A sustentabilidade já não é apenas uma escolha ética ou uma tendência, mas sim uma exigência regulatória que está a chegar a todos os setores, até ao tecnológico. E num mundo cada vez mais dominado pela inteligência artificial, as empresas tentam juntar o útil ao agradável, recorrendo a consultoras como a LTPlabs, que, com base em dados reais, as ajudam a tomar decisões mais informadas para alavancarem os seus negócios.
Fundada há 10 anos como uma spin-off da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), a LTPlabs construiu a sua identidade a partir da ponte entre o conhecimento académico e a prática empresarial, apoiando hoje outras empresas a tirar o máximo proveito dos seus dados, seja na otimização de processos, na previsão de necessidades ou na tomada de decisões operacionais.
“Nós ajudamos as empresas a transformar os dados que já recolheram em ações concretas e informadas”, começa por explicar Roberto Oliveira, Head of Growth da consultora, acrescentando que “muitas vezes, os dados estão lá, o que falta é estruturá-los e interpretá-los com o apoio das ferramentas certas”.

Embora a sustentabilidade nem sempre seja o motivo principal pelo qual os clientes procuram a LTPlabs, ela acaba por ser uma consequência natural de muitos dos projetos em que a consultora intervém. Entre os exemplos, Roberto destaca uma colaboração com a Sonae desde 2023 para introduzir IA nas “etiquetas cor-de-rosa” – um sistema que recomenda o desconto ideal para os produtos perto do fim de prazo, que até então era feito por intuição e sem apoio de dados concretos. Este projeto permitiu reduzir até 20% o desperdício da Sonae.
No setor da saúde, esta otimização também pode ser feita no que diz respeito a inventários. Numa parceria com a CUF, a consultora conseguiu ajudar no ajuste de compras de materiais médicos — máscaras, seringas, luvas, pensos (…) —, evitando desperdício e poupando com isso sete milhões de euros entre 2021 e 2023.
Nas telecomunicações isto também é possível – a LTPlabs desenvolveu, entre 2023 e 2024, um algoritmo que ajudou um operador a escolher entre usar baterias ou a rede elétrica, o que representou, desde a sua implementação, uma redução mensal de 7% na conta de eletricidade – um caso de sucesso de eficiência energética.
“O impacto ambiental é muitas vezes uma consequência direta da eficiência operacional. Cada quilómetro que um camião deixa de percorrer representa menos emissões de CO2. Cada tonelada de fruta que não vai para o lixo representa sustentabilidade”, comenta Roberto Oliveira.
Mas a procura por soluções de sustentabilidade está a crescer, garante o próprio, essencialmente impulsionada pelas maiores exigências legais da União Europeia nestas matérias. Outro exemplo dado é um produtor de vinho que contactou a LTPlabs para projetar uma fábrica de engarrafamento com pegada de carbono neutra. A empresa colaborou com especialistas para desenhar o layout mais eficiente, calcular as potenciais emissões e sugerir medidas, como o uso de energia solar, para atingir esse objetivo.
Em termos práticos, os projetos da LTPlabs funcionam com base no histórico de dados reais (os quais podem estar em bruto ou já estruturados) que as empresas vão recolhendo nos seus sistemas, sendo que depois estes dados são extraídos para a cloud, onde passam por algoritmos desenvolvidos especificamente para o problema de cada cliente.
O resultado? Ferramentas que não só ajudam a tomar decisões mais inteligentes, como também se integram no dia a dia da operação. “No caso de uma fábrica, por exemplo, os dados são atualizados diariamente e os algoritmos, mediante cada alteração que surja, ajudam a decidir o que produzir, quando e como”, detalha Roberto.
Assim, os impactos dos projetos são monitorizados com base em métricas que as próprias empresas já utilizam, como volumes de produção, desperdício, consumo de energia, entre outras.
Porém, a atuação da LTPlabs vai além do setor privado, visto que a consultora tem também colaborado com autarquias como a Câmara Municipal do Porto, através do Leme, e a Câmara Municipal de Braga, do Vitral — através do desenvolvimento de plataformas de acesso público que agregam e mostram diferentes indicadores (sociais, económicos, ambientais).
“Partilhar dados com a comunidade é essencial”, defende Roberto, “pois é muito difícil gerir o que não se mede e, quando os dados estão disponíveis publicamente, todos — cidadãos, empresas e governo — podem tomar decisões mais informadas”.
Onde entra a Inteligência Artificial?
Para além dos algoritmos clássicos de machine learning, a LTPlabs já está a recorrer à inteligência artificial generativa em cenários onde os dados não estão estruturados. Um caso prático foi, neste ano, o trabalho com uma cadeia hoteleira, cujas despesas com alimentos e bebidas estavam mal categorizadas. A IA generativa foi usada para classificar automaticamente milhares de entradas, uniformizando a catalogação em todos os hotéis, o que permitiu uma análise posterior do desperdício e da eficiência de compras.
A tecnologia também está a facilitar o acesso aos dados por parte de utilizadores menos técnicos. “Nem toda a gente se sente confortável com dashboards e gráficos. Com IA generativa, as pessoas podem simplesmente conversar com um assistente virtual — como o ChatGPT — e obter respostas sobre os dados”, diz o responsável.
Roberto Oliveira também acredita que a IA, especialmente a generativa, permite personalizar conselhos sustentáveis, ajudando as pessoas a compreender melhor as consequências das suas escolhas com base em critérios como preço ou impacto ambiental.
Desta forma, à medida que as exigências ambientais e regulatórias aumentam, empresas como a LTPlabs mostram-se preparadas para ajudar organizações a transformar a pressão por sustentabilidade em oportunidades de inovação e eficiência.







































