#Vidro+: “É no canal HORECA que reside a oportunidade de recuperação de vidro usado”

Converter Portugal num país de referência na recolha e reciclagem das embalagens de vidro, bem como na incorporação de vidro reciclado na produção de novas embalagens é a visão da Vidro+. A Plataforma que vai ser apresentada, oficialmente, esta terça-feira, 24 de maio, na sala “O Século”, no Ministério do Ambiente e da Ação Climática, tem como meta a recolha de 90% das embalagens de vidro usadas, colocadas no mercado, para reciclagem, até 2030. Antecedendo a esta apresentação, a Ambiente Magazine esteve à conversa com Tiago Moreira da Silva, coordenador da Plataforma Vidro+.

Partindo do pressupostos que a Vidro+ tem como objetivo aumentar da taxa de reciclagem do vidro em Portugal, Tiago Moreira da Silva considera essencial obter-se uma “abordagem holística” sobre a temática: “É preciso que haja um trabalho colaborativo por parte de todos os agentes da cadeia de valor das embalagens de vidro, desde os produtores, aos embaladores e a quem as coloca à disposição no mercado (marcas, retalhistas e canal HORECA), até àqueles que fazem a recolha dos seus resíduos (embalagens usadas), como as autoridades locais e municipais, as entidades gestoras e os consumidores (cidadãos e empresas)”. Por isso, além da plataforma ter como destinatários os “agentes da cadeia de valor do vidro de embalagem”, também as “entidades governamentais, Universidades e Centros de Investigação, Associações e Organizações não Governamentais” devem ser parte integrante desta inciativa, afirma.

Neste momento, a Vidro+ conta com 33 membros, efetivos e institucionais: “Até ao momento, contamos com 14 membros efetivos, como a BA Glass, Central de Cervejas, EGF, Electrão, Lipor, Novo Verde, Porto Ambiente, Sociedade Ponto Verde, Sogrape, Sonae, Super Bock Group, Trivalor, Verallia Portugal e Vidrala”. Já os membros institucionais são “entidades que apoiam e acompanham o desenvolvimento da Vidro+ e contribuem indiretamente para alcançar os objetivos resultados da Plataforma”, como entidades governamentais, Universidades e Centros de Investigação, Associações e Organizações não Governamentais: “Até ao momento, temos 19 membros institucionais”, indica.

É através do Advisory Board, coordenado pela Associação Smart Waste Portugal (ASWP), que será possível controlar o progresso da iniciativa, produzir recomendações, orientações estratégicas e definir o Roadmap. Primeiramente, vão arrancar cinco grupos de trabalho: “Roadmap 2030; Canal Horeca; Municípios/SGRU´s (Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos); Sensibilização do consumidor; Inovação e desenvolvimento dos processos de Reciclagem, que, através do debate de ideias, pretendemos chegar a soluções concretas para o atingimento da meta proposta”, refere. A Plataforma Vidro+ conta ainda com uma “Comissão Consultiva”, que inclui as “diferentes Associações setoriais”, que debaterá as “iniciativas trabalhadas nos grupos de trabalho e apontará recomendações”, bem como uma “Comissão Científica” que, enquanto órgão consultivo, tem a responsabilidade de assegurar a “qualidade científica dos deliverables” apresentados, explica. Para além destes grupos de trabalho, serão realizadas, “duas vezes por ano, reuniões plenárias” onde serão partilhados os resultados do que está a ser desenvolvido pela Plataforma. A Vidro+ terá ainda um website e estará representada nas redes sociais.

