Tecnologia vai imperar na forma como a mobilidade se vai praticar, dizem especialistas

Parece que já não restam muitas dúvidas de que a mobilidade elétrica será cada vez mais uma realidade. A questão agora que se coloca é sobre como a mobilidade se vai materializar – carros autónomos, comboios, metros, autocarros, bicicletas ou trotinetas – e qual o papel da tecnologia no facilitar os acessos aos cidadãos. Foi em torno deste tema que vários especialistas se debruçaram e todos concordaram que a tecnologia vai imperar na forma como a mobilidade se vai praticar.

Painel “Transição Digital e Sustentabilidade no Ecossistema da Mobilidade – Indispensabilidade”

“A mobilidade vai ser multicanal: sou um defensor de carros autónomos partilhados, mas, se todos andarmos de carros autónomos partilhados, [eles] vão ser tantos que não se vão conseguir mexer”, começa por dizer António Reis Pereira, Country Manager para Portugal da Volvo Financial Services, considerando que o transporte em massa de pessoas vai continuar a existir. “Os transportes públicos não vão acabar e se, em alguma altura, por uma questão de preço e qualidade de serviço, surgirem carros a mais, o Estado tratará do assunto por via fiscal”, refere o responsável, lembrando que “os investimentos agora feitos nas linhas de caminho de ferro, nos metropolitanos ou autocarros vão ter que ser justificados” no futuro. Assim sendo, António Reis Pereira acredita que, além da mobilidade ser completamente multicanal, a tecnologia vai imperar nesse sentido: “O Mobi Cascais, que integra as várias formas possíveis de locomoção dentro do Concelho, é um bom exemplo de como integrar os vários meios disponíveis”, exemplifica. No entender do responsável, “o automóvel é o meio de transporte mais importante” e, por isso, “não pode ser diabolizado: [isso] é um disparate”.

Será através da “tecnologia” que a mobilidade vai “integrar todos os meios disponíveis”, reitera. É precisamente nesta ótica “multicanal” que Rodolfo Forid Schmid, Administrador da SIVA/PHS, refere que os construtores de automóveis estão com a clara convicção de que o transporte ou mobilidade partilhada fazem parte mudança de paradigma: “Passamos de vender carros e produtos para vender serviços de mobilidade”. E é exatamente aí que a SIVA está a procurar atuar: “Estamos a tentar abranger, de uma forma totalmente ampla, tudo o que são tipos de mobilidade e micromobilidade, pois queremos dar uma ampla oferta de soluções e a digitalização vai permitir e disponibilizar todos os formatos onde as pessoas podem escolher o tipo de mobilidade”. A necessidade energética da economia e a necessidade de mobilidade são dois dos indicadores que têm saído constantemente nos vários estudos do mercado.

E a “mobilidade integrada” – veículo individual e veículo coletivo – será, de acordo Carlos Pereira, Comercial and Cards Sales Manager da BP Portugal, a solução de futuro: “Quanto maior o número de massa que temos de mover, mais necessidade temos de utilizar esse veículo coletivo. Por isso, pensamos que a solução de futuro é a desmaterialização da posse do veículo próprio: é algo que terá tendência a crescer no futuro, é uma realidade mais presente do que aquela que é atualmente”.

Já para Paulo Figueiredo, Diretor Coordenador da Direção Negócio Aut. da Fidelidade, há muitas dúvidas na forma como vai ser possível “conviver facilmente veículos autónomos como as trotinetas ou bicicletas”. Apesar dos “desafios interessantes” que vão surgindo, o responsável reconhece o trabalho que está ser feito em muitas cidades para reduzir o número de automóveis, como “colocar os parquímetros, reduzir a dimensão das faixas de rodagem ou espalhar radares”, como formas de diminuir a sinistralidade. De acordo com Paulo Figueiredo, em média, as deslocações dos portugueses rondam os 13 Km e nas cidades ainda menos, pelo que seria fácil transferir para os meios suaves: “O problema é que hoje, a lei diz que é obrigatório as trotinetas e as bicicletas possuírem um seguro, mas ninguém sabe bem”, lamenta, contanto que “a lei também diz que os seguros de acidentes pessoais são obrigatórios, mas como não diz que capitais é que são, cada um faz à sua maneira: um absurdo”. Por isso, mais uma vez, “[tudo passa] por uma questão de vontade política: vão haver automóveis autónomos em Portugal, antes de termos uma legislação específica”, conclui.

O Painel “Transição Digital e Sustentabilidade no Ecossistema da Mobilidade – Indispensabilidade” foi debatido na IV Convenção da ARAC – Associação Nacional dos Locadores de Veículos que decorreu na passada sexta-feira, dia 31 de março, em Alcobaça.

 © ARAC – Associação Nacional dos Locadores de Veículos

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