui como estão a trabalhar para manter as suas ruas limpas.
Ruas sem lixo. Ruas limpas. Ecopontos e depósitos de resíduos disponíveis ao longo das vias. Jardins bem cuidados. Com certeza que é das primeiras coisas que repara quando visita uma nova cidade ou até quando faz um passeio ao fim da tarde pelo sítio onde vive – e esse impacto visual é a imagem que vai ficar na sua cabeça.
Este acaba por ser um ponto muito sensível na realidade das cidades, essencialmente nas de grandes dimensões e que comportam milhares de habitantes e visitas de uns quantos turistas. A expectativa é sempre de encontrar uma cidade limpa, visivelmente agradável e que cheire bem. Mas mesmo com grandes cuidados, às vezes oferecer isso todos os dias, a todas as horas, é desafiante e não depende apenas de quem limpa. Depende igualmente de quem suja.
Todos nós produzimos lixo, ou corretamente e ambientalmente falando, resíduos. Porém, nem sempre nos responsabilizamos por eles. É por isso que existem entidades competentes e especializadas que oferecem soluções e serviços à medida de uma limpeza urbana digna de se querer pôr os pés novamente numa cidade específica.
Só a capital portuguesa comporta mais de meio milhão de habitantes e recebe anualmente mais de 30 milhões de turistas, visto que é um dos destinos mais procurados na Europa. Pela dimensão, percebe-se que manter o município de Lisboa limpo é um trabalho diário que requer a resiliência de quem lá vive, de quem visita e de muitos que lá se deslocam todos os dias para trabalhar.

Rui Cordeiro, Vereador com o Pelouro da Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, começa por referir que “a limpeza urbana é uma componente fundamental na gestão da cidade. Promove a saúde pública, a segurança ambiental e a qualidade de vida dos cidadãos. Em Lisboa, este serviço contribui ainda para a atratividade turística, a preservação do património e a valorização dos espaços públicos”.
“Uma cidade limpa é reflexo de uma gestão eficaz e do compromisso coletivo com o bem-estar urbano”, continua o autarca, referindo ainda que no caso lisboeta a limpeza urbana resulta de uma atuação articulada entre a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia.
Nesta localização, os meios utilizados incluem varredura manual e mecânica, lavagem de estradas e pavimentos, remoção de resíduos e intervenções pontuais em situações específicas. Posto isto, “a distribuição de competências permite uma maior proximidade e eficácia na resposta às necessidades locais, garantindo a manutenção regular e a higiene dos espaços públicos em toda a cidade”.
Em relação a medidas que o município está a tomar para tornar os procedimentos mais sustentáveis, Rui Cordeiro destaca a introdução de veículos elétricos, a utilização de água não potável para lavagem de ruas, a digitalização e monitorização dos serviços, e a formação contínua das equipas em boas práticas ambientais: “estas ações contribuem para uma operação mais eficiente e ambientalmente responsável”.
Durante o atual mandato do Presidente Carlos Moedas, tem-se realizado diferentes investimentos estratégicos com vista à modernização do sistema de limpeza urbana. Incluem-se a introdução de veículos elétricos, a utilização de água não potável para lavagem de ruas, a digitalização e monitorização dos serviços, e a formação contínua das equipas em boas práticas ambientais.
“Estes investimentos, muitas vezes complementados pelas Juntas de Freguesia nas suas áreas de competência, têm como objetivo aumentar a eficácia, a cobertura e a capacidade de resposta dos serviços. A título de exemplo, no último ano foram adquiridas pelo Município 10 varredouras compactas de 4M3, uma lavadora-esfregadora de pavimentos e inúmeros veículos elétricos de apoio à cidade”, explica o vereador.
Mas o âmbito da limpeza urbana alarga-se a muitas outras áreas das cidades: jardins, zonas pedonais, equipamentos públicos e até o ato de remoção de grafites.
