Por Filipa Oliveira, Sandrina Tralhão e Vanessa Biel, LEAP Consulting
“Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão
habitação
saúde, educação”, Liberdade, Sérgio Godinho
Falar de saúde, ao contrário do que estamos habituados, não é só falar de hospitais, médicos, serviços de urgência. Falar de saúde é, essencialmente, falar sobre o que antecipa tudo isto.
E o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 vem tentar garantir a resposta a esta necessidade, apelando a uma vida saudável e à promoção do bem-estar para todos, em todas as idades. Para o cumprimento deste ODS, embora o sistema de saúde público seja essencial, as empresas também têm um papel de destaque nesta missão, seja pelo impacto que têm na vida dos seus colaboradores, seja pela influência que exercem na sociedade e no ambiente onde atuam.
Mais saúde para as pessoas
Mas o que é, então, Saúde? Segundo a OMS, saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de doença”. De forma particular, saúde mental «o estado de bem-estar no qual o indivíduo tem consciência das suas capacidades, pode lidar com o stress habitual do dia-a-dia, trabalhar de forma produtiva e frutífera, e é capaz de contribuir para a comunidade em que se insere».
Em Portugal, enfrentamos desafios reais em matéria de Saúde, nomeadamente o crescente número de doentes crónicos, o crescente número de doentes do foro mental, a séria dificuldade de acesso a cuidados de saúde públicos, nomeadamente largos tempos de espera para consultas, intervenções cirúrgicas, meios complementares de diagnóstico e tratamentos, e as desigualdades no acesso ao SNS. Importa relembrar que estes desafios foram agudizados por uma pandemia que fraturou a saúde de grande parte da população e calcificou a espera para as respectivas intervenções.
Por sua vez, contamos com uma realidade laboral que em nada ajuda a anterior. Porquê? Porque, nas gerações atuais, homens e mulheres trabalham. Um número de horas que excede, demasiadas vezes, o razoável. Sob uma pressão para alcançar objetivos, mais ou menos, megalómanos. Obrigando a um esforço hercúleo. A uma disponibilidade cabal. (Tantas vezes sem o devido reconhecimento). A qual tem de ser, por sua vez, conjugada com uma vida familiar de horários, rotinas e resposta a necessidades múltiplas, aos diversos elementos. Com as responsabilidades cívicas quotidianas. E com uma vida pessoal que pretende a proteção da saúde e do bem estar, para os quais, em bom rigor, raramente sobra tempo.
E a vivência continuada destas realidades vai, inevitavelmente, comprometendo a saúde física e mental. Lembramos, porém, que a saúde mental ainda é, em muitos contextos, um tema tabu, o que agrava a dificuldade de pedir ajuda e compromete o acesso a uma intervenção adequada. E atempada. Não obstante, milhares de portugueses enfrentam diariamente problemas de saúde mental, tais como depressão, ansiedade, ataques de pânico, burnout. Entre outros. Os números não mentem; cerca de 22,7 % da população portuguesa entre os 18 e os 64 anos recorre a medicação dirigida à doença mental; a acrescer, Portugal está entre os países da OCDE com maior consumo de antidepressivos e ansiolíticos.
Mais saúde nas empresas
Importa salientar que saúde e bem-estar não são apenas obrigações éticas ou sociais. São também boas decisões empresariais.
Porquê? A nível interno, colaboradores saudáveis assumem menor risco de absentismo e de turnover, assumem maior compromisso e motivação, melhoram o clima organizacional e revelam maior índice de produtividade. A nível externo, empresas que cuidam assumem boa reputação, atraem talento, fidelizam clientes, ganham vantagem competitiva e, consequentemente, destacam-se no mercado.
E é, também, por tudo isto, que cabe às empresas cuidar das suas Pessoas. Valorizando-as como O capital da empresa. Porque sem Pessoas não há empresa.
Assim, questionamo-nos. E se cuidar da saúde começasse nas decisões empresariais?
Mais saúde no local de trabalho
Passamos a maior parte do nosso tempo em ambiente laboral, por isso, este só pode ser passado com qualidade. As empresas podem e devem, então, ser espaços seguros, agentes promotores de saúde, satisfação e bem-estar.
Primeiramente, há que formar lideranças em inteligência emocional e gestão de equipas, para que sejam empáticas. Reconheçam sinais de alerta, a partir do desempenho regular dos colaboradores. Assumam disponibilidade para adequar, individualmente, o desempenho de funções (trabalho remoto, flexibilidade horária e do plano anual de férias, entre outros). Promovam conversas abertas sobre saúde mental. Garantam que ninguém é julgado por pedir ajuda. Para que as relações interpessoais saudáveis sejam assunto na ordem do dia da empresa.
Depois, as empresas deverão criar de políticas de prevenção de riscos psicossociais, como o burnout, a ansiedade ou o assédio; incentivar a práticas de vida saudável como pausas ativas, alimentação equilibrada, mindfulness ou desporto; oferecer rastreios, check-ups, seguros de saúde e apoio psicológico; promover de horários equilibrados, que respeitem o descanso, a vida pessoal e familiar. Entre tantos!
Mais saúde, também, fora da empresa
As Empresas também podem atuar na promoção do acesso à saúde entre os seus stakeholders externos e comunidade envolvente. Como? Apoiando iniciativas locais de saúde pública, como combate à obesidade infantil; doando medicamentos ou equipamentos a centros de saúde; distribuindo cabazes alimentares ou produtos de higiene a famílias em situação de pobreza; criando programas de integração profissional para pessoas com problemas de saúde mental ou física; apoiando start-ups ou projetos inovadores de impacto social na área da saúde.
Sempre que em parceria, estes movimentos ganham escala e impacto real.
Promover bem-estar é bom para o negócio
As empresas que escolhem agir pelo ODS3 estão a assumir uma valiosa missão: Criar um mundo onde todos possam viver com Saúde. Em plenitude. Talvez este deva ser o momento em que relembramos – um colaborador saudável faz uma empresa feliz. E move o mundo, num sentido melhor.
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Opinião: Imagine Portugal sem Fome – O Papel das Empresas | ODS 2









































