Numa conversa com Tiago Marques, Senior Innovation Consultant na Beta-i, a Ambiente Magazine percebeu em que ponto está o financiamento de startups e que valores devem estar alinhados neste momento de potencial crescimento.
Qual é o primeiro passo para uma startup que procura financiamento para as suas ideias?
Antes de tudo, é importante que a startup tenha muito bem definido o problema que quer resolver. Não basta ter uma ideia boa, é preciso perceber se há mesmo esse tópico no mercado e se a solução proposta tem valor para quem a vai usar. A seguir, convém estruturar um modelo de negócio claro e mostrar que há potencial para escalar.

Depois disto, vale a pena parar para pensar que tipo de financiamento faz mais sentido. Nem todo o dinheiro é igual e há momentos em que o melhor apoio pode vir de business angels, outros de fundos de capital de risco ou até de programas públicos e parcerias com grandes empresas. E claro que tudo isto tem de ser apresentado de forma convincente: um pitch bem preparado, focado no impacto, na tração (mesmo que seja pequena) e numa visão clara de crescimento, faz toda a diferença.
É cada vez mais pertinente que estas ideias estejam alinhadas com os ideais da sustentabilidade para facilitar o acesso a financiamento?
Sim, faz cada vez mais diferença e não é só um tema da moda. Muitos investidores, especialmente os públicos e europeus, estão mesmo a dar prioridade a projetos com impacto positivo na sociedade e no ambiente. Os critérios ESG (ambientais, sociais e de governação) já são levados a sério por quem decide onde investir. E em programas europeus como o Horizon Europe ou o EIC, a sustentabilidade deixou de ser um “nice to have” para ser praticamente obrigatória, ou seja, se uma startup conseguir alinhar a sua proposta com os objetivos de impacto, está a abrir portas a mais oportunidades de financiamento e parcerias.
Que apoio pode dar a Beta-i neste sentido?
Na Beta-i, ajudamos startups a crescer com programas de aceleração e inovação aberta que ligam empreendedores a empresas, investidores e especialistas. Um bom exemplo é o Bluetech Accelerator, que junta soluções ligadas à economia azul e à sustentabilidade com entidades como a Administração do Porto de Lisboa, Águas de Portugal ou o Instituto Hidrográfico. Ao entrar nestes programas, as startups têm acesso a mentoria, oportunidades de testes-piloto em contexto real e visibilidade dentro e fora de Portugal. O grande objetivo é criar um ambiente colaborativo onde as ideias não só se desenvolvem mais depressa, como ganham robustez para chegar ao mercado com outra força.
O que é que as empresas mais procuram de vossa parte, neste sentido?
As empresas procuram-nos essencialmente para quatro grandes áreas de atuação.
Em primeiro lugar, para encontrar soluções para os seus desafios ou alavancar oportunidades, através da colaboração com o ecossistema e com startups, seja em programas de aceleração, inovação aberta ou desafios específicos. A nossa experiência permite fazer esta ponte de forma estruturada, garantindo que há alinhamento entre as necessidades das empresas e o que o ecossistema pode oferecer.
Em segundo lugar, procuram-nos para apoiar na criação de novas áreas de negócio – seja através de corporate venture capital, seja com programas de intrapreneurship, que ajudam a promover uma cultura de inovação interna e a gerar ideias com potencial dentro da própria organização.
O terceiro eixo passa pelo desenho de estratégias de inovação, ajudando as empresas a posicionarem-se para o futuro do seu negócio com uma visão clara, integrada e adaptada ao futuro do seu setor.
Por fim, há uma preocupação crescente em medir resultados e perceber o impacto real da inovação no negócio. Ajudamos a definir métricas e a criar estruturas que permitem escalar o que funciona, garantindo que a inovação se traduz em valor concreto.
Portugal deve continuar a promover programas de inovação?
Sem dúvida. Se queremos que o país continue a crescer de forma competitiva, temos de apostar forte na inovação. Os programas públicos têm um papel muito importante, não só ajudam as empresas a adotar novas tecnologias e a entrar noutros mercados, como também são essenciais para apoiar ideias que ainda estão numa fase muito inicial. Muitas vezes, é este tipo de apoio que permite dar o primeiro passo. Além disso, programas bem estruturados ajudam a atrair talento, startups estrangeiras e investimento. No fundo, é uma forma de posicionar Portugal como um verdadeiro hub de inovação na Europa.
As empresas privadas também podem ajudar a impulsionar as ideias?
Claro que sim e deve. As empresas privadas têm cada vez mais interesse em colaborar com as startups, seja para resolver desafios internos ou para inovar mais rapidamente. Isto vê-se nos modelos de inovação aberta, mas também em estratégias de corporate venture capital, onde as empresas investem diretamente em soluções que lhes fazem sentido. Outro ponto importante são os ambientes de teste, quando uma startup tem oportunidade de validar a sua solução dentro de uma empresa, isso acelera imenso a maturação do produto e facilita a entrada no mercado, ou seja, o setor privado não é só um cliente ou um financiador: pode ser um verdadeiro parceiro de crescimento.








