“A Câmara Municipal de Lisboa assegura diretamente diversos serviços especializados, como a limpeza de terrenos, manutenção e limpeza das vias estruturantes, ciclovias, gestão de parques de apoio, limpeza de grafites, a lavagem de contentores e papeleiras, enquanto as Juntas de Freguesia desenvolvem ações regulares de manutenção e limpeza dos arruamentos nos respetivos territórios”, comenta Rui Cordeiro, frisando que “esta complementaridade permite uma cobertura mais eficiente da cidade”.
Outra grande cidade fica a Norte: o Porto, que tem mais de 200 mil habitantes, além das pessoas que se deslocam lá diariamente para trabalhar, à semelhança de Lisboa. Este destino está também a tornar-se muito conhecido internacionalmente e isso traz mais pessoas à cidade e, consequentemente, mais resíduos para serem tratados.

Filipe Araújo, Presidente do Conselho de Administração da Porto Ambiente e agora oficialmente candidato à presidência da Câmara Municipal do Porto, considera que “a limpeza urbana é essencial para garantir a qualidade de vida dos munícipes e o bom funcionamento da cidade”. “É notório o impacto da atuação da Porto Ambiente, com as suas equipas diariamente no terreno, a concorrer para padrões de excelência no ambiente urbano. Falamos de aspetos como a valorização do espaço público, segurança e mobilidade, e imagem/orgulho cívico”, orgulha-se o responsável.
“Em termos concretos, a limpeza das ruas e a remoção de detritos e resíduos das vias públicas permite, entre outros, contribuir para a promoção da saúde pública e para a segurança rodoviária e fluidez do tráfego pedonal e automóvel”, continua, esclarecendo ainda que “todos estes impactos positivos concorrem para um reforço de imagem positiva e projeção cidade como um espaço aprazível para moradores, visitantes e turistas, o que também impulsiona as atividades económicas e um sentimento de pertença e responsabilidade partilhada na preservação de uma cidade limpa”.
No município do Porto, a limpeza urbana é realizada através de uma combinação de mios humanos, mecânicos e tecnológicos, adaptados às características de cada zona e ao tipo de resíduos.
“Todas as ações são cuidadosamente planeadas, com rotas otimizadas e ajustadas em função das necessidades da cidade, de forma a assegurar um serviço eficiente, sustentável e próximo dos cidadãos”.
Na Porto Ambiente existe o método da varredura manual, executada por equipas no terreno com recurso a vassouras, pás e carrinhos, essencial em áreas pedonais, centro histórico e locais com acesso mais dificultado. Há também a varredura mecânica húmida, que conta com sistemas de projeção de água para reduzir a dispersão de poeiras e aumentar a eficácia da aspiração. Este processo é feito com Água para Reutilização (ApR).
Depois há a lavagem de ruas, que normalmente é feita com recurso a viaturas cisterna e máquinas de alta pressão, sobretudo após eventos ou em zonas onde se acumula maior sujidade. Também neste processo é utilizada a ApR.
Por fim, a Porto Ambiente realiza intervenções mais específicas que incluem, remoção de grafites, controlo de infestantes e recolha de resíduos volumosos.
E a preocupação para que todas estas ações sejam sustentáveis tem vindo a crescer. Desde setembro de 2023 que esta entidade emprega ApR produzida na ETAR do Freixo – que é uma forma de promover a economia circular e a gestão eficientes dos recursos hídricos. Além disso, tem sido feita a renovação da frota de veículos, através da aquisição de viaturas elétricas com menores emissões diretas nulas de CO2.
Outros cuidados ambientais são o uso de soluções ecológicos na remoção dos grafites e no controlo de infestantes, evitando usar herbicidas com glifosato, e a recolha seletiva de resíduos provenientes da limpeza urbana, como é o caso dos resíduos verdes.
É ainda feita uma aposta no planeamento e monitorização das rotas de limpeza com recurso a tecnologia, de forma a permitir uma otimização dos consumos (de tempo e de recursos humanos).
