Por João Pereira, CEO da Gestlifes
O Crédito deixou de ser apenas um dos pilares do sistema financeiro. Hoje, está também no centro da responsabilidade ambiental e da transição para uma economia mais sustentável. O BCE confirma: os bancos europeus já aplicam condições de financiamento distintas consoante o desempenho climático das famílias e empresas.
De facto, existe já um “desconto climático”, que atribui taxas mais vantajosas e critérios mais flexíveis para empresas e particulares que apostam na eficiência energética e na redução de emissões. Pelo contrário, quem ignora a transição enfrenta spreads mais altos, prazos mais curtos ou mesmo recusas de Crédito.
Em Portugal, a banca assume igualmente aplicar condições menos restritivas a imóveis com elevado desempenho energético e mais exigentes aos de fraco desempenho, com diferenças que podem chegar a 0,2% no spread.
O mercado financeiro está, assim, a integrar o risco climático no centro da sua avaliação de Crédito, seja um empréstimo pessoal ou um crédito habitação.
Este novo paradigma considera não apenas a saúde financeira do cliente, mas também a resiliência do ativo às alterações climáticas e o contributo para a neutralidade carbónica. O risco físico – de incêndios, inundações e secas – e o risco de transição – associado a novas políticas ambientais e tecnológicas – passaram a influenciar diretamente as condições de financiamento.
Em bom rigor, um imóvel numa zona propensa a inundações vale menos. Uma empresa que não investe na transição enfrenta custos crescentes e regulação mais apertada. São exemplos que ilustram bem uma realidade em que a sustentabilidade é recompensada economicamente.
Esta tendência vai reforçar-se. A partir de 2026, o BCE introduzirá um fator climático na avaliação das garantias bancárias, reduzindo o valor dos ativos com maior risco ambiental. Ou seja, a eficiência energética e a resiliência climática deixarão de ser apenas atributos desejáveis. Serão igualmente determinantes na solidez do sistema financeiro europeu.
Para as famílias e empresas portuguesas, esta mudança representa tanto um desafio como uma oportunidade. Efetivamente, investir em eficiência energética, modernizar edifícios, apostar em tecnologias limpas e integrar critérios ESG (ambientais, sociais e de governação) é uma decisão económica cada vez mais inteligente.
Em síntese, a transição climática precisa de financiamento e o financiamento precisa de critérios que premeiem o futuro. Ao alinhar as condições de Crédito com o desempenho climático, os bancos estão a redefinir o conceito de risco e a contribuir ativamente para a construção de uma economia mais verde e resiliente.
Este é o caminho inevitável e desejável: um sistema financeiro que reflete e, mais do que isso, acelera a transição energética e climática.








































