Sobrepesca leva a um desperdício de alimento para 72 milhões de pessoas, alerta MSC

O Marine Stewardship Council (MSC) – uma organização ambiental sem fins lucrativos – diz que o mundo desperdiça proteína suficiente para satisfazer as necessidades anuais de 72 milhões de pessoas. E o motivo para tal desperdício está relacionado com o facto de “nem todas as pescarias” serem geridas de forma sustentável, alerta o MSC.

O peixe e o marisco são fontes essenciais de nutrientes e proteínas e desempenham um papel vital na alimentação de muitas pessoas: “Mais de 3,3 mil milhões de pessoas em todo o mundo obtêm, pelo menos, 20% da dose diária de proteína animal do peixe”, lê-se no comunicado da organização.

À medida que aumenta a população mundial, aumenta também a pressão sobre este valioso recurso natural. O consumo global de produtos do mar aumentou 122% nos últimos 30 anos. De acordo com a organização, “mais de um terço das unidades populacionais de peixes a nível mundial foram pescadas para além dos limites sustentáveis”, uma “situação que pouco a pouco, se tende a agravar”.

No entanto, segundo o MSC, as últimas estimativas sugerem que “se as pescarias globais tivessem sido mais bem geridas, poderiam ter sido capturadas mais 16 milhões de toneladas de peixe e marisco por ano, o que ajudaria a alimentar uma população em crescimento”.

A análise da organização mostra que, se adotadas à escala mundial, as práticas de pesca sustentáveis aumentariam a proteína adicional disponível para satisfazer as necessidades anuais de uma população equivalente a seis vezes a população do nosso país.

A população mundial deverá atingir os 10 mil milhões até 2050 e a produção alimentar precisa urgentemente de ser tornada sustentável e equitativa para garantir uma alimentação saudável para todos. Uma gestão eficaz da pesca permite a recuperação dos stocks e dos ecossistemas, aumentando, por sua vez, a quantidade de peixe que pode ser pescado de forma sustentável e permanente.

Rohan Currey, diretor de Ciência e Normas do Marine Stewardship Council, declarou que “combater a sobrepesca é um benefício mútuo para o nosso planeta. Ao conservarmos os nossos abundantes recursos marinhos, permitimos também que mais pessoas tenham acesso à proteína de que necessitam para uma vida saudável. Conhecemos as práticas que devem ser adotadas para permitir uma pesca sustentável. O que necessitamos agora é de vontade e cooperação internacional para a sua implementação em todos os oceanos, além fronteiras e em todas as espécies a nível mundial. As gerações futuras têm o direito a fontes alimentares sustentáveis. Com o crescimento contínuo da população mundial, a necessidade de explorarmos os nossos recursos naturais de forma responsável é mais urgente do que nunca”.

Nos últimos anos, verificou-se um aumento sem precedentes na adoção de práticas de pesca sustentável. Em 2020, havia 409 pescarias em todo o mundo certificadas de acordo com a norma de sustentabilidade do MSC, estando outras 89 em processo de avaliação. Para ser certificada pelo MSC, uma pescaria deve evidenciar o bom estado dos recursos pesqueiros, um impacto mínimo no ambiente e uma gestão eficaz.

No entanto, para acelerar a mudança, as pescarias necessitam do “apoio dos governos” para assegurar que os “limites de captura” estejam em “conformidade” com os “pareceres científicos”, que a “pesca ilegal, não declarada e não regulamentada seja combatida” e que os “subsídios prejudiciais que encorajam a sobrepesca em todo o mundo sejam eliminados”, refere.