Os tempos estão a mudar e a exigir aos diferentes setores, incluindo as Águas, adaptações cada vez mais rápidas. Com este trabalho, a Ambiente Magazine quer perceber como as tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, podem impactar o setor e digitalizá-lo com mais eficiência.
IA (inteligência artificial) corre o risco de vir a ser palavra mais ouvida/procurada em 2025. Parece que já não há um dia em que não apareça nos nossos ecrãs e isso pode levantar diversas questões sobre a sua utilização e aplicação a diferentes setores – incluindo as Águas, um setor que urge em modernizar-se, tornando-se cada vez mais inovador e digitalizado.
Mas será que as empresas do setor estão preparadas para usar esta ferramenta? Sentem que serão potenciadas pela mesma? O consumidor final poderá tirar também partido de uma maior digitalização dos serviços?
São estas questões que a Ambiente Magazine faz a alguns players do setor, como é o caso da Acciona, empresa para qual “a inovação desempenha um papel fundamental na melhoria da eficiência, sustentabilidade e digitalização dos seus processos”.

“A aposta em I+D+i permite desenvolver tecnologias avançadas para o tratamento e gestão da água, abordando desafios como a escassez da água, a redução do consumo energético e a otimização das infraestruturas”, começa por explicar Emanuel Correia, Managing Director da Acciona Agua. “A divisão da água da Acciona conta com os seus próprios centros de I+D+i e participa em projetos internacionais para desenvolver soluções de vanguarda na gestão da água”.
Resumidamente, o compromisso da empresa com a inovação “não só melhora a eficiência operacional, como também contribui para uma utilização mais sustentável dos recursos hídricos”.
E que serviços oferece a Acciona neste setor? “Utilizamos diferentes tecnologias para monitorizar em tempo real, otimizar o uso da água e melhorar a eficiência operacional das nossas instalações. Estas ferramentas permitem-nos prevenir problemas, reduzir custos e melhorar a manutenção das infraestruturas”. Além disso, “estamos a implementar tecnologias para a deteção de fudas, o que reduz as perdas”.
Neste momento, a empresa usa a inteligência artificial, big data e gémeos digitais para melhorar a operação e manutenção das estações de tratamento de água, e ainda promove o desenvolvimento de sistemas avançados de osmose inversa e de recuperação de energia para reduzir o impacto ambiental.
A inovação continua com a aposta na economia circular, através da reutilização de águas residuais, recuperação de recursos e produção de energia a partir de resíduos em estações de tratamento, e com o uso de energias renováveis nas ETAR e de novas tecnologias de tratamento, como os processos biológicos avançados e o tratamento através de membranas.
Desta forma, para a Acciona “a digitalização será fundamental para o avanço dos nossos objetivos de sustentabilidade, permitindo-nos implementar soluções inovadoras que reduzam o impacto ambiental e otimizem a utilização dos recursos hídricos”. Emanuel Correia acrescenta ainda que a empresa continuará a adotar e a desenvolver tecnologias que contribuam para uma “gestão responsável da água”.
Neste momento, a Acciona utiliza diferentes ferramentas que considera indispensáveis, como SCADAs para monitorizar e controlar as infraestruturas em tempo real; sensores IoT e Telemetering que medem o consumo, a qualidade e detetam fugas; IA e Big Data para prever a procura e otimizar os recursos; Digital Twins e GIS para gerir as redes de água.
O Digital Hub da empresa foi criado com objetivo de desenvolver soluções digitais “in house” próprias para o setor da água: “antecipamos e exploramos tecnologias inovadoras que podem ser aplicadas à nossa área de negócio, gerando impacto e vantagem competitiva”, afirma o responsável.
E no que diz respeito a desafios, nesta temática, o setor enfrenta, na opinião do Managing Director, dois: “em primeiro lugar, a concretização do paradigma da economia circular e da descarbonização. Embora se tenham registado progressos no desenvolvimento de diferentes processos de recuperação de recursos (nutrientes e energia nas águas residuais, produtos de elevado valor no concentrado das instalações de dessalinização, etc), a limitação continua a residir no desenvolvimento de modelos de negócio que permitam a incorporação real dos produtos recuperados nos processos de produção subsequentes”. “O segundo desafio é assegurar que a digitalização desenvolva todo o seu potencial no setor. Com a utilização de ferramentas digitais, será possível abordar a eficiência e a sustentabilidade do ciclo da água de uma forma mais proativa”.
