Por Maria Santos, Engenheira de Projeto FiniSal
A indústria da construção encontra-se num momento crucial de transformação. Historicamente associada a um elevado consumo de recursos e a um impacto ambiental significativo, este setor é hoje desafiado a reinventar-se, adotando práticas mais sustentáveis e responsáveis. Esta mudança não é apenas uma resposta às alterações climáticas e à escassez de recursos, mas também uma oportunidade para criar espaços que promovam o bem-estar e a qualidade de vida, sem comprometer o futuro do nosso planeta.
A certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um dos marcos mais relevantes na construção sustentável. Este sistema de avaliação, reconhecido internacionalmente, estabelece critérios rigorosos de eficiência energética, gestão de água, qualidade do ar interior, seleção de materiais e inovação no design, validando e incentivando práticas de excelência na construção residencial. Edifícios certificados apresentam uma redução significativa no consumo de energia e água, menor produção de resíduos e um ambiente interior mais saudável.
Um dos maiores desafios na implementação de práticas de construção sustentáveis é a perceção errónea de que sustentabilidade implica sacrifício de conforto. Na realidade, quando bem concebida, a arquitetura sustentável potencia o bem-estar dos utilizadores.
O design bioclimático, que tira partido das condições naturais do local para otimizar o conforto térmico, é um exemplo perfeito desta sinergia. A orientação adequada do edifício, maximiza os ganhos solares no inverno e minimiza o risco de sobreaquecimento no verão, contribuindo para a redução das necessidades de aquecimento e arrefecimento e garantindo níveis elevados de conforto térmico, o que melhora, significativamente, a qualidade do ambiente interior.
A escolha de materiais também desempenha um papel crucial nesta equação. Materiais de baixa toxicidade, com reduzida energia incorporada e, idealmente, de origem local ou reciclada, contribuem para edifícios mais saudáveis e com menor pegada ecológica. A integração de elementos naturais, como jardins verticais ou coberturas verdes com espécies autóctones, não só melhora o desempenho térmico do edifício como cria espaços mais agradáveis e promotores de bem-estar.
O avanço tecnológico tem sido um aliado fundamental na construção sustentável, oferecendo soluções cada vez mais eficientes e acessíveis para os desafios energéticos e hídricos. Na área da eficiência energética e gestão da água, destacam-se tecnologias como: Sistemas de aquecimento e arrefecimento de alta eficiência (bombas de calor, sistemas VRV); Painéis solares fotovoltaicos e térmicos; Isolamento térmico avançado; Sistemas de recolha e aproveitamento de águas pluviais; Equipamentos sanitários de baixo consumo; Sistemas de reciclagem de águas cinzentas; Jardins de chuva e outras soluções baseadas na natureza para gestão de águas pluviais; ou Sistemas de rega inteligentes e eficientes, entre outros.
A domótica e a automação permitem ainda otimizar o uso destes recursos, através de sistemas integrados que monitorizam e controlam os diversos equipamentos, garantindo o máximo de eficiência com o mínimo de intervenção humana.
Em Portugal, começamos a assistir ao surgimento de projetos que incorporam estas práticas e tecnologias, demonstrando que a construção sustentável é não só viável como desejável. Um exemplo interessante é o projeto FiniSal, que integra diversas práticas sustentáveis, desde a utilização de materiais ecológicos à otimização dos recursos hídricos e energéticos.
Para ultrapassar estas barreiras, é essencial desenvolver políticas e incentivos que promovam a construção sustentável, investir na formação e capacitação de profissionais, fomentar a investigação e o desenvolvimento de soluções mais acessíveis, e sobretudo sensibilizar o público para os benefícios a médio e longo prazo.
A construção sustentável não é uma opção, mas uma necessidade imperativa face aos desafios ambientais que enfrentamos. Felizmente, os avanços tecnológicos e a crescente consciencialização têm aberto caminho para soluções que conciliam responsabilidade ambiental com qualidade de vida.
Projetos pioneiros que incorporam certificações como o LEED, que adotam tecnologias inovadoras para eficiência energética e hídrica e que repensam a relação entre o edificado e o seu contexto, são exemplos inspiradores do potencial transformador da construção sustentável.
O caminho é desafiante, mas as oportunidades são vastas. Como profissionais e cidadãos, temos a responsabilidade e o privilégio de contribuir para um futuro construído, literalmente, sobre alicerces mais sustentáveis.








































