Por Footprint Consulting
Quando se fala em pegada de carbono de uma empresa, a atenção normalmente recai sobre as emissões diretas de operações próprias: fábricas, energia consumida, frota própria (Scope 1 e 2). No entanto, a realidade é que, para a maioria das grandes empresas, as emissões indiretas de Scope 3 representam a maior fatia do impacto ambiental, frequentemente mais de 80% do total, chegando em alguns setores a 90%, especialmente em cadeias de distribuição complexas. É aqui que surge o maior desafio, e também a maior oportunidade, para empresas que desejam liderar em termos de sustentabilidade.
O Scope 3 contempla as emissões associadas a toda a cadeia de valor: fornecedores de matérias-primas, transporte e logística, uso de produtos e reciclagem. Isto significa que cada fornecedor se torna num “ponto crítico” na pegada de carbono. Ignorar esta realidade não é opção, por conseguinte os grandes grupos internacionais já começaram a condicionar as suas relações comerciais em função do reporte de carbono dos seus fornecedores.
Um exemplo sintomático é a Walmart, que exige desde 2009 que todos os seus fornecedores reportem as suas emissões, e apresentem as suas estratégias de redução das mesmas. A gigante norte-americana estima que as emissões do Scope 3 representem cerca de 90% do seu total, sendo que a exigência de reporte aos seus fornecedores permite transferir a responsabilidade direta de cada emissão.
Outro caso internacional é o do grupo Unilever, que desenvolveu uma plataforma interna para integrar dados de todos os seus fornecedores e criar métricas de redução de carbono padronizadas e auditáveis.
Na Europa, a diretiva CSRD veio reforçar drasticamente esta exigência. Todas as empresas de grande dimensão, incluindo as que operam com cadeias de fornecimento extensas, terão de reportar suas emissões totais, incluindo Scope 3, com auditoria independente. Isto significa que os fornecedores que não fizerem as suas próprias medições podem colocar em risco a sua relação comercial, levando à exclusão nos contratos de fornecimento. Empresas como a Bosch e a Allianz já condicionam contratos e investimentos à efetiva medição de carbono de todos os fornecedores, evidenciando que não se trata apenas de ética corporativa, mas de um requisito de negócio.
A problemática é clara: se uma empresa/Grupo empresarial tem dezenas ou mesmo centenas de fornecedores, cada um representa uma parte significativa das emissões indiretas do Grupo. A solução estratégica é simples, mas pouco aplicada: permitir que cada fornecedor meça, reporte e compense suas próprias emissões, transformando essas emissões de Scope 3 do grupo em Scope 1 e 2 dos fornecedores. O resultado é duplo: o Grupo reduz sua pegada indireta, e os fornecedores ganham autonomia e credibilidade ambiental, criando um ciclo de responsabilidade corporativa que beneficia todos os intervenientes.
A estatística fala por si: segundo a Science Based Targets Initiative, empresas que implementam programas de gestão de fornecedores para Scope 3 conseguem reduzir até 30% das suas emissões totais em cinco anos, simplesmente ao incentivar ou exigir que os fornecedores reportem e adotem estratégias de redução. A prática ainda é incipiente em Portugal, mas os exemplos internacionais mostram que a tendência é irreversível, e quem não agir agora corre o risco de perder contratos, clientes e competitividade.
No contexto da banca, existe também um incentivo financeiro: os bancos portugueses, como o Banco BPI, Millennium BCP e Novo Banco, oferecem taxas de juro mais favoráveis e linhas de crédito verdes para empresas com programas de redução de carbono claros, incluindo iniciativas de Scope 3. Isso significa que a gestão da cadeia de fornecedores não é apenas uma questão de conformidade ou reputação, mas também de vantagem competitiva direta no acesso a financiamento.
Importante notar que grandes empresas não precisam reinventar a roda desenvolvendo plataformas próprias. Ferramentas prontas, como as oferecidas pela Footprint Consulting, permitem que grupos integrem todos os fornecedores num sistema SaaS auditável, certificado pelo GHG Protocol e ISO, facilitando a recolha de dados, cálculo de emissões, monitorização de metas e relatórios consolidados. A vantagem é imediata: redução de custo e tempo de implementação, maior confiabilidade dos dados e garantia de conformidade regulatória.
O futuro aponta para um cenário ainda mais integrado: soluções SaaS combinadas com inteligência artificial vão permitir prever emissões futuras, priorizar fornecedores críticos e identificar oportunidades de mitigação em tempo real. Os Grupos empresariais que adotarem essa abordagem estarão não apenas em conformidade com regulamentações como a CSRD, mas também se posicionarão como líderes globais em sustentabilidade, criando uma cadeia de fornecedores resiliente, responsável e competitiva.
Em suma, a gestão de emissões de Scope 3 não é um luxo ou uma tendência opcional: é uma necessidade estratégica. As empresas que trabalhem na sua capacitação e integração dos seus fornecedores, utilizando ferramentas digitais certificadas, estarão preparadas para enfrentar exigências legais, otimizar acesso a financiamento verde, fortalecer sua reputação e contribuir efetivamente para um futuro de baixo carbono.









































