Um dia por semana sem carros pode ter mais impacto do que trabalhar a partir de casa três dias por semana

Um único dia semanal sem carros nas principais cidades europeias poderá poupar entre 541 e 945 mil barris de petróleo em cada dia em que é implementado (dependendo do dia da semana) – ou seja, o equivalente a 3-5% de todo o consumo de gasóleo e gasolina em meio urbano na Europa (que representa cerca de 23% das emissões e uso de energia), ou o equivalente a cerca de 40% de todo o consumo anual de petróleo em Portugal ou o consumo inteiro de petróleo de países como a Estónia, Letónia e Lituânia. A conclusão é de um novo estudo desenvolvido no âmbito da Campanha Cidades Limpas, um consórcio europeu que a ZERO integra, para assinalar o Dia Europeu sem Carros (22 de setembro).

Este estudo, divulgado pela Associação ZERO,  mostra ainda que “um dia por semana sem carros” é uma medida que pode ter mais impacto do que trabalhar a partir de casa três dias por semana, assumindo que 40% da força de trabalho o faz.

A mesma análise demonstra que “62% das pessoas em cidades europeias apoiam a ideia de um dia sem carros por semana”, revelando-se a favor de “um uso exclusivo das ruas das cidades a pé, de bicicleta ou outros modos suaves de mobilidade”.

O que é necessário nas cidades portuguesas para a aplicação dos dias sem carros

A ZERO acredita que os dias sem carros, uma medida aliás recomendada pela Agência Internacional de Energia para fazer reduzir a dependência de petróleo, são uma forma fácil de reduzir rápida e com expressão o consumo de gasóleo e gasolina em meio urbano em Portugal. Trata-se, portanto, de uma medida que “não obriga a novas infraestruturas, a regulamentos complexos ou a despesa de monta”, e que tem lugar geralmente num “período de tempo e área geográfica claramente definidos”, tais como “ao domingo e no centro das cidades ou em determinados bairros ou ruas, ou em ambos”, indica a Associação, num comunicado. Acresce que os dias sem carros permitem uma “melhoria no ar que respiramos, cuja fraca qualidade mata 6.000 portugueses todos os anos”, segundo a Organização Mundial de Saúde.

A ZERO recomenda, em face da “contingência atual de crise”, dos “resultados do estudo”, do “crescente peso do setor dos transportes nas emissões em Portugal”, e da “dependência aguda que o país mantém do automóvel”, sendo um um dos países europeus em que mais se anda de carro, a tomada urgente de políticas públicas por parte das cidades e do Governo.

No caso das cidades, a Associação defende a “adoção generalizada de dias semanais sem carros”, a “promoção do uso do transporte público, melhorando a sua qualidade (frequência, pontualidade, densidade, intermodalidade)”, bem como a “adoção de metas de zero emissões nos transportes até 2030”.

Quanto ao Governo, a ZERO recomenda a “criação de uma moldura legal apropriada para a transição nas cidades para uma mobilidade limpa”, o “uso dos fundos públicos disponíveis para melhorar e densificar o transporte público e promover modos de mobilidade limpa, incluindo a pedonal e em bicicleta”, a “coordenação e a sensibilização, através de uma política territorial, de dias sem carros nas cidades portuguesas”; ou “usar os dias sem carros como instrumento no Plano Nacional de Poupança de Energia”.