Vale das Lobas: Um modelo de regeneração rural que se baseia na natureza para ser um destino sustentável e inclusivo

Em Sobral Pichorro, no concelho de Fornos de Algodres, há um “paraíso” para descobrir. Tem nome de vale, mas é, antes disso, uma afirmação do Turismo sustentável e de inclusão, tentando que todos se reconectem com a Natureza, enquanto se afirma como um exemplo e modelo de regeneração sustentável. A Ambiente Magazine foi descobrir o “Vale das Lobas”.

Este projeto turístico afirma-se como um centro de retiro holístico, oferecendo uma panóplia programas de Bem-Estar, cursos e conferências, além de experiências de Descoberta, desde a observação da vida selvagem a festivais de artes sacras. Dino Schmitz, diretor do Vale das Lobas, diz que o projeto surgiu do desejo de criar e assegurar uma forma de turismo sustentável no vale da Muxagata.

E esse desejo tem trazido frutos: no verão de 2022, o “Vale das Lobas” fez uma parceria com a plataforma de crowdfounding “Goparity”: A resposta que obtivemos foi surpreendente, com a adesão de mais de 1.100 pessoas, angariando um total de 125 mil euros”, relembra o responsável, acrescentando que este envolvimento comunitário é “um grande exemplo” do “papel positivo” que a população pode desempenhar, ao “sentir que pode ser parte da solução”. O valor angariado, em conjunto com Fundos do Turismo de Portugal, permitiu o início da conclusão da construção das infraestruturas e manutenção do turismo sustentável de natureza ao longo de todo o ano. Estas obras incluem “o acabamento da piscina natural interior, utilizando filtração biológica, a criação de jardins medicinais para relaxamento e contemplação, a construção de um Pub Garden com amplos espaços exteriores, bem como a conclusão das nossas “Hobbit Houses (unidades de glamping de luxo), e, ainda, de um local para festivais e eventos”. Neste momento, já se encontram em pré-abertura o restaurante e o parque de campismo e, até ao final do ano, está prevista a finalização do Nature Spa.

Mas o que difere o “Vale das Lobas” de outros projetos turísticos?

A aposta em recursos locais é uma das particularidades. As instalações do empreendimento apostam na chamada “construção natural”, utilizando materiais locais e endógenos como o granito, a cal, a cortiça ou a madeira. Além disso, são utilizados “extensivamente recursos energéticos renováveis e reciclagem de água e resíduos”, o que inclui “aquecimento geotérmico, painéis fotovoltaicos, filtração biológica de água cinzenta, e um sistema altamente inovador de microturbinas de vórtice para gerar eletricidade”, acrescenta o responsável.

Esta aposta nos produto e serviços locais é muito vincada em toda a ação do “Vale das Lobas”, algo que começou logo na própria construção do empreendimento com a escolha de fornecedores e empreiteiros locais que reaprenderam “velhas técnicas de construção com materiais naturais. Estas competências podem agora ser facilmente aplicadas por todos os envolvidos em projetos futuros”, precisa o responsável. Na atividade diária, esta aposta mantém-se, sendo algo refletido na própria ementa do restaurante, onde os ingredientes são confecionados utilizando os produtos produzidos na quinta regenerativa e nos jardins florestais do Vale: “Uma grande diversidade de vegetais, frutas, frutos secos, azeitonas e grãos orgânicos será cultivada nos 30 hectares de terra dedicados a esta cultura”, exemplifica Dino Schmitz, frisando que o Vale lidera “pelo exemplo, mostrando que a agricultura natural sem fertilizantes químicos nocivos, pesticidas e herbicidas pode ser produtiva e saudável”.

Mas a preocupação ambiental não se esgota na simples cultura dos alimentos, prolongando-se também à criação de formas de melhoria da fauna e flora. O projeto tem em marcha planos de valorização da biodiversidade, com a aplicação de planos de retenção de água e de melhoria do bioma do solo. Outra das ações foi a formalização, em 2017, de uma aliança com uma associação local de caça, com vista a criar um refúgio para a vida selvagem com 607 hectares, prevendo um aumento de outros 596: “Desde então, [esta iniciativa] apoiou o regresso de aves, mamíferos e outros animais selvagens”, precisa. Além disso, as soluções desenvolvidas para o “Vale das Lobas” estão a “revitalizar a economia com empresas baseadas na natureza, que encorajam e apoiam o despertar da ligação com a Natureza”, afirma Dino Schmitz, acreditando que, numa abordagem holística e enfoque na inclusão e educação, este modelo pode ser “aplicado com sucesso em muitas zonas rurais despovoadas em Portugal”.

Outra das iniciativas do Vale das Lobas é a Associação Serra Lusa, uma organização de base comunitária, que tem feito o restauro de terras abandonados dentro e fora do Vale, reabilitando-as e integrando-as no chamado “Parque da Biodiversidade”: “Centrado no reflorestamento, agricultura biológica, criação de lagos e lagoas, proteção contra incêndios, gestão coordenada da terra e educação comunitária, o Parque da Biodiversidade segue um Protocolo de Regeneração, concebido para que os ecossistemas, a vida selvagem e as comunidades prosperem”, afirma. O trabalho é feito em conjunto com os proprietários, sendo que estes se tornam produtores orgânicos, melhorando a biodiversidade das suas terras e a resiliência contra incêndios: “Com o Vale das Lobas, estamos empenhados na inclusão, participação e criação de riqueza comunitária”, afiança.

É justamente na comunidade que reside um papel fundamental na evolução do projeto, algo demonstrado pelo sucesso da campanha na plataforma “Goparity”. Denominado de Programa de Investimento na Terra Sagrada, a campanha permitiu acolher indivíduos, famílias e organizações na comunidade de investidores no “Vale das Lobas”: “As pessoas puderam aderir ao círculo com uma compra mínima de uma ação com um valor de 5.000 euros”, explica Dino Schmitz, acrescentando que “os dividendos serão distribuídos entre a comunidade de investimento e os participantes beneficiarão de recompensas, adesão gratuita, descontos e vales-prenda”. Quem investe neste programa tem “uma ligação ancestral com Sobral Pichorro”, mas outros vêm de outros cantos do país ou “de outros países da Europa e América do Norte”: “Damos as boas-vindas a pessoas que se preocupam com a natureza, saúde e sustentabilidade para investir o seu dinheiro onde o seu coração está”, afirma.