Se o povo é quem mais ordena, parece que em Benfica a emblemática frase serve que nem uma luva. Depois de percebermos como a freguesia tem combinado mobilidade ativa com espaços verdes, vida comercial e vida residencial, fica no ar o papel dos residentes em todas estas decisões.

Trazer mais jardins, parques, passeios, ciclovias e até lugares de estacionamento mexe com a geografia de uma cidade e impacta diretamente na vida de quem aí vive, até mesmo a de quem apenas faz uma visita. Posto isto, Ricardo Marques, Presidente da Junta de Freguesia de Benfica, confirma que a voz dos residentes tem de ser ouvida e posicionada na tomada de decisões.
Sendo esta uma freguesia lisboeta, sabe-se que a pressão populacional e a maior passagem e paragem de automóveis são temas há muito debatidos e criticados na praça pública. E não ficando indiferente a estas questões, a autarquia benfiquense foi até inovadora ao levar a referendo em 2023 a possibilidade de alargamento das zonas de estacionamento tarifado pela EMEL. A população foi soberana no “não” e o Presidente apenas se limitou a respeitar a decisão.
Tendo isto em consideração, há outras decisões que precisam de ser tomadas para se chegar a soluções estruturais que não impactem ainda mais o decorrer normal da vida das pessoas, especialmente quando Benfica é uma zona de atravessamento em Lisboa e, por isso, recebe muitos carros. Uma das medidas passou pela descentralização dos serviços da Junta, e pela criação de espaços verdes e quiosques de atendimento, dentro da lógica da “cidade dos 15 minutos” que Ricardo Marques quer que chegue aos cinco.
Mas nem sempre as decisões finais vão agradar a todos os residentes, é algo que o Presidente esclarece, acrescentando que num potencial próximo mandato quer continuar a trabalhar na linha orientadora que coloca a população com uma participação ativa na vida e no desenvolvimento da freguesia. De qualquer forma, “ficará uma pasta feita com projetos e com visão sobre o território”, garante o autarca.
Os desafios do ordenamento do território
Apesar dos avanços que Benfica está a fazer na mobilidade, nas ruas e na qualidade de vida dos seus residentes, há problemas que demoram mais a resolver e que por vezes parecem não ter fim à vista, como a mencionada falta de lugares de estacionamento.

O Professor João Figueira de Sousa, Docente Associado do Departamento de Geografia e Planeamento Regional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, junta-se a esta conversa enquanto especialista, e começa por congratular as iniciativas da freguesia que tem “este conceito de bairro e com características muito próprias”, e que trabalha a questão da proximidade e do envolvimento dos modos suaves, quer da bicicleta, quer do pedonal.
Perante isto, percebe-se que estas alterações são necessárias, mas as mesmas “levam tempo e têm um impacto muito grande nas pessoas, começando pela redução do espaço para os automóveis”. O que não invalida a igual necessidade de arranjar alternativas para o estacionamento, sobretudo porque em Benfica a maioria dos apartamentos não têm lugares de garagem.
De qualquer forma, o docente defende que o residente, nestas decisões, tem de ser priorizado.
A oferta dos transportes públicos é também trazida para cima da mesa: “embora já tenhamos alguns corredores com uma grande frequência de transporte público, denoto que, como afirma o Presidente da Junta, muita coisa tem de ser feita com o apoio da Câmara Municipal, pois isto requer investimentos muito elevados”.
“Eu fiquei muito agradado, quando tivemos há dias aqui um seminário sobre mobilidade, por ver como a estratégia da Junta é muito clara e que se fala com conhecimento de causa”. “E depois, fazendo, implementando, e de facto, haver o trabalho feito”, comenta ainda João Figueira de Sousa.
Assim “a questão é mais ampla do que a mobilidade, tem a ver com a qualidade do espaço público”. “Portanto, no fundo, o espaço verde está aqui incluído, mas também um piso de qualidade, um passeio maior, bancos para a pessoa poder descansar, ou seja, toda a qualidade do espaço público é fundamental para isto e passa por haver um compromisso entre vias para carros e espaço para o pedonal, para as bicicletas e para os autocarros”.
“Ao termos mais transporte público, precisamos de menos espaço para vias de circulação e podemos devolver esse espaço às pessoas e às cidades, mas para ser espaço de lazer, de estar e de convivência, juntamente com os espaços verdes, através de uma requalificação”, remata o professor.
Ler aqui a 1.ª parte desta reportagem:
Benfica: O papel da mobilidade suave e dos corredores verdes na dinamização da freguesia








































