ZERO defende novos requisitos de design ecológico para o têxtil em toda a UE

Os produtos têxteis têm uma enorme pegada ecológica em todas as fases da sua vida. À medida que mais roupas são produzidas, consumidas e deitadas fora, o modelo linear seguido pela indústria têxtil coloca uma enorme pressão sobre o planeta em recursos, ambiente e clima. Este foi o ponto de partida para a ZERO (Associação Sistema Terrestre Sustentável) alertar, em comunicado, para a importância do setor têxtil ser mais sustentável.

De acordo com dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), em 2017 foram recolhidas cerca de” 200 mil toneladas de resíduos têxteis nos contentores de resíduos urbanos, o que representa cerca de 4% de resíduos urbanos produzidos em Portugal. E esta é apenas a ponta do iceberg”, atenta a associação ambiental. Já a nível mundial, “entre 2000 e 2015 a quantidade de roupa produzida no mundo duplicou”, precisa o comunicado da ZERO. Segundo a Greenpeace, “cada pessoa compra, em média, mais 60% das peças do que comprava no ano 2000 e só as mantém metade do tempo”.  E “apenas 1% do total de têxteis produzidos são reciclados em novos têxteis”, lê-se na nota.

Uma análise em profundidade das etiquetas e normas aplicáveis aos têxteis revela que estes não integram “critérios fundamentais para avaliar a sua sustentabilidade”, como sejam a “durabilidade, a reparabilidade, o potencial de reutilização ou mesmo a redução de libertação de microfibras” (fibras sintéticas). Segundo um estudo – “Durable, repairable and mainstream – how ecodesign can make our textiles circular” -realizado pela ECOS, uma organização internacional dedicada às questões ambientais na área da normalização de que a ZERO faz parte, é “urgente integrar requisitos mínimos de conceção ecológica (ecodesign) nos têxteis, em toda a União Europeia (UE), similares aos existentes para os equipamentos elétricos e eletrónicos”.

Para a ZERO, esta intervenção é urgente e tem um enorme potencial de eficácia: “80% dos impactos ambientais resultantes dos produtos têxteis são estabelecidos na fase de conceção”.

Segundo a associação ambiental, os novos requisitos de design ecológico devem focar-se em:

  • Desenhar os produtos e os sistemas para vidas mais longas, informando o consumidor do tempo de vida expectável; fabricar produtos têxteis que sejam duráveis, reutilizáveis, facilmente reparáveis e recicláveis;
  • Assegurar que os produtos são livres de tóxicos e que os materiais usados provêm de fontes sustentáveis e éticas;
  • Desenvolver normas sobre a libertação de microfibras (fibras sintéticas);
  • Aplicação da responsabilidade alargada do produtor, que promova prioritariamente a redução e a reutilização/ durabilidade/ reparação.

Segundo a ZERO, esta proposta visa contribuir para a transição necessária do atual modelo linear e insustentável (compras constantes; tempo de utilização reduzido; descarte) para um modelo circular (compra apenas do essencial; utilização a longo prazo – pelo próprio ou por outros, fomentando a venda em segunda mão – reciclagem em upcycling – transformando as fibras recicladas em produtos de qualidade)-

Face à realidade, a associação ambiental e a ECOS apelam à Comissão Europeia para aplicar os princípios da conceção ecológica aos produtos têxteis, segundo o modelo dos equipamentos elétricos e eletrónicos, regulados pela Diretiva da Conceção Ecológica (Ecodesign), expandindo o seu âmbito como parte da planeada Iniciativa Política para os Produtos Sustentáveis.