Por Filipa Oliveira, Sandrina Tralhão e Vanessa Biel, LEAP Consulting
“Ô, Sol / Vê se não esquece e me ilumina / Preciso de você aqui”
A Agenda 2030 das Nações Unidas estabeleceu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para promover um futuro mais justo e sustentável. Entre eles, o ODS 7 que, no seu propósito, visa assegurar o acesso à energia de forma confiável, sustentável, moderna e, ainda, a um preço acessível e justo para todos.
Todos concordamos que se não começarmos, transversalmente, a recorrer à energia limpa e acessível, incorremos de riscos e danos globais, os quais, eventualmente, sem retorno. São inúmeros. Destacamos alguns.
Eventos climáticos extremos e impactos irreversíveis nos ecossistemas, decorrentes do aumento da temperatura média global e derretimento das massas de gelo polares.
Comprometimento da biodiversidade e dos ecossistemas, com todos os impactos decorrentes no ambiente, nas pessoas e, até, nos negócios, com a necessidade de alguns se reinventarem, dada a escassez de recursos naturais ou, mesmo, a sua extinção a curto/médio prazo.
Comprometimento do desenvolvimento dos países pobres que emerge da convergência entre a instabilidade económica e a dependência energética destes países; decorre a maior exposição a apagões, pela flutuação nos preços da energia, e, ainda, a maior vulnerabilidade a crises geopolíticas.
Diminuição da saúde de qualidade, com aumento de doenças respiratórias, cardiovasculares e cancerígenas, decorrentes da poluição do ar e da água.
Desigualdade social, uma vez que energia cara é, ainda, mais inacessível a pessoas em situação de pobreza, as quais poderão, mesmo, ver inviabilizados o acesso a aquecimento, eletricidade ou transporte.
Urge uma rápida e ágil inversão de marcha deste caminho que nos levará a inexistência. Do Planeta. E das pessoas.
Atualmente, a tentativa de retorno encontra-se securizadaem exigências, orientações e legislação, também, dirigidas às empresas, que apelam ao recurso a energias limpas e acessíveis. Porém, nem sempre estas exigências são devidamente apoiadas. Ou financiadas.
No entanto, relembramos que as empresas desempenham um papel vital na concretização do ODS 7; não apenas enquanto consumidoras de energia, mas, também, como impulsionadoras e catalisadoras de inovação e inclusão energética. Assim, negar este caminho, contornar as exigências ou realizar greenwashing não é solução. É arriscar a sustentabilidade da empresa, a médio e longo prazo, a confiança dos stakeholders e a reputação da marca/empresa. Riscos que são, igualmente, danosos e colocam em causa a integridade do negócio.
Ao invés, se integradas na cultura da empresa, disseminadas por todos os stakeholders e alavancadas ao nível dos processos e operações, as boas práticas energéticas traduzem-se em resultados com impacto ambiental positivo, retorno financeiro e poderão, ainda, constituir-se enquanto modelos de inspiração para a mudança de comportamentos.
Alinhar a alma da empresa com o ODS 7
“Ô, Sol/ O seu brilho é meu abrigo”
A transição energética assenta numa mudança de mindsetque transforma um paradigma baseado em combustíveis fósseis, num sistema ancorado em fontes de energia limpas, renováveis e mais eficientes.
No alcance desta transição, as empresas terão de implementar procedimentos e práticas que permitam que, no mais curto espaço de tempo, sustentabilidade empresarial e ambiental se encontram garantidas. Destacamos alguns.
Diagnóstico Energético. Uma auditoria energética, com mapeamento dos principais pontos de consumo e desperdício, estabelecendo uma linha base do consumo atual, é um excelente ponto de partida quer para a análise de necessidades, e respetiva correção cirúrgica, quer para uma monitorização mais rigorosa da evolução da transição.
Objetivos e metas. Decorrentes ou não do Diagnóstico anteriormente referido, deverão ser definidos objetivos de redução de emissões e de consumo energético e delineadas as respectivas estratégias para os alcançar. Assim se constrói caminho para o propósito.
Certificações. Nalgumas circunstâncias, existem ganhos acrescidos em implementar certificações; estas ajudam as empresas a implementar, manter e melhorar continuamente a gestão da energia. Como? Aumentam a eficiência energética, reduzem custos e minimizam o impacto ambiental. A título de exemplo, ISO 50001.
Investimento em energias renováveis. Dependendo das necessidades levantadas e da priorização das mesmas, este investimento pode passar pela instalação de painéis solares fotovoltaicos ou sistemas térmicos, recurso à energia eólica (se viável geograficamente), à biomassa ou biogás (em setores agrícolas ou industriais) ou à contratação de energia limpa.
Modernização de equipamentos. Na generalidade das situações, as empresas concluem a necessidade de substituir equipamentos antigos por modelos mais eficientes, como motores, compressores ou iluminação LED. A necessidade de automatizar sistemas de climatização, refrigeração e iluminação. De instalar sensores de presença e temporizadores. Ou, ainda, de melhorar o isolamento térmico de edifícios e espaços produtivos.
Reutilização e gestão inteligente da energia. Implementar sistemas de monitorização do consumo, em tempo real, reutilizar calor residual de processos industriais e integrar sistemas de geração e armazenamento (ex: baterias com solar) são, também, boas estratégias para o alcance dos objetivos.
Acesso a financiamento verde. Se para o investimento e modernização, a empresa precisar de financiamento, existem linhas de crédito específicas para projetos de eficiência renovável e participações em iniciativas públicas e privadas de incentivo à descarbonização. Estas ajudam a não comprometer ou atrasar a transição. Porque o Planeta não espera.
Medição. Medição. Medição. Esta é a mudança que nunca poderá mudar. Tem de ser constante. Metódica. Sistemática. E perene. Medir os kWh economizados, CO₂ evitado, retorno financeiro, entre outros. Neste processo, eventualmente haverá necessidade de atualizar estratégias com base nos resultados e nas inovações tecnológicas.
“Ô, Sol / Vem, aquece a minha alma / E mantém a minha calma”
A transição energética representa um imperativo inadiável. Para além de mitigar os riscos climáticos, assume-se como uma oportunidade estratégica para as empresas se posicionarem como agentes de mudança e adquirirem valor no mercado. As empresas que liderarem esta transformação estarão melhor posicionadas. Pela redução de custos operacionais, pelo fortalecimento da sua reputação, pela abertura de caminho a novos modelos de negócios e mercados sustentáveis.
O papel das empresas transcende o compromisso ambiental. Trata-se de uma reinvenção de modelo de negócio, no qual cada decisão corporativa contribui para a construção de um futuro mais resiliente, sustentável e competitivo.
No entanto, a verdadeira transição climática só acontece quando todos, Governos, empresas e sociedade, unem sinergias.
Façamos a nossa parte!







































