Por João Amaral, Chief Technology Officer e Country Manager de Portugal da Voltalia
O Dia Internacional da Biodiversidade, que se assinala a 22 de maio, é uma nova oportunidade para refletirmos sobre a diversidade de espécies que habitam no nosso planeta e sobre a importância vital de as protegermos. A biodiversidade não é apenas um conceito bonito da ecologia — os ecossistemas sustentam a vida humana, assegurando funções tão essenciais como a produção de alimentos, a regulação do clima, a purificação da água ou a fertilidade dos solos. Perder biodiversidade é, na prática, comprometer as gerações futuras e, consequentemente, a própria existência humana.
Neste contexto, a transição energética para fontes renováveis não é apenas urgente — é uma oportunidade estratégica inadiável para conciliarmos desenvolvimento económico com sustentabilidade ambiental. Durante demasiado tempo, a produção de energia foi feita à custa da natureza: exploração intensiva de combustíveis fósseis, emissão de gases com efeito de estufa, poluição do ar e das águas, destruição de habitats naturais. Hoje, mais do que nunca, temos a responsabilidade, o conhecimento e as ferramentas para mudar este rumo.
Acredito firmemente que a transição para energias limpas deve andar de mãos dadas com a proteção da biodiversidade e esta visão deve estar presente em todas as ações desenvolvidas rumo a um novo paradigma energético — desde a seleção dos locais para a instalação de parques solares, hídricos e eólicos, até à sua operação e manutenção, que hoje em dia é feita com os mais apertados critérios de sustentabilidade e proteção da biodiversidade. Produção de energia e conservação dos ecossistemas não são objetivos incompatíveis — pelo contrário, podem e devem coexistir.
Para isso, é fundamental recorrer a estudos de impacte ambiental rigorosos, que envolvem preparação afincada de equipas, assegurar uma monitorização contínua da fauna e flora, e implementar medidas eficazes de minimização e compensação de impactos. Sempre que possível, devemos privilegiar o envolvimento de parceiros locais, investigadores e associações de conservação, garantindo que cada projeto respeita — e, idealmente, valoriza — a riqueza natural dos territórios onde se insere.
Existem já muitos exemplos inspiradores. Em parques solares, a gestão ecológica do solo através de pastoreio rotativo com ovinos tem provado ser eficaz na manutenção da vegetação e na redução do risco de incêndios. A produção de mel, a plantação e recuperação de espécies em vias de extinção e que encontram proteção nestas centrais de energia. Em projetos eólicos, a adaptação dos traçados e o planeamento das obras tendo em conta períodos de nidificação ou migração de aves são medidas fundamentais para proteger a avifauna, assim como a alteração à construção para épocas que não prejudiquem períodos importantes para cada espécie. Em operação, parar ou não funcionar quando há risco. E, modelos que promovem a coexistência entre agricultura e produção de energia, como a agrovoltaica, demonstram que é possível gerar valor ambiental, social e económico em simultâneo.
As alterações climáticas são hoje o principal impulsionador da perda de biodiversidade a nível global. Para lhes responder, é imperativo reduzir drasticamente as emissões de carbono. Apesar das energias renováveis terem aqui um papel central, não podem ser encaradas como uma solução isolada. O verdadeiro desafio passa por garantir uma transição energética que seja não só eficaz, mas também justa, inclusiva e ecologicamente responsável.
Ao adotarmos práticas de desenvolvimento sustentável, ao integrarmos critérios de biodiversidade nas decisões energéticas e ao envolvermos ativamente as comunidades locais, podemos, e devemos ser agentes de regeneração ambiental e de criação de valor partilhado.
Neste Dia Internacional da Biodiversidade, importa recordar que o planeta é a nossa casa comum e, independentemente do local onde vivemos, todos temos um papel a desempenhar. Produzir energia limpa, promover a biodiversidade e contribuir para um futuro mais equilibrado entre os humanos e a natureza é, acima de tudo, uma responsabilidade coletiva.







































