A sustentabilidade e o turismo estiveram em debate na 3.ª edição da Conferência Smart and Green Tourism, uma iniciativa da Ambitur e da Ambiente Magazine, em parceria com a Fundação AIP, que teve lugar no dia 1 de março, no âmbito da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL).
No primeiro painel desta conferência, dedicado ao tema “E-Hotelaria no caminho da sustentabilidade”, o moderador, Gonçalo Rebelo de Almeida, consultor em hotelaria e turismo, esteve à conversa com quatro convidados que falaram da sua experiência no que diz respeito à questão da sustentabilidade no setor hoteleiro. Elisabete Félix, diretora do Departamento de Dinamização Empresarial do Turismo de Portugal, foi uma destas oradoras, e fez questão de trazer para a mesa de debate o Programa Empresas Turismo 360º, um projeto lançado em 2022 cujo objetivo é colocar as empresas da indústria turística a “falarem a mesma linguagem em matéria de sustentabilidade” e, claro, a reportarem anualmente o seu relatório de sustentabilidade.
A missão passa por incentivar as empresas a reportarem o seu desempenho nesta área através da incorporação dos critérios ESG (Environmental, Social and Governance) na sua estratégia corporativa. E, para que isto fosse possível, o Turismo de Portugal criou um framework com informação estandardizada que fosse aplicável a todo o setor e sistematizasse, de uma forma clara, um conjunto de indicadores para avaliar as práticas ambientais, sociais e de governação de cada empresa.
Elisabete Félix explicou que estes indicadores estão associados a 22 temas críticos para o negócio turístico. E, com a ajuda de uma ferramenta tecnológica – a Forest (Ferramenta Organizacional de Reporte de Sustentabilidade no Turismo) – as empresas podem monitorizar e medir estes indicadores que traduzem o seu desempenho em ESG e assim obterem, de forma automática, o seu relatório de sustentabilidade, “um relatório adaptado ao setor do turismo e que está alinhado com os standards globais de sustentabilidade”, detalhou.
ao fazer o registo na Forest, a empresa obtém, um questionário ESG e três ferramentas: uma ferramenta que analisa a pressão sobre a biodiversidade, outra que analisa os riscos físicos associados à localização da infraestrutura e uma última que calcula os gases de efeito estufa.
De uma forma mais concreta, ao fazer o registo na Forest, a empresa obtém, se for aplicável (consoante os dados que introduz), um questionário ESG e três ferramentas: uma ferramenta que analisa a pressão sobre a biodiversidade, outra que analisa os riscos físicos associados à localização da infraestrutura e uma última que calcula os gases de efeito estufa.
mais do que uma “ferramenta essencial para obter um relatório de sustentabilidade anual, esta ferramenta pode ser utilizada pelas empresas como uma ferramenta de gestão”
A representante do Turismo de Portugal não tem dúvidas de que, mais do que uma “ferramenta essencial para obter um relatório de sustentabilidade anual, esta ferramenta pode ser utilizada pelas empresas como uma ferramenta de gestão”. Ou seja, as empresas, ao analisarem os dados apurados, em função das informações que introduzirem, “ficarão melhor informadas para poderem implementar medidas de eficiência em relação aos recursos utilizados”, além de “poder aceder a capital mais barato, mitigar riscos, reter talento e aceder a novos clientes”, sublinha a oradora.
“a adoção de práticas ambientais, sociais e de governação, e o respetivo reporte, permitem que a empresa seja reconhecida pela sua notoriedade e pela forma transparente como publica os seus dados”
Elisabete Félix lembra que, cada vez mais, os turistas e os mercados estão interessados em produtos e serviços sustentáveis e, neste sentido, “a adoção de práticas ambientais, sociais e de governação, e o respetivo reporte, permitem que a empresa seja reconhecida pela sua notoriedade e pela forma transparente como publica os seus dados”. Consequentemente, frisa a responsável, isso leva a “um incremento na procura e um aumento do volume de negócios”.