Resumindo, só em 2023 foram investidos cerca de seis milhões de euros na área da limpeza urbana, dos quais cinco milhões foram alocados a soluções, maioritariamente elétricas, de suporte à atividade de limpeza do espaço público. Já este ano, decorrem procedimentos que representam mais 1,5 milhões de euros em varredoras e lavadoras 100% elétricas.
“Outro dos grandes investimentos foi a aposta na internalização do serviço de limpeza urbana, que permite uma gestão mais integrada e eficiente. Atualmente, mais de 300 trabalhadores estão afetos a esta área”, revela Filipe Araújo.
Rumando ao Seixal, que conta com mais de 150 mil habitantes, a limpeza urbana é trabalhada diariamente. Este concelho está entre os três primeiros do país no índice de recolha seletiva de biorresíduos, segundo a associação. Este é o resultado de uma política pública que aposta fortemente na higiene urbana, colocando também este município como o segundo do país com maior volume de equipamentos elétricos e eletrónicos recolhidos porta a porta.

Também o Seixal viu recentemente inaugurado o Centro Municipal de Higiene Urbana de Fernão Ferro, ao mesmo tempo que está a ser construído o Centro Municipal de Higiene Urbana de Amora.
No âmbito da estratégia mais ampla de valorização ambiental e de promoção de boas práticas de gestão de resíduos orgânicos, a Câmara Municipal do Seixal iniciou, recentemente, um projeto-piloto pioneiro centrado na recolha seletiva de biorresíduos em bairros de habitação coletiva. O principal objetivo é a redução da quantidade de resíduos enviados para aterro, abrangendo seis bairros e cerca de 2430 alojamentos, localizados nos núcleos urbanos da Encosta do Sol, junto ao Portugal Cultura e Recreio, Quinta da Fidalga, Quinta da Trindade, Quinta da Medideira e Urbanização Fábrica da Pólvora.
“A recolha de biorresíduos representa um passo decisivo para uma economia circular mais eficiente e sustentável, reafirmando, assim, o nosso compromisso para com o ambiente e com políticas públicas que promovem a participação ativa da comunidade”, sublinha o presidente da Câmara Municipal do Seixal, Paulo Silva.
A título de exemplo das boas práticas, nos meses de março e abril, foram rececionadas mais de 700 toneladas de resíduos provenientes de mais de duas mil entregas de munícipes no Centro Municipal de Higiene Urbana de Fernão Ferro, permitindo assim valorizar os resíduos que anteriormente eram deixados indiferenciadamente na rua.
Cidadão ativo, cidade limpa
E parece não haver dúvidas sobre o papel que os cidadãos exercem quando se fala de limpeza e higiene urbana. Filipe Araújo comenta que “os munícipes são os parceiros de excelência na manutenção da limpeza e qualidade do espaço público. Daí apostarmos fortemente em ações de sensibilização, e em diversas iniciativas que envolvam diversos públicos e instituições com forte impacto na comunidade”.

“O seu contributo é inestimável e passa, essencialmente, pelo cumprimento das regras de deposição de resíduos, evitando a deposição ilegal: Separar e depositar corretamente nos contentores adequados, respeitando os horários e locais definidos, sem recurso despejos indevidos em vias públicas, jardins ou outros espaços são a melhor forma de termos uma cidade limpa”, afirma o responsável da Porto Ambiente.
Neste sentido, a entidade municipal tem apostado em diferentes iniciativas para apelar à participação ativa da população, desde os miúdos aos graúdos.
No caso de Lisboa, Rui Cordeiro frisa que “a colaboração ativa da população é um elemento indispensável à manutenção da qualidade do espaço público”. “O Município de Lisboa, em articulação com as Juntas de Freguesia, desenvolve diversas ações de sensibilização e educação ambiental junto da população. Estas ações incluem campanhas de comunicação multicanal, programas escolares, iniciativas comunitárias e projetos de proximidade”.
“O objetivo é fomentar uma cultura de responsabilidade coletiva, reforçar o sentimento de pertença e promover práticas que contribuam para a preservação e valorização do espaço urbano”, conclui o vereador.