Com base no objetivo de recolher 90% das embalagens de vidro colocadas no mercado, para reciclagem, até 2030, está a ser preparado, no âmbito desta iniciativa, um Roadmap para 2030: “Serão identificadas, pelos membros da Vidro+, metas a curto-médio prazo, para que seja possível alcançar o objetivo principal”. Apesar de ainda não estarem definidas as metas, há um conjunto de desafios que já foram identificados pela Plataforma e, que passam por “prevenir ou redução do impacto das embalagens de vidro e dos seus resíduos no ambiente”; “garantir o funcionamento do mercado interno, com um equilíbrio nas vertentes económica e ambiental”; “dar especial enfoque nas recolhas de vidro do canal HORECA”; “captar o potencial de vidro ainda existente nos SGRU´s (Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos), associado aos lares dos consumidores”; “apostar na melhoria do desempenho do SIGRE (Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens), com a combinação de diversas medidas específicas, apoiadas financeiramente pelos stakeholders com responsabilidade no processo, assim como pelo empenho dos SGRU´s e de toda a cadeia de valor”; “promover atividades de sensibilização e educação, tanto ao nível do canal Horeca e dos retalhistas, como dos consumidores, para o aumento da reciclagem com qualidade, deste material de embalagem”; e “maximizar a incorporação de vidro reciclado na produção de novas embalagens”.

[blockquote style=”1″]“… uma taxa de reciclagem baixa afeta diretamente a competitividade das empresas alimentares portuguesas exportadoras”[/blockquote]

Apesar do vidro de embalagem ser o material que o consumidor mais separa, que menos dúvidas tem na colocação no ecoponto e que vê como maior potencial para ser sustentável, Tiago Moreira da Silva admite que se tem vindo a registar “dificuldades no alcance das metas de reciclagem estabelecidas”, tendo atingido em 2019 uma taxa de 56,1%, claramente insuficiente para chegar aos 70% em 2025: “Estes resultados não estão de todo relacionados com a capacidade de reciclagem das embalagens de vidro usadas, existente no nosso país”. Isto significa que, “mesmo que em Portugal se reciclasse a totalidade das embalagens de vidro colocadas no mercado nacional, haveria sempre necessidade de recorrer à economia circular europeia para conseguir responder às necessidades de incorporação de vidro reciclado ou na produção de novas embalagens”, refere o coordenador, constatando que “quanto mais for recuperado no mercado nacional, melhor para a indústria, para a economia do país e para o ambiente”. Desta forma, a Plataforma Vido+ pretende trabalhar de forma colaborativa alguns setores, que são considerados “críticos” para que haja uma maior separação e recolha de embalagens de vidro usadas: “Através da criação de grupos de trabalho compostos por membros da Plataforma Vidro+, que têm como missão discutir e encontrar respostas e soluções para os desafios, sempre com a missão de atingir o objetivo da recolha de 90% das embalagens de vidro colocadas no mercado, para reciclagem, até 2030”. O trabalho desenvolvido por estes grupos de trabalho irá passar pelo “debate do tema”, o “desenvolvimento de estudos e documentos estratégicos”, a “partilha de boas práticas” ou o “desenvolvimento de projetos piloto, acrescenta.

O motivo pela baixa taxa de recolha do vidro de embalagem em Portugal já não é recente e, de acordo com o coordenador da Vidro+, tem que ver com “boom turístico” registado nos últimos 10 anos, tendo impactado os maiores centros urbanos do país: “Infelizmente, as infraestruturas de apoio à recolha seletiva das embalagens de vidro para reciclagem não conseguiram responder às necessidades dos estabelecimentos HORECA (hotéis, restaurantes e cafés), que também aumentaram”. Citando um estudo promovido pela AIVE (Associação dos Industriais de Vidro de Embalagem) e pela SPV (Sociedade Ponto Verde), Portugal tem cerca 73,6 estabelecimentos por 10 mil habitantes (Eurostat 2018): “Em Portugal, as embalagens de vidro existem em grande quantidade fora de casa quando comparado com o consumo nos lares”. Assim sendo, é precisamente no canal HORECA que as taxas de separação dos resíduos das embalagens de vidro são mais baixas: “A abertura de um vidrão típico foi desenvolvida para um consumidor colocar uma garrafa de cada vez. Para um consumidor típico este tipo de vidrão é adequado, contudo, para um estabelecimento HORECA o tempo é precioso, pelo que não faz sentido colocar uma unidade de cada vez. Esta situação agrava-se em alturas de grande produção de resíduos, como é o caso do verão, sobretudo nas regiões mais impactadas pelo turismo”. Para Tiago Moreira da Silva, é neste canal que “reside a oportunidade mais eficiente de recuperação de vidro usado”, pela sua concentração de produção: “Mas, os quantitativos não conduzidos para reciclagem no canal doméstico são igualmente significativos o que determina a necessidade de conceber uma estratégia integrada que assegure o aumento do desvio para reciclagem do vidro de embalagem destas duas fontes”, atenta.

