O Mercado do Bolhão, no Porto, é até novembro palco da instalação “Tudo se Transforma”, resultado de um workshop que reuniu estudantes e arquitetos nacionais e internacionais numa experiência imersiva de criação a partir de resíduos.
Foram reutilizados 2.000 cones provenientes da indústria têxtil, setor marcado pelo consumo intensivo de recursos, para dar forma a uma pérgula suspensa, peça de arquitetura efémera que convida a repensar o ciclo de vida dos materiais. Paralelamente, resíduos da indústria gráfica ganharam nova expressão em módulos de papel reinterpretados e integrados no espaço do mercado.
Mais do que obras temporárias, as peças convidam o visitante a “repensar a forma como habitamos, produzimos e transformamos o espaço urbano”, como aponta Manuela Silva, CEO da Antiga Casa Pompeu, operadora de referência na gestão global de resíduos, a completar 120 anos.
A iniciativa foi coorganizada pela Antiga Casa Pompeu, pelo gabinete de arquitetura hori-zonte, pela FAUP – Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, e pelo próprio Mercado do Bolhão, unindo esforços em torno de um mesmo objetivo: demonstrar que resíduos são matéria-prima valiosa e, na peugada, sensibilizar cidadãos, comerciantes e visitantes para a urgência de práticas mais circulares.
Como sublinha Manuela Silva, “este projeto é uma extensão natural da missão da Antiga Casa Pompeu, que transforma resíduos em recursos, promovendo uma cultura de circularidade que atravessa gerações”. Esforço que fez o Mercado do Bolhão abrir as portas esta semana esteticamente mais enriquecido, através destes exercícios de arquitetura efémera, num gesto coletivo que cruza inovação, pedagogia e sensibilização urbana.
“O Bolhão, enquanto símbolo da tradição e da vitalidade económica local, é o cenário ideal para dialogar com o passado e o futuro da cidade. Acreditamos que a arquitetura pode ser um veículo poderoso de mudança, capaz de testar ideias, inspirar práticas mais sustentáveis e repensar os seus próprios limites perante a urgência climática”, acrescenta Diogo Lopes Teixeira, fundador do hori-zonte.
De resto, a escolha permite transferir uma maior relevância para o tema da redução do desperdício e da reutilização, dada a funcionalidade primordial do espaço, onde os produtos frescos e locais são promovidos. O que possibilitará sensibilizar os cidadãos sobre como, todos, podemos contribuir para um futuro mais sustentável no contexto de um ambiente urbano, no uso consciente de materiais rejeitados.
No final da exposição, todos os materiais utilizados na instalação serão novamente encaminhados para reciclagem, regressando ao circuito da indústria transformadora e reforçando o princípio de Antoine de Lavoisier, de que nada se perde, tudo se transforma.






































