Por Filipa Oliveira, Sandrina Tralhão e Vanessa Biel, LEAP Consulting
“Esta água que é vida / E todos os males cura / Não deve ser poluída / Tem de se manter pura” (José Couto)
A água é um recurso finito e vital. Esta afirmação, verdade inequívoca e conhecida por todos, continua, porém, a ser valorizada, apenas, no abstrato. Porque, na prática, a água é, a cada dia, profundamente ameaçada pelo comportamento humano. Em vez de protegida.
Na tentativa de responder a esta urgência, nasce o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, da Agenda 2030 das Nações Unidas. O ODS 6 pretende, então, “Garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos”.
Porquê? Porque, se para a maioria de nós, abrir uma torneira e sair água potável é tão natural como a sede, em bom rigor, esta não é uma verdade universal. E poderá, como o passar do tempo, não ser uma verdade absoluta.
Se nos abrange, todos somos parte integrante. Do problema. E da solução. Assim, não obstante de se constituir enquanto compromisso coletivo, “Garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos” depende também, e em bom rigor e medida, da ação do setor privado.
ODS 6 e empresas. Que responsabilidade? Que atuação?
Embora, tradicionalmente, água potável e saneamento público se encontrem associados a políticas públicas e infraestruturas governamentais, a responsabilidade passa, também, pelas práticas empresariais. Seja pelo consumo direto, seja pelas cadeias de valor que integram ou, ainda, pelo impacto hídrico que assumem nas comunidades onde operam.
As indústrias que dependem fortemente de água, enfrentam hoje sérios riscos como escassez de recursos hídricos, regulamentação do uso dos mesmos, o que encarece as operações, conflitos com as comunidades locais e coimas e reputação afetada, em caso de assunção de comportamentos insustentáveis.
Mas, e se tais riscos forem transformados em oportunidades estratégicas? Quais? Todas as abrangidas pelo chapéu Inovar, Poupar, Mitigar Impactos e gerar Valor Ambiental e Social.
Passando ao detalhe. As empresas têm de, a curto prazo, optar por práticas e comportamentos que promovam a redução do consumo de água. Como?
Monitorando e gerindo o consumo, por exemplo através da adoção de metas de redução de consumo, instalação de medidores de água e auditorias regulares.
Adotando a manutenção preventiva, a qual vai garantir a manutenção ótima dos equipamentos em uso no sentido de perdas zero, mas, também, a respetiva modernização quando se impõe um consumo ECO.
Tratando a água, de forma a impedir a contaminação dos recursos hídricos.
Reaproveitando a água, seja pela implementação de sistemas internos, seja pelo tratamento de efluentes, o que obriga ao desenvolvimento de uma infraestrutura que responda a estes objetivos.
Otimizando os processos industriais, recorrendo, por exemplo, a técnicas a seco ou adotando a recirculação de água em sistemas de refrigeração ou limpeza.
Formando colaboradores, fornecedores e clientes para o consumo consciente e para a implementação de melhores práticas.
Implementando certificações que garantem as boas práticas do uso responsável da água, como a ISO 14046, ISO 14001, LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), entre outros.
Mas os horizontes não podem terminar nos portões da empresa. A atuação das empresas pode ainda contemplar práticas de conservação de zonas húmidas, bacias hidrográficas e nascentes. E apoio ao acesso a água segura e a saneamento, em comunidades mais vulneráveis.
Sustentabilidade não é um anexo. É estratégia empresarial.
Empresas que integram a gestão sustentável da água nos seus processos não minimizam, apenas, impacto. Minimizam riscos. Reforçam a reputação. Firmam confiança perante stakeholders. Investem na resiliência e na solidez do seu modelo de negócio. Garantem que as gerações vindouras continuam a ter acesso a água potável. E, consequentemente, à vida.
A água não pode continuar a ser tratada como um recurso inesgotável. Porque não o é! O ODS 6 é um apelo à ação das empresas. E o tempo de agir é agora.
As empresas têm de refletir sobre qual o impacto das suas operações e atividades na água. E quem não o fez, já vai atrasado.
A sustentabilidade é um caminho coletivo e conjunto. O futuro, mais do que nunca, depende das escolhas que fazemos hoje.
Sejamos, todos, parte da solução!
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Opinião: Igualdade de Género – Um futuro mais justo e inclusivo | O Papel das Empresas no ODS 5







































