Por Tânia Saraiva, Diretora de Public Affairs da GSK Portugal
É inegável o papel da indústria farmacêutica nos avanços em saúde e, através da descoberta, desenvolvimento, produção e distribuição de medicamentos e vacinas inovadores, tem cumprido a sua missão fundamental: melhorar e prolongar a saúde e a qualidade de vida das populações, prevenindo e tratando doenças.
Igualmente inegável é o impacto ambiental do ciclo do medicamento: os sistemas de saúde produzem 4 a 5% das emissões globais de gases com efeito de estufa, sendo que as empresas farmacêuticas contribuem para uma proporção significativa dessas emissões. Uma realidade que exige a priorização de práticas sustentáveis capazes de reduzir o impacto da indústria no clima, mas também na biodiversidade e na redução dos resíduos de plástico, fatores que comprometem tanto a saúde humana, como a dos ecossistemas.
Da gestão eficiente de água e dos resíduos, passando pela diminuição da pegada de carbono, é enorme o potencial da indústria farmacêutica no alcance da meta da sustentabilidade em saúde, o que exige uma abordagem que tem de ir muito além da redução das emissões diretas, através da otimização energética e da descarbonização dos processos produtivos.
É preciso apostar em inovação em toda a cadeia de valor, desde a investigação e desenvolvimento clínico com menor impacto ambiental, até à implementação de sistemas de economia circular que minimizem o desperdício e maximizem a reutilização de recursos. Só assim será possível conciliar a missão vital da indústria farmacêutica com a preservação do ambiente que sustenta a saúde global.
Muitas iniciativas têm sido implementadas e outras estão em curso, acompanhadas de planos estratégicos e medidas concretas (no caso da GSK, membro fundador do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, desenvolvemos programas específicos de investigação clínica para redesenhar um dos nossos inaladores e implementámos um programa de políticas de compras sustentáveis, por exemplo). No entanto, sabemos que há muito mais a fazer ao nível dos produtos farmacêuticos, da eficiência energética e da otimização das cadeias de abastecimento, um trabalho que exige uma colaboração estreita e coordenada entre todos os setores da indústria e governamentais.
É importante sublinhar que a sustentabilidade transcende a dimensão puramente ambiental, abrangendo um espectro muito mais amplo de desafios. Abordar este tema é considerar, também, o acesso equitativo à inovação terapêutica e a promoção do investimento em investigação que, simultaneamente, impulsiona melhorias na saúde pública, reduz a carga financeira sobre os sistemas de saúde e aumente a sua capacidade de resposta.
Implica, ainda, a construção de sistemas de saúde capazes de responder aos desafios presentes e futuros. Um tema que não é novo e já estava em cima da mesa antes da recente pandemia. No entanto, a crise sanitária veio ilustrar de forma dramática a urgência desta transformação, elevando-a ao estatuto de prioridade. Neste contexto, a contribuição da indústria farmacêutica é fundamental, não apenas para a promoção da segurança sanitária, mas também para garantir a capacidade de resposta rápida a emergências de saúde pública, assegurar a continuidade do fornecimento de medicamentos essenciais e desenvolver soluções terapêuticas inovadoras que fortaleçam a preparação para futuras crises.
No fim, a sustentabilidade em saúde não é apenas uma meta ambiental ou económica: é uma escolha civilizacional. Cabe à indústria farmacêutica assumir o seu papel como motor de inovação e agente de mudança, mas este desígnio só será alcançável através de uma colaboração estreita com o setor público e todos os outros atores do sistema de saúde.
Cuidar das pessoas e cuidar do planeta é, assim, uma e a mesma coisa. Se soubermos alinhar ciência, responsabilidade coletiva e visão de futuro, a próxima grande revolução da indústria não será apenas terapêutica, mas também ambiental – e é essa que definirá a saúde das próximas gerações.









