Para responder aos desafios associados à recolha das embalagens de vidro, o coordenador da Vidro+ destaca, desde logo, duas áreas de atuação. Primeiramente, o nível de serviço de recolha que se prende com a necessidade de “adaptação da recolha de proximidade, às necessidades específicas do canal HORECA”, da “melhoria das soluções de recolha de proximidade ao consumidor e taxa de cobertura”, e da “otimização da frequência de recolha, limpeza e manutenção dos contentores”, assegurando-se “mecanismos de fiscalização que estimulem a eficiência e melhoria continua do serviço de recolha”. A segunda área é a comunicação e a sensibilização, onde se destaca a necessidade de se “aumentar a consciência ambiental e alteração de hábitos e atitudes para a separação das embalagens de vidro do pós-consumo”, bem como “promover sessões de formação sobre a importância da reciclagem do vidro no canal HORECA”.

Ao nível de riscos, o responsável não tem dúvidas de que uma taxa de reciclagem baixa afeta diretamente a competitividade das empresas alimentares portuguesas exportadoras: “Um produto de exportação português em vidro eleva o seu valor, e por isso, terá rapidamente de ser mais verde e com menor pegada carbónica”. Além disso, a legislação na União Europeia é altamente exigente no que toca à circularidade dos materiais de embalagem, assim como nas taxas de reciclagem e incorporação no vidro de embalagem: “Não atingir as metas definidas pela UE terá pesadas penalizações para todos”.

Já quanto às oportunidades, Tiago Moreira da Silva refere que as embalagens de vidro são um “exemplo de economia circular”, com as suas “qualidades ecológicas e a sua infinita reciclabilidade” que permite “poupar recursos naturais, reduzindo ainda o consumo energético e as emissões associadas ao seu processo produtivo”, para além da “redução da deposição de resíduos em aterro”. Para ser mais preciso, o responsável refere que a incorporação deste vidro no processo produtivo, por cada tonelada, traduz-se numa “redução de 12% as emissões do processo” e numa “poupança de 2,5% na energia consumida”, por cada 10% a mais de casco usado: “Todas as embalagens de vidro depois de usadas podem dar origem a novas embalagens de vidro, num ciclo fechado e infinito, sem qualquer perda das suas características singulares, com redução de emissões de CO2, quando comparado com a produção a partir de matéria-prima virgem”. A preponderância da indústria portuguesa na produção de embalagens de vidro para o mercado nacional e de exportação, torna este seu resíduo, num dos materiais “mais desejados” para incorporação na produção de novas embalagens de vidro, sustenta.

O que pode esta cadeia de valor esperar da plataforma Vidro+?

“Uma caminhada conjunta que demonstrará a capacidade da colaboração para ultrapassar difíceis desafios e atingir um objetivo ambicioso, servindo de inspiração no movimento de transição para uma economia mais circular. A plataforma Vidro+ é uma iniciativa colaborativa, com uma coordenação forte e isenta, na tentativa de gerar consensos com o objetivo de converter Portugal num país de referência na recolha e reciclagem das embalagens de vidro, bem como na incorporação de vidro reciclado na produção de novas embalagens. Em conjunto, vamos partilhar experiências e boas práticas, e procurar soluções conjuntas para promover uma maior recolha e reciclagem do vidro de embalagem”.

A adesão à Vidro+ pode ser feita através do contacto com a (ASWP), através do preenchimento de um Protocolo de Adesão e do pagamento de uma quota anual (para os membros efetivos, cujo valor depende do seu volume de negócios).

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