Uma “economia circular” ao encontro da mudança

Na sessão de abertura do Greenfest, no passado dia 6 de outubro, no Centro de Congressos do Estoril, realizou-se um debate em torno daquele que era também o tema essencial desta 9º edição do festival: “Economia Circular”. O objetivo era simples: debater o problema da sustentabilidade e referenciar os problemas ambientais adjacentes ao excesso de consumo.

Como eixo central para uma discussão entre variadas áreas e entidades da sociedade civil, o debate sobre estas questões ambientais reuniu sete distintos oradores: Jan Olsson, Embaixador da Causa do Ambiente da Suécia; Freimut Schroder da Siemens Healthineers; Catarina Roseta-Palma, docente de economia no ISCTE, Lars Montelius, do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia; Fernando Caldas, da IKEA Portugal; João Dias Coelho, da Tratolixo; e, por último, Paula Guimarães, da Associação GRACE.

O tom senatorial deu lugar a intervenções individuais onde cada orador pode apresentar o seu projeto aliado às questões relacionadas com a preservação do ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Como moderadora e embaixadora do Greenfest, esteve a jornalista Fernanda Freitas, que desde logo lançou o mote para a reflexão, ora não fosse pelo simples facto de que “circular é viver”.

À partida para esta conferência, o painel heterogéneo procurava sobretudo sintetizar a questão de Lavoisier de que “ na Natureza… nada se perde, tudo se transforma”. Mas de que há hoje uma urgência de optar por caminhos inovadores, alocados à economia circular e que preservem as diversas questões ambientais.

Em primeiro destaque, Jan Olsson, Embaixador da Causa do Ambiente da Suécia, país convidado desta 9º edição do Greenfest. “Esta preocupação (com a Economia Circular) está muito próximo de nós e é algo que nos pode providenciar soluções para os desafios que enfrentamos”, afirma inicialmente por entre um conjunto de dados onde sublinha o consumo e a extração de recursos, com enfoque para a “gigante redução” de região selvagem que se regista “sobretudo desde os anos 90”.

“A mudança é necessária, urgentemente”, reforça e relembra que tÊm sido tomadas “grandes decisões” nomeadamente o Acordo de Paris, criado em 2015 para combater as alterações climáticas. “É necessário concentrar esforços” através das comunidades e “os novos empreendedorismos que se aplicam à economia circular devem ser desenvolvidos e promovidos.”

Seguiu-se a vez de Freimut Schroder da Siemens Healthineers, que optou por apresentar a empresa alemã através de uma tríade positiva de “desafios, soluções e oportunidades”. Para além disso, enumerou diversas áreas onde a influência e o trabalho da Siemens se estende, nomeadamente a energia e a tecnologia, sendo que todas estas áreas “podem estar em ligadas à economia circular”. Considerando que no futuro não poderá existir empreendimentos sem esta preocupação, Freimut Schroder sublinha a ideia de que todos os anos a Siemens faz um grande investimento em produtos inovadores nos campos da medicina, saúde e terapia. Olhando para números, reforça a ideia de que dos 7 mil milhões de pessoas no mundo, apenas “cerca de 2 mil milhões é que tem acesso a dispositivos de saúde avançados para tratamento de doenças como o cancro.” A isto, o representante da empresa alemã aponta alguns culpados, especialmente os decisores políticos e algumas empresas.

“Na Siemens, a nossa missão é conseguir que mais pessoas tenham acesso a estes produtos com os quais trabalhamos”. Por fim, e citando a Ellen McArthur Foundation, o representante fala do conceito de economia circular como algo que “é restaurado pelo design, e que espera manter os produtos, os componentes e os materiais na sua melhor utilidade e valor pelo máximo de tempo possível”, através de uma otimização “sustentável e amiga do ambiente”.

Noutro âmbito, aparece a voz de Catarina Roseta-Palma, docente de economia no ISCTE, que veio de alguma forma sumariar conceitos em torno da economia e em especial da sustentabilidade. Tal como refere há “um problema crescente com a escassez de produtos e que quando vamos extrair um recurso temos que saber os riscos e as consequências”. Numa perspetiva optimista, Catarina acredita que é possível “fechar o ciclo”, ou seja que tudo na economia possa passar por um sistema circular de renovação e reciclagem. Tal como alerta, há problemas “urgentes” a ser resolvidos, como “as lixeiras, a acumulação de plástico nos oceanos e a emissão de efluentes”, mas há também espaço suficiente para a sua resolução, porque afinal a “Natureza não tem fronteiras”.

Da sensibilização à nanotecnologia, chegou a vez de Lars Montelius, diretor-geral do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, localizado em Braga. De início começa por questionar a plateia sobre o que é verdadeiramente o significado de “nano”. As respostas parecem centrar-se num ponto comum: “algo minúsculo, muito pequeno”. A dirigir um laboratório que já conta com mais de 120 cientistas, de 26 origens diferentes, Lars Montelius demonstrava apenas alguns exemplos das inúmeras utilizações de nanotecnologia. “A flor de lotús” é exemplo disso, com uma superfície que não absorve humidade ou líquidos. “Agora imagem este tipo de superfícies em pacotes de comida. Imaginem um pacote de ketchup e nos restos que nunca chegam a sair verdadeiramente”; aplicando estas superfícies seria possível aproveitar ao máximo todo o conteúdo.

Seguiu-se Fernando Caldas, do IKEA Portugal, que começa por fazer uma breve apresentação da empresa sueca, que chegou em 2004 a Portugal, mas que desde 1974 já mantinha uma central de compras em território nacional. Ao nível das novidades, Fernando Caldas destacou a “nova loja que irá abrir em Loulé já em 2017”. Tal como refere, a IKEA é uma empresa onde o fator chave está na “eficiência na gestão e na sustentabilidade”. “Somos pessoas positivas, num planeta positivo”, sublinha, referindo ainda que o IKEA já contribuiu como mil milhões de euros no combate às alterações climáticas e pelo menos 600 milhões de investimentos em energias renováveis.

Num âmbito exclusivamente nacional, João Dias Coelho, Presidente da Tratolixo veio debater um pouco sobre a recolha de resíduos nos últimos anos em Portugal. “A produção de resíduos continua a aumentar e prevê-se que continue até 2050. Há pelo menos 3 mil milhões de pessoas que não têm acesso a serviços de recolha e instalações controladas para gestão de resíduos”, alerta.

Olhando com “extrema gravidade para o que nos rodeia”, João Dias Coelho, teve ainda oportunidade de falar um pouco do trabalho da Tratolixo, uma empresa “totalmente pública” que foi também “a primeira a assumir a combustagem e a recolha seletiva” sendo que são hoje encarregados pelo tratamento de resíduos sólidos nos Municípios de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra.

Finalmente e através de uma abordagem mais reflexiva, Paula Guimarães, da Associação GRACE trouxe para o debate a “importância e o impacto da cultura”. “Não nos esqueçamos dos povos nativos que tão bem viviam com a natureza”, alertava salvaguardando a “preservação do nosso património”. Defende que hoje mais do que nunca, “é possível trabalhar o lixo e o desperdício”, com “arte urbana e com design” e que é também dessa forma que começa a preservação das “origens”. Sem nunca esquecer a cultura, Catarina apenas sintetiza: “lembrem-se a terra não é uma herança dos teus pais, é um empréstimo dos teus filhos”.