Mas aquilo que o Programa Empresas Turismo 360º verdadeiramente procura, mais do que as questões regulatórias no contexto do reporte, é que as empresas reconheçam que o valor que podem criar não resulta apenas do lucro, mas também do impacto que geram a nível social. “Esse impacto social traduz-se em benefícios positivos para os seus negócios, porque vão conseguir demonstrar as preocupações com a proteção do ambiente, o envolvimento com a comunidade, o respeito pelos direitos humanos e a implementação de políticas de ética, qualidade e transparência, que refletem a qualidade da gestão”, resume a diretora do Departamento de Dinamização Empresarial do Turismo de Portugal.
“estamos a trabalhar no sentido de identificar que parcerias são relevantes para passarmos conhecimento e termos as melhores práticas a nível de reporte”
Elisabete Félix afirma que, neste caminho que o Programa Empresas Turismo 360º tem vindo a fazer, “as parcerias são importantíssimas”. O projeto arrancou com um conjunto alargado de parcerias que envolvem entidades como a CTP, 12 instituições de crédito, a PwC, a Ordem dos Contabilidades, a Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, o Banco Português de Fomento ou a Euronext. Mas adianta que não se ficam por aqui e que “estamos a trabalhar no sentido de identificar que parcerias são relevantes para passarmos conhecimento e termos as melhores práticas a nível de reporte”. Quanto à participação das empresas, os destinatários do programa, não tem dúvidas de que é fundamental conhecer o seu feedback. “Nós ajudamos a sistematizar a informação, a tentar evitar o greenwashing, mas é muito importante que este projeto cresça e que haja esta partilha de informação”, defende Elisabete Félix.
As iniciativas do Programa Empresas Turismo 360º
Para chegar às empresas e aumentar as vantagens da sua adesão, o Programa Empresas Turismo 360º tem desenvolvido um conjunto de iniciativas. Começando pela formação online em gestão ESG, onde uma equipa das escolas de hotelaria e turismo já deu, desde abril de 2022, 36 ações a mais de 1600 participantes. Além disso, aposta em workshops e webinares temáticos.
Por outro lado, tem o reconhecimento público anual das empresas aderentes, onde são atribuídos dois selos: o selo “sustainability commited” para quem está comprometido com a jornada da sustentabilidade e assume fazer o processo de reporte no prazo máximo de dois anos; e o “sustainability engaged” para quem já reporta na ferramenta Forest.
será lançada, em parceria com o Banco Português de Fomento, uma nova linha direcionada para despesas em matéria de sustentabilidade, com um prémio de desempenho através do qual uma parte do crédito será perdoada em função dos níveis de desempenho da empresa
Por fim, a oradora dá conta de que também a questão do apoio às empresas através de linhas de financiamento é fundamental. E afirma que será lançada, em parceria com o Banco Português de Fomento, uma nova linha direcionada para despesas em matéria de sustentabilidade, com um prémio de desempenho através do qual uma parte do crédito será perdoada em função dos níveis de desempenho da empresa. Esta linha só estará acessível às empresas que tenham aderido ao programa. O Turismo de Portugal também já está a trabalhar no sentido de dar acesso aos bancos, no caso de as empresas autorizarem, aos indicadores de sustentabilidade das empresas, para estes os considerarem na sua análise de risco. Por isso, lembra, “é importante que as empresas estejam preparadas e que comecem já”.
Elisabete Félix aponta ainda outra novidade, o desenvolvimento de uma rede de observatórios de turismo sustentável, numa parceria entre o Turismo de Portugal, as entidades regionais de turismo e a academia. O objetivo é “monitorizar a sustentabilidade em todo o território nacional”, o que permitirá um conhecimento aprofundado dos impactos da atividade turística mas também “uma maior eficiência no planeamento dos diferentes destinos turísticos”, complementa.
Por Inês Gromicho. Fotos @Raquel Wise