“Uma exigência sistémica”: a valorização dos recursos naturais na Capgemini
Os recursos naturais são elementos da natureza essenciais à sobrevivência e à atividade humana. Mas como é que as empresas estão a garantir a sua gestão de forma sustentável? Maria João Marques, Head of Sustainability Consulting Solutions da Capgemini, conta tudo à Ambiente Magazine.
Qual pode ser o papel da Capgemini na valorização dos recursos naturais?

A natureza é a base de uma existência saudável e segura, fornecendo água potável, alimentos, proteção contra fenómenos extremos e bem-estar nas comunidades. Estes serviços dos ecossistemas são igualmente vitais para as empresas, que deles dependem e sobre os quais exercem impacto.
Nos últimos anos, o sector privado tem assumido um papel mais ativo na construção de soluções sustentáveis, indo além da mitigação de danos para contribuir para metas de conservação integradas.
Para alcançar este objetivo, as empresas podem adotar uma abordagem estruturada, que inclua a avaliação da sua pegada ecológica, a identificação de oportunidades para reduzir impactos e melhorar o desempenho económico, a definição de uma estratégia para a biodiversidade com metas claras, bem como a monitorização contínua dos progressos e a comunicação transparente dos resultados.
A responsabilidade ambiental deixou de ser uma opção estratégica para se tornar uma exigência sistémica. Com os efeitos das alterações climáticas e da perda de biodiversidade cada vez mais visíveis, integrar a sustentabilidade nas operações empresariais é hoje uma questão de liderança e de sobrevivência.
De que forma o estão a fazer internamente?
Na Capgemini, valorizamos os recursos naturais como pilar de um futuro sustentável.
Alinhados à nossa meta de neutralidade carbónica até 2040, já alcançámos 98% de eletricidade renovável e reduzimos em 93% as emissões de âmbito 1 e 2 face a 2019. Em Portugal, aderimos ao Act4Nature e promovemos ações como limpeza de ecossistemas e a criação de mini-florestas urbanas com espécies autóctones. Acreditamos que a transformação começa com as pessoas: em 2024, somámos mais de 25,7 milhões de horas de formação em sustentabilidade. Através do programa Tech4Positive Futures, desafiamos os nossos colaboradores a associarem-se a instituições de proteção da natureza para resolver desafios atuais, usando a tecnologia para proteger a biodiversidade. Alguns exemplos são o NestSweeper, que deteta vespas asiáticas, e projetos nos Açores para monitorizar cetáceos com IA.
Sustentabilidade, para nós, é inovação, colaboração e impacto positivo.
Como é que a Green IT pode igualmente valorizar estes recursos?
Perante os desafios ambientais atuais, como as alterações climáticas e a escassez de recursos, a tecnologia deve assumir um papel ativo na construção de soluções sustentáveis.
O conceito de Green IT surge como resposta estratégica à necessidade de alinhar o progresso digital com a sustentabilidade ambiental, promovendo práticas que reduzem o impacte ambiental das operações tecnológicas, como a otimização energética, a redução de resíduos eletrónicos e das emissões de carbono associadas ao ciclo de vida dos equipamentos informáticos.
A sua importância torna-se ainda mais evidente quando consideramos que centros de dados, redes e dispositivos digitais representam uma fatia crescente do consumo energético global. É também crucial no cumprimento das regulamentações ambientais, cada vez mais exigentes a nível nacional e internacional. Organizações que pretendem liderar com visão, devem incorporá-lo como um pilar essencial da sua estratégia de transformação digital.
Como se pode estender isto a outras empresas?
Valorizar os recursos naturais é hoje um imperativo estratégico. Estender esta valorização a outras empresas implica uma mudança de paradigma, onde a natureza é reconhecida como um ativo essencial para a resiliência e competitividade a longo prazo.
A adoção de práticas sustentáveis começa pela sensibilização das equipas, e pela integração do capital natural nas decisões empresariais. Medir o impacte ambiental e adotar práticas de economia circular com foco na redução, reutilização e regeneração de recursos, permite orientar ações mais responsáveis.
No entanto, nenhuma empresa atua isoladamente. Adotar uma visão ecossistémica e potenciar parcerias entre os vários stakeholders é essencial para escalar soluções, restaurar ecossistemas e superar barreiras, como a escassez de financiamento ou a falta de competências verdes. Valorizar a natureza é contribuir para um modelo económico mais justo e regenerativo.
Quais os maiores desafios neste âmbito?
Valorizar os recursos naturais é essencial para a resiliência das empresas, mas enfrenta desafios relevantes.
A ausência de métricas padronizadas dificulta a integração do capital natural nas decisões estratégicas. Muitos serviços dos ecossistemas continuam subvalorizados, por não terem expressão económica direta. A fragmentação dos dados ambientais e a escassez de financiamento limitam a escala das soluções. Soma-se a falta de competências verdes e o desalinhamento regulatório, que dificultam a adoção de práticas eficazes.
Além disso, a colaboração entre setores — empresas, governos, academia e sociedade civil — ainda é limitada, comprometendo uma resposta sistémica. Superar estes obstáculos exige visão, compromisso e ação conjunta. Só assim será possível transformar a valorização da natureza num verdadeiro motor de inovação, competitividade e regeneração.