ZERO quer Plano Ferroviário Nacional em prática

A ZERO lançou um comunicado à imprensa a propósito do fim da consulta pública do Plano Ferroviário Nacional, e identificou aquilo que descreve como cinco sinais verdes, sete sinais amarelos e uma necessidade de prioridades urgentes como a Terceira Travessia sobre o Tejo, exclusivamente ferroviária.

Lê-se que “é essencial que nas próximas duas décadas se produza uma mudança rápida e decisiva no modelo de mobilidade que torne o veículo individual dispensável e o uso de modos partilhados articulados, sempre que possível e necessário, com os serviços de transporte coletivo regulares em que os serviços ferroviários asseguram a maioria das deslocações terrestres de médio e longo curso”.

Para a associação Zero, o Plano Ferroviário Nacional “é, sem dúvida, um dos elementos mais estruturantes e de futuro no âmbito de uma mobilidade sustentável e na redução de emissões de gases de efeito de estufa que causam as alterações climáticas, em linha com a antecipação para 2045 ou mesmo 2040 da meta da neutralidade carbónica para Portugal”.

Os cinco sinais verdes
1. A simples existência de um plano ferroviário nacional é já um importante passo no sentido de recuperar o conceito de rede ferroviária como estrutura fundamental de um modelo de mobilidade sustentável, depois de décadas de estagnação e desinvestimento.
2. A recuperação dos planos de construção de autoestradas ferroviárias que permitem operar serviços que competem com o transporte aéreo nas ligações até 600 km, ao mesmo tempo que reduzem substancialmente a atratividade do transporte rodoviário de passageiros no médio e longo curso, libertam espaço para a circulação de mercadorias na rede atual e permitem gerar redundâncias na rede, aumentando assim a sua fiabilidade e robustez.
3. O facto de as novas autoestradas ferroviárias possuírem variantes que permitem aos comboios pararem nas estações de comboio atuais no centro das principais cidades que servem tem que ser visto como um enorme ganho na acessibilidade às novas redes ferroviárias.
4. É muito positiva a densificação da rede ferroviária prevista nas áreas metropolitanas, sobretudo se for bem articulada com as redes de metropolitanos e com outros modos de transporte coletivo regular em sítio próprio, modos partilhados a pedido e modos suaves.
5. A prevista ligação dos três principais Aeroportos Internacionais à rede de autoestradas ferroviárias, o que é muito importante para conseguir a eliminação dos voos de ligação entre Lisboa, Porto, Madrid e Faro e reduzir o uso de veículos individuais

Os sete sinais amarelos
1. Não é dada a mesma prioridade à autoestrada ferroviária entre Lisboa e Madrid que é dada à ligação
entre Lisboa e Vigo.
2. Ao contrário da rede metropolitana de Lisboa, que passará a contar com uma circular ferroviária – sobretudo se for possível ligar o ramal da siderurgia à segunda travessia ferroviária sobre o estuário do Tejo –, que permite a circulação rápida entre periferias e aproximar o crescente número de pessoas que habitam em territórios suburbanos da estação de metro mais próxima do destino final, para a Área Metropolitana do Porto o plano não apresenta uma solução funcional, devendo ser estudadas soluções que permitam circular entre periferias de forma rápida, cómoda e sustentável.
3. Falta uma visão clara que articule o transporte ferroviário com o transporte rodoviário de mercadorias.
4. Falta assinalar que as linhas do Algarve e do Oeste, para além da eletrificação já prevista, deveriam receber melhorias que permitissem aumentar a velocidade comercial das composições.
5. A articulação entre os sectores mineiro e agroflorestal e a criação de um verdadeiro corredor vertical interior da rede ferroviária do país não são suficientemente desenvolvidas.
6. A definição da qualidade dos serviços ferroviários que se pretende desenvolver na rede não está tão
desenvolvida quanto necessário.
7. Deveria chamar-se à atenção aos impactos paisagísticos, nos sistemas ecológicos e na saúde humana.

Para a ZERO é importante uma avaliação ambiental estratégica, um programa de desenvolvimento da rede ferroviária, um fundo de investimento ferroviário bem definido e um Conselho de Acompanhamento do Plano.

Além disso, a prioridade deverá ser, na visão da associação, a Terceira Travessia sobre o Tejo, exclusivamente ferroviária, que permitirá reduzir meia hora em todas as viagens de e para o sul do país e ligar de forma mais rápida os portos do sul e as plataformas logísticas da Área Metropolitana de Lisboa. Ademais, destaca-se a ligação entre Lisboa e Madrid em apenas três horas.

Outros aspetos de carácter prioritário que aparecem no comunicado são a sincronização entre serviços, as linhas circulares (Quadruplicação da Linha de Cintura de Lisboa, Ligação da Linha de Cascais a Alcântara- Terra e duplicação da Linha de Leixões) e as interfaces com os Metropolitanos.