Por Rui Silva Santos, diretor técnico e gerente da RSS – Redes e Sistemas de Saneamento*
Há quem diga (loucos…) que dá jeito para resolver problemas – lá está… – hidráulicos.
Nos dias de hoje, quando se fala em gestão de perdas de água nos sistemas de distribuição, quase só se ouvem referências a altas tecnologias, logo à cabeça a IA (muitas das vezes apenas servindo de capa propagandística), passando por contadores brilhantemente inteligentes ou por detecção de fugas por satélite, numa vertigem de moda tecnológica.
Nada contra a tecnologia, muito pelo contrário, a questão aqui é de timing e enquadramento, já que, desde a invenção da roda até ao carro teleguiado em Marte, existe um conjunto de passos a dar – e não um salto quântico que não conduz, forçosamente, a bons resultados.
Em termos gerais, as relações entre os que, na minha opinião, são os princípios básicos da gestão de perdas, estão sintetizadas na Figura 1.
Uma questão desde logo se levanta: “Mas ainda falta o princípio n.º 1…”. É verdade – é que o real ponto de partida (que não é técnico), é a vontade política (ver Figura 2).
Sendo prerrogativa de decisores, sem um apoio técnico assertivo e eficaz, mostrando e demonstrando as vantagens de uma gestão eficiente nos vários domínios – ambiental, financeiro, social, até eleitoral… –, dificilmente se conseguirá avançar.
Neste ponto rogo aos técnicos para que não desistam perante o clássico “não há dinheiro”. Na verdade, há, pois não só se trata de definir correctamente as prioridades, como existem diversas origens de receita e financiamento.
A primeira é desde logo a redução de perdas, uma fonte interna e imediata para reinvestir nos sistemas, pondo a Hidráulica “em campo” – mas já lá vamos.
Por outro lado, existem os Fundos Europeus, que deveriam ser vistos não apenas em termos de taxas de execução, mas também da adequabilidade dos seus usos; a possibilidade de se constituírem parcerias público-privadas, designadamente em verdadeiros contratos de eficiência hídrica, com perspectivas não só de curto, como de longo prazo; contratos-programa com os Governos Central ou Regionais; e ainda o aumento das tarifas, já que sendo a água barata, não só é desvalorizada pelo Cliente, como conduz à insustentabilidade das EG para renovação dos seus activos.
Para além de tudo isto, sublinho que uma boa gestão é lucrativa, com um retorno do investimento em poucos anos. E é aqui que entra a Hidráulica, a ciência velhinha e talvez pouco “sexy” em comparação com a top-model IA e, por isso, muitas vezes atirada para o Velhão.
Assim, não se poderá nunca saltar um aspecto decisivo com vista tanto a um melhor serviço à população, como à sustentabilidade económico-financeira e ambiental, que é o de, recorrendo à dita anciã, desenvolver e implantar um Projecto de Optimização Hidráulica e Energética do Sistema.
Neste último, define-se um (novo e) correcto funcionamento hidráulico, nomeadamente corrigindo ineficiências existentes, reorganizando áreas de influência e patamares energéticos aproximando os níveis de pressão às reais necessidades do Sistema, priorizando condutas a substituir ou novas a instalar, escolhendo locais e características de válvulas de controlo, definindo o zonamento e criando condições para uma efectiva monitorização e controlo.
Note-se que, desta forma, uma das maiores “bandeiras”, a redução de perdas de água, atinge valores de 30 a 70% do volume, como se tem verificado em diversas EG.
Concluindo, recordo apenas a simples definição wikipediana de Hidráulica: “Componente da Física que se dedica a estudar o comportamento dos fluidos em movimento e em repouso”. Acrescento eu: há quem diga (loucos…) que dá jeito para resolver problemas – lá está… – hidráulicos.
(O autor não escreve, por opção, de acordo com a Novilíngua, vulgo AO90). O artigo foi publicado na edição 110 da Ambiente Magazine.











































