“Ligações entre a nossa saúde e a dos ecossistemas são mais nítidas do que nunca”, alerta Carlos Moedas 

“Um Novo Começo para as Pessoas e a Natureza” é o tema da Semana Verde Europeia 2020 que arrancou esta segunda-feira em Lisboa, a Capital Verde Europeia. O evento realizou-se na Fundação Calouste Gulbenkian e centrou o debate em torno da Natureza e Biodiversidade. 

Carlos Moedas, curador da Fundação Calouste Gulbenkian, em representação de Isabel Mota, presidente da fundação, destacou a honra que é para a instituição fazer parte da jornada que aí vem. Para o responsável, este é o momento em que é preciso um novo começo, isto é, “um completo ‘reset’ à relação entre a humanidade e a natureza”, alertando para o facto da biodiversidade ser um sistema vital para o Planeta: “Pondo de parte a nossa obrigação moral de proteger a vida selvagem e os ecossistemas naturais, os argumentos centrados nos humanos estão bem à nossa frente”, sustenta.

O responsável quis chamar a atenção para o facto da vida selvagem suportar os ecossistemas, alertando que “sem ecossistemas saudáveis, não há vida”. No entanto, lamenta que a “cadeia entre a biodiversidade e as vidas das pessoas” seja, por vezes, tão longa que não se dá conta dos perigos. Mas a realidade é esta: “Sem plantas, não haverá oxigénio. Sem abelhas para polinizar, não haverá frutas ou nozes. E os recifes de coral protegem-nos de ciclones e tsunamis”, reforça.

E se os humanos dependem muito dos benefícios dos ecossistemas naturais, como o acesso à comida, água potável, medicamentos ou, até oxigénio para respirar, é fundamental entender que “quanto mais biodiversidade perdemos, mais fracos os ecossistemas se tornam”, comprometendo, assim, o “fornecimento dos elementos vitais para a humanidade”.

[blockquote style=”2″] Covid-19 só veio tornar clara a urgência de uma ação imediata [/blockquote]

Relativamente às alterações climáticas, Carlos Moedas não questiona o quão importante é a biodiversidade na solução dos vários desafios, dando como exemplo o facto dos “ecossistemas florestais e costeiros” serem “grandes sorvedouros de carbono” e “amortecedores naturais efetivos de eventos meteorológicos extremos” causados pelas alterações climáticas. Já sobre os efeitos da atividade humana na natureza, esses são demasiado reais e, certamente, trarão “consequências irreparáveis” para os seres humanos e para o crescimento económico: “Os ecossistemas naturais suportam uma grande gama de atividades económicas e culturais”. E as estimativas indicam que “metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial depende da natureza”, o que significa que “44 biliões de euros estão expostos a perdas naturais”.  

Carlos Moedas evidenciou também que a pandemia da Covid-19 só veio tornar clara a urgência de uma ação imediata: “Sociedades saudáveis e resilientes dependem de dar à natureza o espaço e tempo de que ela necessita. E as ligações entre a nossa saúde e a dos ecossistemas são mais nítidas do que nunca”. Enquanto está a ser desenhada a recuperação do mundo pós-pandemia, o responsável quis também sublinhar a importância de “explorar as responsabilidades das fundações e organizações da sociedade civil”, acreditando que a “filantropia pode desempenhar um papel maior na luta contra a crise da natureza”, nomeadamente no “combate às principais forças de perda de biodiversidade” como a “alteração dos usos da terra e do mar”, as “alterações climáticas” e a “sobreexploração dos recursos naturais”. 

E nestas matérias a Fundação Calouste Gulbenkian está extremamente comprometida em fazer parte desta solução, tendo “alienado todo o portefólio de combustíveis fósseis” e adotado uma “política de investimento ESG” (ambiental, social e governança). Além disso, lançou o Prémio Gulbenkian para a Humanidade: “Um prémio de um milhão de euros que reconhece pessoas e organizações de todo o mundo com contribuições notáveis para o combate às alterações climáticas”, destaca o responsável, sendo que a primeira laureada foi a ativista Greta Thunberg.

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