A Bain & Company publicou a terceira edição do relatório “The Visionary CEO’s Guide to Sustainability 2025”, que mostra que o declínio da sustentabilidade como prioridade para os líderes empresariais, que a consultora tinha detetado entre 2023 e 2024, está a atingir um ponto de estabilização. Embora os CEOs falem menos sobre sustentabilidade atualmente, continuam a agir com esse propósito. A partir de uma análise a 35 mil declarações feitas por CEOs de 150 das principais empresas em 2018, 2022 e 2024, a ferramenta Sustainability Pulse, baseada em inteligência artificial da Bain, identificou uma evolução clara: em 2024, 54% dos CEOs associavam sustentabilidade a valor para o negócio, um aumento de 18% face a 2018.
“Após os primeiros anos de grandes ambições e discussão de metas, os CEOs fizeram no último ano uma reflexão realista sobre a sua agenda de sustentabilidade. Hoje poderão falar menos sobre o tema, mas o que não expressam em palavras traduzem-no em ação — passaram do ‘dizer’ ao ‘fazer’”, afirmou Francisco Sepúlveda, partner da Bain em Lisboa. “O estudo que apresentamos mostra que cada vez mais compradores B2B procuram fornecedores sustentáveis e que os consumidores B2C valorizam de forma crescente este fator, premiando as empresas que oferecem produtos inovadores, acessíveis e sustentáveis. Um dado particularmente relevante este ano é a crescente utilização da inteligência artificial para gerar impacto sustentável — e a realidade é clara: as organizações que atuam de forma sustentável fazem-no porque obtêm retornos tangíveis e atrativos”.
A adoção de inteligência artificial aumentou significativamente: as empresas utilizam IA para reduzir o consumo energético, diminuir o desperdício, melhorar a segurança no trabalho e acelerar o progresso rumo aos seus objetivos de sustentabilidade. Dos 400 executivos de topo e responsáveis de sustentabilidade inquiridos em nove países, cerca de 80% veem uma oportunidade grande ou muito grande na IA para apoiar as suas iniciativas de sustentabilidade. No entanto, mais de 50% ainda estão nas fases iniciais de testes e exploração destas aplicações.
Contudo, os setores devem estar atentos ao impacto ambiental do crescimento da IA. A ferramenta INTERSECT da Bain, que combina clima e economia, estima que, num cenário de elevado crescimento, os centros de dados e a IA poderão emitir 810 milhões de toneladas de CO₂ por ano até 2035, o equivalente a 2% das emissões globais e 17% das industriais. Nos EUA, isso pode significar que a quota de emissões industriais atribuídas à IA aumente de 18% em 2022 para mais de 50% em 2035.
“A inteligência artificial deixou de ser opcional — é hoje essencial para desbloquear impacto sustentável. Enquanto muitas empresas ainda estão em fase de testes, líderes já aplicam a IA para reduzir energia e desperdício, melhorar a segurança e acelerar metas ambientais, capturando simultaneamente valor de negócio. A mensagem é clara: a IA não deve ser vista como um extra, mas integrada de forma estratégica e ambiciosa no centro da agenda de sustentabilidade.”, afirma Diogo Rebelo, senior manager da Bain.
As empresas B2B estão a valorizar amplamente a ligação entre sustentabilidade e rentabilidade. Num inquérito da Bain a mais de 750 clientes B2B dos setores automóvel, embalagens, químicos, maquinaria, metais e construção, metade afirma que já compra mais aos fornecedores mais sustentáveis, e quase 70% planeiam reforçar essas compras nos próximos três anos.
90% dos líderes, ou seja, empresas com crescimento de receitas superior aos concorrentes, esperam que a sustentabilidade tenha um impacto positivo nos seus negócios nos próximos três anos. Líderes de todas as regiões, mesmo onde os governos recuaram, veem como positivo o impacto da sustentabilidade nos negócios.
Os consumidores B2C partilham da mesma visão sobre a sustentabilidade. A Bain inquiriu mais de 14.000 consumidores em oito países, e, apesar de uma ligeira diminuição das preocupações ambientais face à instabilidade geopolítica e ao aumento do custo de vida, quatro em cada cinco consumidores continuam a valorizar profundamente a sustentabilidade. Curiosamente, os Boomers adotaram mais novos hábitos sustentáveis do que a Geração Z nos últimos três anos, devido à sua maior capacidade financeira e flexibilidade para mudanças significativas.
Ainda assim, os consumidores enfrentam barreiras persistentes ao estilo de vida sustentável. O custo continua a ser a principal barreira, especialmente nos mercados desenvolvidos. Por exemplo, os consumidores dos EUA afirmam, em média, estar dispostos a pagar um prémio de até 13% por produtos verdes, mas dados da Universidade de Nova Iorque mostram que esses produtos têm um prémio médio de 28%.
Outra dificuldade é o conhecimento limitado sobre produtos sustentáveis. Embora mais de 60% se sintam confiantes a identificar opções sustentáveis, a maioria não consegue comparar com precisão o impacto carbónico de decisões do dia a dia, como o impacto de comer um hambúrguer face ao impacto de um voo de curta distância. Quase metade dos consumidores aponta a falta de informação clara e transparente como obstáculo. A tecnologia está a reduzir essa lacuna e a capacitar os consumidores. Mais de metade dos utilizadores de IA generativa, como o ChatGPT, afirmam usá-la para viver de forma mais sustentável, e cerca de um terço confia na IA para recomendações de produtos ecológicos. As empresas devem perceber o que é realmente importante para os consumidores e fornecer dados transparentes, acessíveis tanto para pessoas como para ferramentas de IA, sob pena de perderem relevância.
O relatório conclui também que 25% das emissões globais de dióxido de carbono podem ser reduzidas de forma lucrativa, através de medidas com retorno positivo como o aumento da eficiência energética, o design circular ou a localização das cadeias de abastecimento.
Mais 32% dos mecanismos de redução de emissões poderão tornar-se rentáveis a médio prazo. O seu desenvolvimento dependerá de alterações nas políticas públicas, avanços tecnológicos e mudanças no comportamento dos consumidores.
Também os hábitos de consumo são analisados e cerca de um terço dos inquiridos afirma praticar seis ou mais hábitos sustentáveis diariamente, e 70% desejam adotar rotinas ainda mais ecológicas, uma tendência que se verifica de forma consistente em diferentes regiões e grupos demográficos.








