No que concerne à IA, em particular, Emanuel Correia considera que a sua integração “é um passo natural na digitalização, o que potenciará o seu desenvolvimento e acelerará os resultados obtidos”.
Em relação a apoios financeiros públicos como potenciadores da inovação setorial, “a Acciona vê com bons olhos”, visto que “estas ajudas financeiras promoveriam o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, a digitalização, a inteligência artificial e a resiliência das infraestruturas para fazer face às alterações climáticas”. “Permitira, igualmente, que as empresas e startups colaborassem em soluções avançadas de forma conjunta, aumentando a competitividade e a sustentabilidade. Uma vez que o investimento em I+D+i tem um retorno a longo prazo, o apoio público ajudaria a reduzir os riscos e a promover um impacto positivo na sociedade e no ambiente”, esclarece Emanuel Correia.

E para a EMAS de Beja a aposta na inovação e digitalização dos seus processos também já é uma realidade diária. O engenheiro Miguel Casadinho, coordenador do GADTD – Gabinete de Análise de Dados e Transição Digital da entidade, dá conta que a mesma tem implementado dispositivos de telegestão e telemetria que permitem monitorizar, em tempo real, o consumo de água em diferentes pontos da rede de abastecimento. Estes equipamentos, baseados em tecnologias de comunicação como LoRaWAN, NB-IoT e CAT-M1 transmitem dados de forma contínua para um sistema central, onde são armazenados e analisados.
“Esta abordagem permite não só uma maior eficiência na deteção de fugas e anomalias no consumo, como também uma gestão mais proativa da infraestrutura”, esclarece o engenheiro, acrescentando que “a capacidade de recolher e analisar dados em tempo real possibilita uma resposta mais rápida a eventuais problemas, reduzindo desperdícios e garantindo um serviço mais fiável aos consumidores”.
Além disso, a EMAS de Beja está a investir no desenvolvimento de sistemas preditivos baseados em inteligência artificial, de forma a antecipar padrões de consumo, otimizar as redes de distribuição de água e orientar a renovação dos ativos, “garantindo uma gestão mais eficiente, resiliente e sustentável da infraestrutura”.
Considerando que “a transição digital é, hoje, uma necessidade inadiável para as empresas de abastecimento de água”, Miguel Casadinho garante que a entidade municipal tem “assumido um papel ativo nesta mudança, investindo em inovação”.
Posto isto, “o futuro passa pelo reforço das infraestruturas digitais, pela utilização da inteligência artificial para otimização de processos e pela criação de plataformas interativas que permitam aos consumidores acompanhar, em tempo real, o seu consumo de água”.
A empresa pretende ainda “expandir o uso de sensores inteligentes para monitorização da qualidade da água em toda a rede de abastecimento, garantindo um controlo ainda mais rigoroso dos parâmetros essenciais à saúde pública”.
Para Miguel Casadinho, “a digitalização e a inovação não são apenas ferramentas para aumentar a eficiência operacional, mas também instrumentos para melhorar a experiência do consumidor, garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos e enfrentar os desafios ambientais com soluções inteligentes”.
“A EMAS de Beja está comprometida com este caminho de modernização, assegurando que a água – um bem essencial à vida – seja gerida com responsabilidade, inteligência e inovação”.
Contudo, não deixam de existir desafios significativos para o setor, como a capacitação de técnicos e operadores no uso de novas ferramentas digitais. Miguel Casadinho ainda reforça que “outro desafio crítico prende-se com a cibersegurança e a proteção de dados”. “A informação recolhida pelos sensores inteligentes é sensível, tornando imprescindível a implementação de protocolos rigorosos de encriptação e controlo de acesso”, enfatiza o responsável, dizendo ainda que são medidas necessárias para “reforçar a confiança dos consumidores”.
Por fim, “a sustentabilidade é também um eixo estratégico central”, pois “a redução do desperdício de água exige a implementação de estratégias eficazes, incluindo campanhas de sensibilização para um consumo mais eficiente e a adoção de soluções tecnológicas avançadas na gestão dos recursos hídricos”. Paralelamente, “a reutilização de águas residuais tratadas deverá ser ampliada nos próximos anos, promovendo uma economia circular e reforçando a resiliência face à escassez hídrica”, completa o engenheiro da EMAS de Beja.
