Por Sérgio Chéu, diretor geral Smart Vision*

A Estratégia Nacional de Territórios Inteligentes (ENTI) representa um marco relevante para este intento, procurando responder aos desafios da transição digital, da coesão territorial e de maior eficiência dos serviços públicos. Porém, a verdadeira transformação de um território exige mais do que a simples enumeração de intenções: exige visão, pensamento estratégico, ação concertada e compromisso com o desenvolvimento sustentável.
Destarte, como temos dito, é possível identificar, nas mais diversas latitudes do nosso território continental e insular, dois grandes grupos de municípios: por um lado, aqueles que têm vindo a integrar a tecnologia como parte de uma visão com sentido de transformação; por outro, os que ainda não incorporaram a transformação digital nas suas agendas de políticas públicas como um vetor central e estruturante para o desenvolvimento sustentável dos seus territórios. Importa sublinhar que, mesmo entre territórios que se assumem como “smart”, é frequente vermos uma adoção fragmentada da tecnologia, muitas vezes desprovida de alinhamento estratégico, surgindo como resposta a pressões de convergência ou à necessidade de não ficar para trás na corrida da modernidade. Todavia, a pergunta essencial permanece: para que serve, verdadeiramente, a tecnologia nos territórios? A resposta exige um olhar mais profundo. A transição digital começa dentro das organizações públicas — é endógena antes de ser exógena. Só com sistemas organizacionais amadurecidos é possível produzir, gerir e utilizar informação territorial de forma eficaz, promovendo decisões informadas que gerem valor real para os cidadãos e para os territórios.
Ser um território inteligente não se cinge a entregar tecnologia. É erigir capacidade de planear com rigor, de dialogar com as partes interessadas, de integrar informação e de alinhar cada investimento com uma estratégia territorial clara, que tenha como norte um desenvolvimento duradouro, inclusivo e ambientalmente responsável e sustentável. É essa a tríade que deve orientar a ação de política pública local: desenvolvimento, sustentabilidade e transição digital (por esta ordem e com esta hierarquia).
Diga-se que a tecnologia é um meio, não um fim. É desejável e necessária, mas sempre sob um enfoque estratégico que coloque as pessoas e os territórios no centro. Sem esse foco, qualquer política corre o risco de fracassar na implementação, por inutilidade, mesmo que pareça vanguardista.
É aqui que sobressai o papel de parceiros especializados, multidisciplinares, orquestradores dos vários stakeholders e com conhecimento efetivo da realidade autárquica, para a devido e efetivo ganho nesta demanda de modernidade na gestão da res publica. O nosso percurso neste âmbito tem sido substantivo, acompanhado a ENTI desde a sua génese, tendo participado nas sessões de auscultação pública iniciais, apoiando municípios e comunidades intermunicipais e associações de municípios na construção de candidaturas, na elaboração dos Planos de Ação Regional (PAR) e Local (PAL) e, mais importante, na materialização e operacionalização das soluções e investimentos no terreno.
O poder local tem hoje uma oportunidade única para inaugurar uma nova geração de políticas públicas locais: mais inteligentes, sim, mas sobretudo mais humanas, mais colaborativas e mais ancoradas em dados que representem a realidade dos territórios e que sejam o fundamento para uma tomada de decisão informada e com valor. Isso só acontecerá se houver capacidade de execução e se cada estratégia for mais do que um documento, se for visto como um incontornável compromisso com o futuro.
*Este artigo foi publicado na edição 111 da Ambiente Magazine.









































