O estegossauro mais completo da Europa – o indivíduo fóssil de Miragaia longicollum identificado como MG 4863 – foi recolhido próximo da Atouguia da Baleia, Peniche por Georges Zbyszewski e pertence ao Museu Geológico do LNEG, onde, em breve, estará em exibição ao público.
Apesar de ter sido encontrado em finais da década de 50 (1958-59), numa escavação conduzida pelo geólogo Georges Zbyszewski (1909-1999), possivelmente o cientista mais relevante para a Geologia e Paleontologia de Portugal durante o Século XX, o esqueleto ficou guardado até ser finalmente estudado entre 2015-2019, por Francisco Costa, então bolseiro do LNEG, inicialmente sob orientação de O. Mateus.
A maior parte da história da sua recolha continuava desconhecida e alguns ossos ainda precisavam de ser libertados da rocha envolvente. Contudo, após serem cruzadas várias informações históricas recentemente descobertas, foi finalmente possível acertar o local exacto onde foi recolhido, em boa parte graças a um caderno de notas do responsável pela escavação, Georges Zbyszewski.
Relevante foi, também, o depoimento de um habitante de Atouguia da Baleia, Luís Filipe Silva, nascido em 1956 e criado a cerca de 200 metros do local da escavação, que indicou aos investigadores a localização da larga cavidade onde foi recolhido o dinossauro, hoje em dia quase imperceptível, devido à erosão e à vegetação que a ocultava, mais de 60 anos passados.
A descoberta do local de recolha, juntamente com um mapa completo da escavação, finalmente localizado nos Arquivos Históricos dos Serviços Geológicos de Portugal, hoje propriedade do LNEG, permitiram finalmente fazer uma caracterização completa do contexto geológico e pré-histórico deste animal fóssil, podendo assim compará-lo adequadamente com os outros dinossauros com os quais cohabitaria há cerca de 153 milhões de anos.
Os ossos fósseis deste animal revelaram também novos exemplos da anatomia única desta espécie de estegossauro. A revisão da morfologia do esqueleto levou a concluir que este indivíduo difere em 23 diferenças anatómicas da espécie parente mais próxima na Europa (o estegossauro Dacentrurus armatus, primeiro descoberto na Inglaterra) assim reforçando que Miragaia longicollum é uma espécie única e distinta de estegossauro, a única espécie de estegossauro nomeada em Portugal, agora ainda melhor caracterizada, anatomica e historicamente.
Este trabalho, de uma equipa composta por de Francisco Costa (Museu da Lourinhã), com os co-autores Susannah C. R. Maidment (The Natural History Museum, Londres, Reino Unido), Cristina Sequero-Lopéz (Universidad Complutense de Madrid, Espanha) e Vicente D. Crespo (NOVA Lisboa e Museu da Lourinhã) foi publicado recentemente nas Comunicações Geológicas, revista geocientífica do LNEG.








































