SPEA testa medidas para evitar que aves marinhas morram em artes de pesca

O MedAves Pesca é o mais recente projeto da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que pretende trabalhar com pescadores de Peniche para juntos desenvolverem formas de reduzir o número de aves que morrem devido às capturas acidentais nas artes de pesca.

A captura acidental de aves marinhas acontece quando estas ficam presas nas artes de pesca, explica a SPEA numa nota à imprensa. Tanto as aves como os pescadores procuram o peixe, e é nas águas produtivas da nossa costa que se encontram. “Infelizmente, por vezes, esse encontro não corre bem. Para as aves acaba muitas vezes na sua morte, por vezes lenta, e para os pescadores em mais tempo consumido e custos com as redes, que ficam danificadas”, lê-se na nota. Este é um problema de conservação a nível global que provoca, apenas em águas europeias, a morte de cerca de 200.000 aves por ano.

A SPEA tem vindo a trabalhar nesta temática ao longo dos últimos 10 anos. Depois de perceber quais são as espécies mais vulneráveis e as artes de pesca com maior impacto no nosso território, pretende-se agora encontrar soluções com o MedAves Pesca. Um projeto financiado ao abrigo do Programa Operacional Mar2020, que tem como principal objetivo desenvolver e testar medidas para a redução das capturas acidentais de aves marinhas na Zona de Proteção Especial (ZPE) das Ilhas Berlengas. Esta é uma zona muito importante para espécies tão emblemáticas como a cagarra e a ameaçada pardela-balear.

Em estreita colaboração com a comunidade piscatória de Peniche, serão testados dispositivos a bordo de pequenas embarcações comerciais. No caso das redes de emalhar, serão testadas luzes sinalizadoras. Tratam-se de lâmpadas led, protegidas por um invólucro em borracha que irão tornar a rede mais visível às aves dentro de água, fazendo com que estas as consigam detetar melhor e assim não se aproximem da arte e não fiquem presas. No aparelho de anzol, vão ser testados dispositivos afugentadores em forma de ave de rapina, cujo objetivo é impedir que as aves mergulhem ao isco e que possam ficar presas nos anzóis. Tratam-se de medidas inovadoras, desenvolvidas com o apoio de especialistas e com base em estudos sensoriais com aves em cativeiro, e nunca antes experimentadas em Portugal.

Segundo Ana Almeida, Técnica de Conservação Marinha da SPEA, “é fundamental que estes dispositivos não prejudiquem o decorrer da operação da pesca nem a quantidade de peixe capturado e por isso será também realizada uma avaliação do impacto económico”.

O projeto MedAves Pesca inclui ainda uma avaliação das áreas mais vulneráveis às capturas acidentais na Rede Natura no meio marinho em Portugal Continental e uma campanha de sensibilização no porto de pesca de Peniche dirigida ao setor para alertar sobre o problema das capturas acidentais e como proceder para as evitar. De forma a alcançar o maior número de pescadores, esta campanha será dinamizada em parceria com a Adepe (Associação para o Desenvolvimento de Peniche).

Ana Almeida acrescenta ainda que “se estas medidas se revelarem eficazes, o passo seguinte será a sua promoção junto deste e de outros portos de pesca do nosso país, contribuindo assim para a mitigação deste problema, de modo alcançar uma pesca mais sustentável”.