São precisos 5 mil milhões de dólares por ano para alcançar as zero emissões líquidas até 2050

A Capgemini  acaba de publicar a 25.ª edição anual do World Energy Markets Observatory (WEMO), que faz um balanço do estado atual da transição energética, revelando que, apesar dos progressos alcançados, as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) continuam a aumentar e as consequências das alterações climáticas estão a acontecer muito mais rapidamente do que o esperado. O relatório também fornece informações sobre quais deverão ser as principais áreas de foco, no futuro, para garantir uma transição energética bem-sucedida, incluindo uma mudança na perceção pública, bem como regulamentações sustentadas e realistas.

O relatório diz que a capacidade das energias renováveis em todo o mundo tem de triplicar, pois, ainda que os 1.300 mil milhões de dólares de investimentos realizados em transição energética em 2022 sejam um recorde, para cumprir as metas das zero emissões líquidas até 2050 é preciso que este montante aumente para cinco mil milhões de dólares por ano. Em 2022, a componente das energias renováveis atingiu valores inéditos, com um aumento anual de 340GW. Espera-se que 2023 seja outro ano de grandes incrementos nesta área. No entanto, este crescimento está muito aquém do que é necessário para se poder atingir o objetivo das emissões líquidas zero de carbono até 2050, uma vez que a capacidade das energias renováveis global deverá aumentar 2400 GW entre 2022 e 2027 (o que representa um crescimento médio anual de 480 GW). A energia Solar Fotovoltaica bateu novos recordes em 2022 e tudo indica que o mesmo deverá suceder em 2023. Já no que diz respeito à energia eólica, registou-se um decréscimo de 19% a nível mundial e por comparação com os valores do ano anterior, em virtude das dificuldades de produção de energia eólica offshore na Europa e nos EUA.

O consumo de eletricidade terá de quadruplicar até 2050 para serem atingidos os objetivos da descarbonização. Mais de 75% do consumo será assegurado por energia eólica e solar. No entanto, o atual ritmo de crescimento é muito inferior ao que seria necessário, e terá de triplicar para se cumprirem as metas fixadas para 2050. O crescimento da eletrificação deverá ser acompanhado pela necessidade de expansão das redes elétricas. Estas terão de passar de 75 milhões de quilómetros para 200 milhões e tornar-se mais inteligentes através de uma maior capacidade de armazenamento estacionário, de sensores e da análise inteligente de grandes volumes de dados.

Atingir as metas de descarbonização não será possível sem o recurso à energia nuclear e a sua produção terá de triplicar até 2050 para se alcançar o objetivo das zero emissões de carbono, passando-se dos atuais 390 GW para 870 GW até 2050.

De acordo com Colette Lewiner, Energy and Utilities Senior Advisor da Capgemini, “apesar dos progressos, o mundo não está na trajetória certa. Embora os investimentos em energias renováveis em 2022 tenham atingido níveis sem precedentes, é fundamental acelerar o desenvolvimento das tecnologias limpas, não só para permitir o abandono dos combustíveis fósseis, mas também para garantir a segurança do abastecimento de energia. O que é necessário fazer para que as cinco grandes tecnologias energéticas verdes (eólica, solar, nuclear, baterias e hidrogénio) cumpram os objetivos estabelecidos para 2050, implica um esforço muito significativo. Os principais obstáculos prendem-se com o financiamento e com a dificuldade que a nossa economia tem de se adaptar rapidamente a estas mudanças. Cada decisão de investimento deve ser tomada tendo em conta o seu impacto na sustentabilidade e na soberania energética, bem como na acessibilidade dos preços para os cidadãos”.

A principal forma de fazer a transição energética avançar passa por mudar a perceção de que as escolhas de estilo de vida que são necessárias adotar para alcançar o objetivo do net-zero, que são inacessíveis para a maioria das pessoas, devido a razões financeiras ou à lógica de que o impacto do comportamento de uma só pessoa não fará a diferença.

Por fim, é preciso adaptar os sistemas de arrefecimento das centrais térmicas, incluindo os reatores nucleares, para fazer face a vagas de calor extremo, como as que atingiram a Europa em 2023. O mesmo se aplica às redes elétricas, que têm de se tornar mais resistentes a condições meteorológicas extremas, quer se trate de vagas de calor, furacões ou de tempestades de neve, uma vez que estes fenómenos podem provocar uma redução na capacidade de transporte da eletricidade, danos físicos e privar os consumidores de um bem vital.