Por João Francisco Silva, formador Vulcano
Com toda a informação disponível atualmente, é difícil resistir à tentação de recorrer às redes sociais para pedir opiniões sobre o melhor sistema de aquecimento para nós.
No entanto, é importante não esquecer que as pessoas do outro lado do ecrã não conhecem a especificidade da obra e podem acabar por partilhar opiniões com base nas suas experiências pessoais e não nas expetativas ou necessidades de quem procura uma solução, no que diz respeito ao conforto e economia do sistema.
Para um aconselhamento concreto, fundamentado em conhecimentos técnicos e adaptados à realidade do local, é aconselhável consultar um projetista ou consultor técnico independente. Este profissional deverá visitar o local e perceber os constrangimentos técnicos e arquitetónicos que possam viabilizar ou impedir a opção por uma dada solução (por exemplo a existência ou não de ligação à rede de gás natural, espaço para unidades exteriores, potência livre no quadro elétrico, entre outros).
Que tipo de conforto pretende?
Muitas vezes, o equipamento mais eficiente não corresponde às expectativas do cliente final. Para os utilizadores que pretendem ligar e desligar o sistema com frequência ou ligar apenas durante curtos períodos, um sistema com resposta rápida como o ar condicionado ou as caldeiras de condensação com radiadores, são os mais indicados. Por outro lado, se pretende um conforto de forma contínua e possui pavimento radiante, as bombas de calor ou as caldeiras de condensação são os melhores equipamentos para o efeito.
Os sistemas como o pavimento radiante e os radiadores, uma vez que não possuem qualquer ventilador para fazer circular o ar no interior da habitação, são mais silenciosos e tendem a aquecer as massas pesadas da habitação e não apenas o ar, conferindo um maior conforto ao utilizador.
Antes de começar a idealizar o sistema de climatização necessário, é importante saber que tipo de utilizador temos perante nós e que tipo de soluções procura – se apenas aquecimento, aquecimento e arrefecimento ou produção de águas quentes sanitárias integrada e garantida pelo mesmo equipamento.
Produção de águas quentes sanitárias
As águas quentes sanitárias (AQS) podem ser produzidas de forma instantânea ou com o recurso a um depósito de acumulação.
Atualmente começam a aparecer equipamentos do tipo multi-split com produção de AQS mas, por ainda não ser uma tecnologia madura e não estar amplamente disponível, consideremos apenas as formas tradicionais, como sejam a bomba de calor ou a caldeira de condensação.
As bombas de calor, pelo seu tipo de funcionamento e potências disponíveis para uso doméstico, apenas podem produzir AQS através do recurso a um depósito de acumulação, que garante conforto e estabilidade no fornecimento de AQS, mesmo em múltiplos pontos de tiragem.
As caldeiras, além de conseguirem produzir as AQS da mesma forma que as bombas de calor, têm ainda a capacidade de efetuar esse aquecimento de forma instantânea, sem necessidade do depósito de acumulação, ocupando menos espaço e permitindo uma instalação com muito menor complexidade.
Custo de aquisição Vs. Custo de exploração
O consumidor, quando é vago na definição do sistema que pretende, é muitas vezes confrontado com orçamentos para soluções diametralmente opostas no que se refere a custos de aquisição e não possui nem conhecimentos técnicos nem toda a informação relevante para o apoiar na sua decisão.
Muitos orçamentos são apresentados na forma de uma lista de quantidades, frequentemente incompleta, sem serem acompanhados de uma análise económica detalhada que identifique não apenas os custos de aquisição, mas também os custos totais ao longo da vida estimada dos equipamentos onde deverão estar incluídos os custos energéticos e a manutenção previsível.
Uma análise económica deverá levar em conta, entre outros fatores, o COP da bomba de calor e o rendimento da caldeira de condensação nas condições reais de funcionamento.
As caldeiras de condensação ainda são uma opção viável?
No que respeita ao ambiente e emissões de poluentes no local de utilização não temos dúvidas de que a opção pela bomba de calor é a mais acertada, devemos também ter em conta que o COP de uma bomba de calor reduz-se drasticamente ao pedirmos temperaturas de água mais elevadas, como sejam os casos de funcionamento em AQS ou radiadores.
Continuam a existir muitas instalações com necessidades elevadas de potência ou temperatura e, muito embora já existam no mercado bombas de calor com potências elevadas e outras que podem produzir água a temperaturas semelhantes às caldeiras, a combinação de ambas as características em equipamentos compactos e versáteis, capazes de funcionar com elevado rendimento nas mais diversas condições, passa ainda pelas caldeiras de condensação.
A descarbonização do setor deve ser vista como uma prioridade, mas não pode implicar a eletrificação total do mesmo. Devemos privilegiar os equipamentos que utilizem fontes de energias renováveis como o solar térmico, seguido das bombas de calor.
Uma vez que as caldeiras já provaram ser indispensáveis e até, em alguns casos, a melhor solução técnica e económica, devemos manter o foco na substituição dos combustíveis com emissões de CO2 por outros mais amigos do ambiente, mas que nos permitam ter uma alternativa nas instalações em que as bombas de calor não sejam viáveis, por causa do seu custo elevado, potência elétrica disponível ou ocupação de espaço.









