É essencial “disponibilizar informação especializada de forma ágil, intuitiva e personalizada”
Esta é um dos princípios que defende a Selectra, empresa de consultoria especializada na comparação de tarifas, tanto de água como de energia. Hugo Agostinho, Head of Operations da Selectra Portugal, garante que o compromisso “é inovar continuamente com único objetivo de encontrar novas e melhores formas de responder às necessidades dos clientes”. “Para nós, inovação significa tanto melhorar os meios de contacto com o cliente, como garantir a máxima qualidade no serviço prestado”.

“Acreditamos que este é o ponto de partida para oferecer uma proposta de valor diferenciada ao cliente, garantindo-lhe eficiência, transparência e, acima de tudo, poupança”, frisa o responsável.
Desta forma, a Selectra oferece vários serviços como um call center especializado, com uma equipa de especialistas que aconselha cada cliente na escolha da melhor tarifa, tendo em conta o seu perfil de consumo; um comparador online, que facilita a tomada de decisão; e uma análise detalhada de faturas gratuita, onde são identificadas oportunidades de poupança para particulares e empresas.
E é com isto que a empresa também identifica diversos desafios à inovação do setor da água. Hugo Agostinho começa por falar dos processos obsoletos, visto que “muitos fornecedores ainda mantêm procedimentos desatualizados e pouco digitalizados, tornando a contratação mais lenta e burocrática”. Outro problema, sem dúvida, é a falta de digitalização, sendo que “em vários casos, os clientes não têm a possibilidade de tratar da adesão a serviços online, sendo obrigados a deslocar-se fisicamente aos balcões de atendimento”.
As discrepâncias regionais são também mencionadas: “muitas das entidades responsáveis pela gestão de água são câmaras municipais ou empresas municipais, que nem sempre dispõe da especialização e dos meios necessários para proporcionar um atendimento eficiente”. “Adicionalmente, as diferenças regionais na acessibilidade ao abastecimento dificultam a implementação de tecnologias inovadoras, exigindo estratégias adaptadas a cada realidade local”.
Não podendo deixar de ser mencionado, está o excesso de burocracia. Hugo Agostinho frisa que “a documentação exigida não está uniformizada entre municípios, tornando os processos de contratação, alterações contratuais, comunicação de leituras e reporte de avarias mais complexos e morosos”.
Posto isto, “a digitalização é um fator essencial para tornar os serviços mais acessíveis, ágeis e eficientes”. No setor da água, particularmente, a transformação digital “pode reduzir significativamente a burocracia, acelerar processos administrativos e facilitar a comunicação entre fornecedores e clientes”.
Além disso, a digitalização “melhora a experiência do consumidor, permitindo-lhe aceder a informações de forma mais intuitiva, comunicar leituras, reportar avarias e realizar gestões contratuais de maneira simples e rápida”.
O porta-voz da Selectra Portugal acrescenta ainda que, “do ponto de vista ambiental, a transformação digital do setor tem um papel fundamental na gestão eficiente e sustentável” dos recursos hídricos, visto que a aplicação de ferramentas tecnológicas inovadoras torna possível, por exemplo, a monitorização em tempo real dos sistemas de abastecimento e saneamento – “isto traz vantagens como a rápida deteção de consumos anómalos, fruto de eventuais perdas ou fugas de água”.
Do lado do consumidor, digitalizar o setor da água torna possível que o mesmo “acompanhe e ajuste o seu próprio consumo, promovendo hábitos mais responsáveis e conscientes”.
Para concluir, no que respeita à integração de IA no setor, a Selectra considera existir “um enorme potencial para transformar” o mesmo – através de um atendimento automatizado, com chatbots e assistentes virtuais; da análise preditiva de consumo, de forma a identificar padrões de utilização e sugerir formas de poupança ao cliente; e da monitorização e deteção de fugas, posto que os algoritmos de machine learning podem ajudar a fazer esta identificação e permitir uma intervenção mais rápida e eficiente.
De um modo geral, a inovação tecnológica não só melhora a experiência do consumidor, tornando-a mais conveniente e eficiente, como também contribui para a sustentabilidade do setor. A otimização da gestão dos recursos hídricos e a maior transparência nos serviços prestados refletem-se numa utilização mais responsável da água, beneficiando tanto os consumidores como o meio ambiente”, completa Hugo Agostinho.









































