O mercado de Benfica recebe cerca de 30 mil visitantes por semana, muitos vindos dos territórios como Amadora, Odivelas e Miraflores, e por isso o comércio local é um dos motores da dinâmica urbana. Mas como é que se pode valorizar ainda mais este ativo através de uma aposta sustentável na mobilidade e sem colocar em causa a qualidade de vida de quem aqui vive?

Ricardo Marques, Presidente da Junta de Freguesia de Benfica, começa por contar à Ambiente Magazine que a freguesia é das poucas em Lisboa que se destaca no crescimento de estabelecimentos comerciais – em 2014 contava com 470 e atualmente ultrapassa os 1.000 – muito causado pela gentrificação do município lisboeta, que levou muitos benfiquenses a migrarem para concelhos vizinhos.
Com esta forte dinâmica comercial, houve necessidade de fomentar uma vida de rua mais ativa e acessível, tanto para residentes como para visitantes. A densidade populacional elevada da freguesia exige soluções urbanas que promovam proximidade e qualidade de vida, como pequenos jardins, corredores verdes e zonas intergeracionais distribuídas de forma estratégica.
“Temos de arranjar formas de se fazer mais vida de rua, mais vida pedonal em Benfica, não só para os que moram cá, mas para aqueles que queremos atrair, que vêm de fora”, afirma o autarca, ressalvando que “muita desta estratégia pressupõe criar mecanismos para que as pessoas tenham respostas perto das suas casas”.
“Muitas das nossas intervenções foram para pontilhar pelo território pequenos jardins, pequenas zonas intergeracionais que levem as pessoas à rua e criar uma rede que venha deste coração da freguesia comercial” a outros pontos da cidade de Benfica.
Entre as soluções está a instalação de mais de 2,5 quilómetros de pisos confortáveis, pavimentos contínuos e antiderrapantes, para ligar a todos os bairros residenciais, de forma mais confortável e segura. Uma medida que, garante Ricardo Marques, estará totalmente concretizada até ao final do mandato.
Além da parte pedonal, ao mesmo tempo, a Junta de Freguesia viu uma oportunidade de criar os dois maiores atravessamentos verdes da cidade: “os dois a ligar as nossas zonas florestais ao hub intermodal que temos hoje, que é o do Colégio Militar”. Portanto, um dos corredores é mais periférico, tendo como objetivo combater aquilo que era o afastamento de Benfica ao Monsanto: “tentei unir estes dois lados da cidade através deste corredor verde, tornando-se um fator de união de uma freguesia que tem vivido quase a duas velocidades”, justifica o Presidente.

E ao longo deste processo, a autarquia também se preocupou com a criação e dinamização de mais espaços verdes, como jardins e parques: “a própria Junta delimitou e foi negociando com as entidades para conseguir construir estes dois corredores” e fazer com que as diferentes obras, como a construção de uma residência de estudantes, fossem acompanhadas de respetivos espaços verdes, essencialmente informais e com variados equipamentos desportivos e de lazer, como mesas de xadrez, parques de merendas e street workouts.
Mobilidade ciclável com algum atraso

Ainda no âmbito da mobilidade sustentável, continua a operar na Junta de Freguesia de Benfica o “Amarelo”, um projeto promovido pela Câmara Municipal de Lisboa e pela CARRIS, que visa promover a utilização dos transportes públicos, em particular o autocarro, ao mesmo tempo que procura inverter a tendência de utilização do transporte individual. Este sistema de transporte escolar é acompanhado por monitores e visa reduzir significativamente o tráfego nas imediações das escolas. Adicionalmente, e de forma a promover os modos ativos, teve início a fase piloto do projeto “Voltinhas no Bairro”, uma iniciativa que decorreu do Orçamento Participativo Lisboa 2021 “Escolas com Pedalada”, que irá arrancar em pleno no mês de setembro. Este projeto pretende incentivar a deslocação escola-casa em bicicleta e em segurança.
Ainda assim, a ideia de andar de bicicleta ainda não está bem implementada em Benfica e as esperadas ciclovias ainda não avançaram com afinco: “tínhamos previstas cinco ciclovias, agora já só serão quatro, porque estamos a fazer uma experiência com a Câmara da Zona 30 de coexistência à volta do mercado de Benfica. Até foi o que sugeri porque há zonas em Benfica que se agregar uma ciclovia compromete muito o que esperamos” e depois faria com que existisse uma “relutância dos moradores sobre isto”.
Além disso, a construção das ciclovias acabam sempre por prever a ocupação de outros espaços, como é o caso de lugares de estacionamento – um tema controverso da mobilidade na freguesia que tem trazido a opinião popular para dentro das decisões.
Sobre isto poderá ler na segunda parte desta reportagem: “Repensar as ruas de Benfica através da participação ativa”.









































